Em decisão muito criticada, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou nesta segunda-feira (28/10) todas as condenações impostas ao ex-ministro José Dirceu no âmbito da operação Lava Jato. A determinação foi feita pelo ministro Gilmar Mendes, que atendeu a um pedido da defesa de Dirceu. As condenações, anteriormente confirmadas por instâncias superiores, foram invalidadas devido à suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o qual, segundo o STF, agiu com falta de imparcialidade.
A decisão se baseia em uma avaliação do STF, que já havia declarado Moro suspeito em casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Mendes, o mesmo viés que afetou Lula teria impedido que José Dirceu tivesse um julgamento justo. O ex-ministro havia sido condenado em dois processos que o associavam a crimes de corrupção e lavagem de dinheiro ligados à Petrobras, com penas que somavam 34 anos de prisão.
Com a anulação, Dirceu recupera seus direitos políticos e deixa de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que até então o impedia de concorrer a cargos públicos. Além disso, a decisão foi encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde o petista aguardava o julgamento de dois recursos.
Inimigo das Igrejas Evangélicas
Agora livre, o canhão de José Dirceu pode se virar contra as igrejas evangélicas, segmento que já foi alvo de críticas recentes do petista.
Em janeiro deste ano, José Dirceu, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), fez duras críticas à crescente influência das igrejas evangélicas na sociedade brasileira. Durante uma entrevista ao podcast Pod13, promovido pelo PT da Bahia, o ex-ministro apontou o avanço das igrejas neopentecostais e o que chamou de “fundamentalismo religioso” como responsáveis por mudanças culturais e sociais que, segundo ele, impactaram negativamente a esquerda no país.
“A força dos partidos de direita e o avanço do neopentecostalismo provocaram uma grande mudança social e cultural. E nós, da esquerda, recuamos”, declarou Dirceu. Ele ainda lamentou a “violência e chantagem” que, segundo ele, certos setores evangélicos teriam imposto ao debate público.
Essas críticas não são novas. Já em 2012, o ex-ministro havia se pronunciado contra o que considerava ser a interferência de igrejas evangélicas na política nacional. Na época, ele afirmou que esses grupos buscavam “interditar o debate” em torno de temas fundamentais para o país, o que ele considera uma ameaça ao progresso da esquerda brasileira.