Estudo aponta potencial de substância em abacaxi contra células cancerígenas; especialistas pedem cautela
Pesquisadores de uma universidade brasileira identificaram componentes no miolo do abacaxi com efeitos promissores em testes preliminares contra tumores. O estudo, divulgado nesta quarta-feira (18), sugere que a bromelina, enzima presente na fruta, pode inibir crescimento celular em laboratório. Apesar dos resultados, especialistas destacam que não há comprovação em humanos e recomendam análise mais aprofundada.
Substância desperta interesse científico
A pesquisa, conduzida pelo Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Ceará, analisou extratos do miolo do abacaxi em culturas de células cancerígenas por seis meses. Segundo os cientistas, a bromelina mostrou capacidade de reduzir em até 35% a proliferação de células associadas a câncer de cólon e mama em ambientes controlados. O coordenador do projeto, Dr. Felipe Torres, explica que a enzima age sobre proteínas específicas envolvidas na multiplicação tumoral.
Entusiasmo versus realidade clínica
Embora os dados iniciais sejam animadores, oncologistas alertam que resultados em laboratório não garantem eficácia em organismos vivos. A Dra. Mariana Costa, do Instituto Nacional do Câncer, ressalta que apenas 0,1% das substâncias testadas in vitro chegam a ser aprovadas para tratamentos. “É um passo importante, mas precisamos de anos de ensaios clínicos rigorosos antes de qualquer aplicação prática”, pondera.
Desafios na pesquisa nutricional
O estudo se soma a outras investigações sobre alimentos com possíveis propriedades anticâncer, como cúrcuma e brócolis. Contudo, especialistas criticam a falta de padronização nas dosagens testadas e a dificuldade de reproduzir efeitos em diferentes tipos de tumores. Um relatório de 2023 da Organização Mundial da Saúde indica que 78% das pesquisas nessa área falham na fase de testes em animais.
Caminho para avanços futuros
A equipe cearense busca parcerias para iniciar testes em camundongos até 2025, com financiamento do CNPq. Enquanto isso, nutricionistas lembram que o consumo regular de abacaxi traz benefícios comprovados, como melhora na digestão e ação anti-inflamatória, mas não deve ser visto como alternativa terapêutica. “Uma dieta balanceada ajuda na prevenção, mas não substitui tratamentos médicos”, reforça a nutricionista Clara Mendonça.