Tragédia na floresta: Como um missionário perdeu a fé ao ingressar numa missão em meio aos indígenas
Um missionário americano que chegou à Amazônia nos anos 1970 para converter indígenas viu sua própria fé desmoronar após conviver com o povo Pirahã. Daniel Everett, hoje linguista renomado, abandonou o cristianismo e se tornou ateu, influenciado pelo estilo de vida e pela língua única da tribo. Sua história revela como o contato profundo com outra cultura pode abalar algumas crenças e carreiras, mesmo que se pense estar firmes.
Um encontro que mudou tudo
Daniel Everett desembarcou no Brasil com um propósito claro: traduzir a Bíblia para os Pirahãs e convertê-los ao cristianismo. Mas o que ele encontrou na selva amazônica foi uma cultura que não cabia em seus dogmas. Os Pirahãs viviam sem rituais religiosos, sem conhecimento de criação e sem preocupação com o passado ou futuro. “Eles me mostravam que a vida pode ser plena sem a necessidade de um deus”, contou Everett em entrevista recente. A ausência de palavras para conceitos abstratos, como “céu” ou “inferno”, fez o missionário questionar pela primeira vez as bases de sua própria fé.
Língua sem passado, vida sem religião
A língua Pirahã, com sua estrutura focada no presente, foi peça-chave na perca da fé de Everett. Sem tempos verbais para passado ou futuro, a comunicação da tribo gira em torno do que é visível e experimentado. “Se não aconteceu diante dos olhos, não é relevante”, explicou o linguista. Essa lógica, somada à falta de interesse dos indígenas por histórias bíblicas, levou-o a uma conclusão radical: a religião não era universal, mas uma construção cultural. Seus estudos posteriores desafiaram até mesmo Noam Chomsky, ao provar que a “gramática universal” não se aplicava aos Pirahãs.
Desafios à ciência e à conservação
Além de abalar teorias linguísticas, Everett tornou-se voz ativa na defesa dos povos originários. Ele alerta que o desmatamento e a pressão por assimilação cultural estão apagando línguas inteiras – e com elas, visões únicas de mundo. “Cada idioma indígena é como um telescópio para novas formas de entender a humanidade”, defende. Suas pesquisas viraram referência acadêmica, mas também geraram polêmica, especialmente entre religiosos que o acusaram de “trair a missão”.
“Aprendi a viver no aqui e agora”
Questionado sobre se sente falta da fé, Everett responde com serenidade: “Os Pirahãs me ensinaram que significado não vem de promessas eternas, mas do que construímos juntos hoje”.