Ainda que o Brasil seja um país laico, sem uma religião oficial, por ser multicultural, individualmente, muitas famílias buscam uma educação que tenha mais afinidade com as suas tradições. Isso porque eles consideram que os grupos cristãos, independente de religião, oferecem à sociedade importantes contribuições, pois cooperam na formação ética do indivíduo e apoiam a luta dos menos favorecidos, amparando organizações e suas obras sociais e assistenciais. Para Cris Poli (mais conhecida como Super Nanny), que é coordenadora na EDF — Escola do Futuro, educar com princípios cristãos, não se trata de religião ou denominação, mas sim de conhecimento e da formação de seres humanos, que sejam capazes de se relacionar em sociedade; sendo bons estudantes e cidadãos; adquirindo responsabilidade, honestidade e comprometimento; e se tornando pessoas agradecidas e perdoadoras.
A fé cristã faz parte da identidade cultural do brasileiro e isso está comprovado no Censo de 2010, que constatou que 87% da população do Brasil é cristã (cerca de 167 milhões de pessoas). Dados recentes do Global Religion também demonstram, que no cenário cristão mundial (2 bilhões), o Brasil é o segundo país com mais cristãos (185 milhões), ficando atrás apenas dos EUA (253 milhões), com cerca de 127 milhões de católicos e 25 milhões de evangélicos. Não é à toa, que diante destas constatações, muitos pais almejam dar aos seus filhos uma educação cristã, não só de modo informal (dentro da família), não-formal (em grupos sociais e religiosos), mas, também de maneira formal (escolar).
Muitas famílias desejam dar essa formação às crianças e adolescentes porque todas essas modalidades de ensino juntas possuem forte influência na formação da personalidade do indivíduo. Isso porque, o ser humano é complexo — não possui apenas características biológicas —, e desenvolve a sua personalidade e caráter a partir das relações que mantém com as diversas instituições sociais em que está inserido. E, neste processo de socialização, a escola contribui intimamente para a propagação de valores, princípios e do conhecimento, assim como para a educação sistematizada. “Os pais estão atentos às mudanças comportamentais na sociedade e estão mais críticos ao posicionamento de algumas escolas, por isso estão em busca de instituições de ensino que eduquem também com os princípios básicos, que podem auxiliar a moldar o caráter e o comportamento das crianças e adolescentes, para que se tornem cidadãos maduros, que vivam em harmonia, se relacionem de forma adequada e civilizada em sociedade”, acredita Poli.
De acordo com o Censo 2010, mesmo entre as pessoas com formação superior o número de cristãos é aproximadamente 75% e, no Brasil, entre as melhores universidades e colégios, estão renomadas instituições educacionais cristãs. Com isso, os cristãos e seus princípios, estão inseridos em todas as áreas da sociedade brasileira, modelando a cultura e influenciando comportamentos de modo implícito ou explícito. Maria Fernanda Yamamoto, responsável pelo departamento institucional e de matrícula da EDF, explica que muitos pais que não são cristãos (de outras religiões) ou mesmo os que não praticam uma crença, estão optando por matricular seus filhos na instituição, que segue princípios cristãos focando na melhor formação do estudante. “Durante a pandemia, como as aulas eram remotas, a família pode acompanhar as aulas e não gostou de algumas posturas, abordagens e conteúdo, e por causa disso, mudou os filhos de instituição, buscando uma proposta um pouco mais conservadora e passou até mesmo a dar mais atenção ao tipo de apostila e livro abordado. Esse movimento tem crescido cada vez mais”, explica.
Segundo Ivonne Muniz, diretora executiva da Escola do Futuro, o cristianismo não apenas possui uma relação superficial com a educação, mas representa um processo educativo em si, que busca o aperfeiçoamento humano, com uma filosofia de vida e uma visão de mundo baseada em princípios. “Além disso, a contribuição cristã a educação é histórica e vem se aperfeiçoando e, por isso, a sociedade não precisa ver no cristianismo um inimigo, mas um aliado ao processo educativo, pois possui artifícios sociais, que beneficiam a concepção da pessoa e seu engajamento social e não destoa dos objetivos educacionais, mas acrescenta à formação holística”, completa.