Começando suas atividades com o nome de Musical.ly, uma plataforma que oferecia aos usuários a possibilidade de compartilhar danças e coreografias por cima de músicas populares, a rede social TikTok se tornou popular após mudanças estruturais e rebranding do nome e visual, expandindo-se para abocanhar o mercado deixado por redes como o Vine, permitindo que todo tipo de conteúdo fosse compartilhado no formato de pequenos vídeos curtos em uma timeline “infinita”. O formato rápido que encaixa para matar o tédio durante pequenos intervalos do dia combinado com um algoritmo poderoso de busca de interesses fez com que o aplicativo rapidamente se tornasse um dos mais baixados no Brasil e no mundo, com uma grande quantidade de crianças e adolescentes acessando a rede diariamente. No entanto, esse novo vício preocupa diversos especialistas de áreas distintas e por bons motivos.
Confira.
Vício e problemas de atenção
Dados recentes como os publicados pela ExpressVPN mostram que, atualmente, crianças com apenas quatro anos já possuem em média pelo menos 20 minutos de uso diário das redes sociais, valor que tende a aumentar cada vez mais com o passar da idade. O TikTok é uma das redes mais atraentes para essas faixas etárias, graças à sua variedade de conteúdo e facilidade de uso. No entanto, isso gera uma profunda preocupação quanto ao desenvolvimento cognitivo das novas gerações.
De acordo com estudos de neurociência e a psicologia, a exposição constante a estímulos visuais e sonoros altamente variados e atraentes pode levar a uma perda de concentração e dificuldade na realização de tarefas que exigem foco prolongado, impactando desde o desempenho escolar até a memória cotidiana. Além disso, a natureza viciante do algoritmo desses aplicativos pode levar a um aumento do tempo gasto na tela, potencializando ainda mais esses efeitos negativos.
A curta duração dos vídeos e a capacidade de imediatamente assistir um novo treinam as crianças a receber constantemente pequenas doses de humor, alegria, ou até emoções como raiva e choque, desregulando os sistemas emocionais que as permitiram avaliar lentamente uma situação, raciocinar sobre o que estão assistindo, ou desenvolver linhas de raciocínio mais alongadas – fenômenos que impactam a qualidade do sono, a interação com a família, as brincadeiras, e o aprendizado.
Privacidade comprometida
Outro ponto extremamente importante na discussão sobre redes sociais como o TikTok no cotidiano infantil é o risco à privacidade. Além de diversas polêmicas relacionadas ao app, como os sistemas do iOS apontando técnicas para rastrear os usuários e supostos vazamentos de dados ao governo Chinês, a natureza da rede social também convence crianças a exporem vídeos de suas casas, famílias, amigos, conversas na escola, e outros dados pessoais que podem comprometer sua segurança.
Também é importante notar que com pouca idade, crianças e adolescentes não são capazes de compreender por completo as consequências futuras de suas ações, e podem publicar na internet opiniões, vídeos e outras atividades que poderão causar impactos futuros em sua carreira e vida social, gerando um arrependimento que raramente poderá ser completamente apagado da internet.
Bullying e outros perigos reais
Por fim, mas extremamente relevantes, estão os perigos relacionados à falta de curadoria e proteção de conteúdo dentro do aplicativo. Embora a rede social prometa uma série de medidas para evitar vídeos perigosos em sua plataforma, a realidade é que em poucos minutos de navegação é possível se deparar com vídeos explícitos e sugestivos, desafios e prendas perigosas, e informações falsas que podem comprometer a saúde.
No Brasil, já há o acúmulo de diversos exemplos de brincadeiras perigosas que foram disseminadas no aplicativo e replicadas por crianças, gerando perigos à saúde e vida: aplicação de sprays aerossóis diretamente na pele gerando queimaduras, ingestão de colheres cheias de canela e cacau secos provocando engasgos, pegadinhas envolvendo publicação de dados de cartões de crédito, entre outras atividades ainda mais preocupantes.
Com tudo isso é importante atenção redobrada de pais e responsáveis: embora a proibição do uso desse tipo de plataforma não seja totalmente viável, é importante monitorar o tempo de tela dos pequenos, protegê-los de conteúdos inapropriados para sua capacidade de compreensão e criar um ambiente doméstico que favoreça outras atividades como os esportes e estudos, além de permitir conversas abertas e que a criança esteja confortável para pedir ajuda quando não entender por completo o que está vendo na tela, sem medo de punições.