Uma igreja dividida: crise na Assembleia de Deus de Santo André revela conflito entre tradição e democracia

Após a morte do Pastor Silas Josué, membros da Assembleia de Deus em Santo André (SP) enfrentam uma crise de liderança após mudança unilateral no estatuto que indicou o genro dele, Pastor Leandro, como sucessor. O impasse levou fiéis a expulsarem o líder, exigindo eleições democráticas. O caso, que já está na Justiça, divide uma comunidade religiosa de 92 anos e 130 congregações na região.

Herança ou imposição? A polêmica da sucessão

A tensão começou quando os fiéis descobriram que o estatuto da igreja havia sido alterado um ano antes da morte do Pastor Silas Josué, em 2024. A mudança, feita sem consulta aos líderes ou membros, garantiu ao genro dele, Pastor Leandro, o direito de assumir a presidência. “Meu pai dedicou a vida a essa igreja. A decisão foi tomada para preservar seu legado”, justificou uma fonte próxima à família em conversa com o g1. Já os críticos afirmam que o gesto ignorou décadas de tradição participativa.

“Queremos eleição!” O grito que ecoou no altar

No domingo, 12 de janeiro, a insatisfação virou protesto. Durante o culto, dezenas de fiéis interromperam a cerimônia, cercaram o púlpito e exigiram a saída do Pastor Leandro. “Não somos gado para seguir ordens sem debate”, desabafou Maria Santos, 68, membro há quatro décadas. Enquanto alguns tentavam orar, outros erguiam cartazes com frases como “Transparência já”. A cena, filmada e compartilhada nas redes sociais, mostra o momento em que Leandro deixou o local sob vaias.

Justiça e fé: o futuro de 130 congregações

Enquanto a disputa judicial se arrasta, comunidades ligadas à matriz em Santo André temem rupturas. “Algumas congregações já discutem autonomia”, revelou um diácono que preferiu não se identificar. Para especialistas em direito religioso, o caso expõe um dilema comum: “Igrejas históricas precisam equilibrar hierarquia e participação. Sem diálogo, o preço é a unidade”, analisou a advogada Fernanda Costa.

A assembleia marcada para fevereiro promete acirrar os ânimos. Enquanto isso, fiéis como João Pedro, 34, resumem o sentimento: “Não estamos contra ninguém, mas por um princípio: a casa de Deus merece respeito coletivo”.