O deputado federal e pastor evangélico Otoni de Paula (MDB-RJ), ex-aliado de Jair Bolsonaro, causou revolta em setores conservadores ao afirmar que o Anticristo — personagem associado ao fim dos tempos na tradição cristã — emergirá do próprio espectro político da direita. Em entrevista ao canal MyNews, ele argumentou que a figura usará discursos pró-família, pró-Israel e de defesa de valores morais para se infiltrar entre os fiéis, citando passagens bíblicas que descrevem o “engano aos eleitores
Interpretação bíblica e crítica à hipocrisia
De acordo com Otoni, a Bíblia sugere que o Anticristo não virá de movimentos progressistas, mas se apresentará como um “defensor de princípios conservadores”, tornando-se uma ameaça mais persuasiva. “Ele usará uma capa protetora de Deus, Pátria e Família, algo que agrada a muitos”, explicou, questionando a blindagem ideológica dentro das igrejas. O parlamentar também criticou a idolatria política no meio evangélico, alertando que o conservadorismo não deve substituir o evangelho: “Muitos se acham puros demais para precisar de transformação espiritual”.
Contexto político e tensões na bancada evangélica
A declaração ocorre em meio à disputa pela presidência da Frente Parlamentar Evangélica, onde Otoni é candidato. Sua aproximação com o governo Lula — incluindo uma oração pelo presidente durante a sanção do Dia Nacional da Música Gospel — rendeu-lhe críticas de bolsonaristas, que o chamam de “comunista gospel”. O deputado rebate: “Orar por autoridades é mandamento bíblico. Reduzir a igreja a partidos é um erro”.
Reações e debate sobre manipulação ideológica
Enquanto apoiadores veem o alerta como um chamado à vigilância contra falsos líderes, críticos acusam Otoni de deslegitimar pautas conservadoras. Para analistas, a fala reflete uma cisão na direita pós-Bolsonaro, onde parte dos evangélicos busca ampliar agendas além do moralismo, incluindo questões sociais como combate à fome.
A polêmica ilustra a complexa relação entre religião e política no Brasil. Otoni, que já foi vice-líder do governo Bolsonaro, hoje defende uma postura independente: “A igreja não deve ser refém de nenhum partido”. Seu discurso, porém, mostra que mesmo dentro do conservadorismo, as divergências são tão intensas quanto proféticas.