Nas últimas eleições, o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva e outras figuras proeminentes do Partido dos Trabalhadores (PT), apoiados por conselhos de intelectuais de esquerda, estabeleceram uma meta : aproximar-se da crescente população evangélica do país, que representa quase um terço da população, na tentativa de conquistar eleitores de direita. Declarações recentes sobre Israel enterraram efetivamente esse projeto eleitoral do PT.
A comparação feita por Lula entre os ataques de Israel ao Hamas na Faixa de Gaza e o Holocausto nazista, apoiado por outros governistas e figuras importantes do PT, é vista por especialistas consultados pela Gazeta do Povo como o último prego no caixão da tentativa de cortejar o público evangélico.
Guilherme de Carvalho, teólogo público e cientista da religião, enfatiza que declarações recentes de petistas questionaram de forma praticamente definitiva a possibilidade de diálogo que se vislumbrava em 2022. “Um novo ponto de atrito foi oficialmente aberto por Lula. a posição deles sobre esse assunto, na minha opinião, é próxima de zero, é quase inexistente. Quem pensa que uma boa negociação entre Lula e lideranças evangélicas poderia amenizar as coisas… Não, isso não vai acontecer. Essa posição é não se baseia na manipulação de líderes de megaigrejas ou de líderes nacionais, não é isso”, observa.
Carvalho destaca a ligação com os judeus, afirmando que ela está arraigada no imaginário do povo evangélico e mesmo as declarações dos líderes não podem mudá-la. “O sonho do crente comum é fazer uma viagem a Israel. As pessoas dizem que os pastores estão levando os crentes para passear. , denominação, liderança da igreja… É uma questão de imaginação”, explica o teólogo.
Thiago Vieira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR), destaca que para muitos evangélicos, “Israel desempenha um papel central nos eventos proféticos do fim dos tempos”. “Eles veem o retorno dos judeus à Terra Santa como um cumprimento de promessas e alianças bíblicas e uma preparação para a segunda vinda de Cristo”, diz ele. Além disso, existe uma ligação histórica e cultural entre Israel, o povo judeu e a fé cristã. “Eles [os evangélicos] valorizam a preservação da herança judaica e reconhecem Israel como o lar espiritual e histórico do povo judeu”, esclarece Vieira. Sobre o mesmo ponto, Carvalho acrescenta: “Jesus é judeu, fim da história. É simples assim”.
Sobre o actual estado de Israel, Vieira lembra que os cristãos em geral tendem a valorizar o facto de ser a única democracia no Médio Oriente e o único local da região onde existe liberdade religiosa. “Há admiração pelo compromisso de Israel com os valores democráticos e a protecção da liberdade religiosa, especialmente em contraste com muitos dos seus vizinhos”, diz ele.
O vínculo entre os evangélicos e Israel é reforçado por uma visão partilhada de confronto com o terrorismo e a intolerância religiosa em certos países. “Muitos evangélicos vêem Israel como um aliado numa luta partilhada contra o terrorismo e o extremismo islâmico, especialmente vivida pelos cristãos nos 10