Fiéis e estudiosos da Bíblia estão revendo antigas passagens bíblicas em meio a crises globais recentes. Textos como Lucas 21:11, que menciona terremotos, fomes e “sinais no céu”, ganham atenção em um cenário de pandemia, guerras e desastres climáticos. Especialistas destacam que o tema, embora milenar, reflete buscas por esperança em tempos de incerteza.
Natureza em transe e profecias
Os últimos anos registraram terremotos na Turquia, furacões no Caribe e queimadas de proporções históricas. Para muitos cristãos, esses eventos ecoam os alertas de Jesus sobre “sinais na terra e no céu” antes de seu retorno. O teólogo argentino Carlos Mendez, autor de estudos sobre escatologia, pondera que as escrituras não devem ser lidas como um roteiro apocalíptico, mas como um convite à reflexão. “As palavras de Cristo eram sobre vigilância, não sobre calcular datas. O foco está em viver com propósito, independentemente do amanhã”, afirma.
Crise social e simbologias do “fim”
Além dos desastres naturais, a polarização política, as fake news e o colapso ético em instituições são vistos por alguns grupos como cumprimento de profecias sobre “tempos trabalhosos”. A pastora evangélica Renata Campos, de Minas Gerais, comenta que a Bíblia fala sobre o esfriamento do amor e a ascensão de falsos líderes. “Não se trata de julgar, mas de perceber que a fé oferece um caminho para reagir a isso com solidariedade”, diz. Ela cita projetos sociais em comunidades carentes como exemplos de “preparação prática” para o que vem pela frente.
Guerras e rumores de guerras
Conflitos como os da Ucrânia e da Palestina também alimentam interpretações sobre o “fim dos tempos”. O historiador das religiões Felipe Azevedo lembra que, para o cristianismo primitivo, a ideia da segunda vinda era uma promessa de justiça em meio à opressão. “Hoje, a mesma narrativa ressoa entre refugiados e vítimas de violência. A esperança na volta de Cristo, para muitos, é a certeza de que o sofrimento não terá a última palavra”, analisa.
O que dizem os céticos?
Críticos argumentam que associações entre eventos atuais e textos bíblicos ignoram o contexto histórico das escrituras. A física e divulgadora científica Clara Rocha ressalta que terremotos e epidemias sempre existiram. “A diferença é que hoje temos mais tecnologia para registrá-los e um fluxo de informações que amplifica o medo”, observa. Para ela, o desafio é equilibrar respeito às crenças com a promoção de soluções baseadas em evidências.
Enquanto o debate segue, comunidades ao redor do mundo se unem em orações e ações coletivas, reforçando um ponto em comum: a necessidade de encontrar luz em meio às sombras.