Por Pb. Félix Silva
Nos últimos vinte anos tem sido difundido por alguns missiólogos uma palavra bastante desconhecida por grande parte do povo evangélico, que é a palavra Missional. Alguns, ao escutarem essa nomenclatura, logo confundem com a palavra “missionária”, contudo, o seu significado é muito mais profundo e abrangente do que imaginamos.
O que é ser missional?
A popularidade do termo missional é algo bastante recente. Esse termo nos leva ao resgate de um entendimento bíblico a respeito da natura de uma igreja local. De acordo com Jorge Henrique, pastor e teólogo brasileiro, uma igreja missional é definida como uma comunidade que está em busca constante de envolvimento com a missão de Deus no mundo.
Já Lois Y. Barret, da igreja Menonita, diz que a igreja missional é uma igreja que é moldada para participar da missão de Deus, que se organiza para restaurar o mundo quebrado e pecaminoso, para resgatá-lo e redimi-lo para Deus.
Todo o povo escolhido de Deus, segundo esse conceito, é chamado para estar em missão e não somente pessoas específicas, como é no conceito tradicional. Ou seja, nas igrejas missionais, todos entendem que foram chamados para desenvolver a missão de Deus aqui na terra assim como é dito nas Sagradas Escrituras: E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16.15 ACF). Esse texto é um dos preferidos dos missólogos e igrejas missionais que entendem o propósito de Deus.
Segundo o texto, Deus dá uma ordem a todos e essa é a de pregar o Evangelho de Cristo a todas as nações e a todos, tendo como resultado, conversão, batismo e sinais sobrenaturais que acontecerão na vida dessas pessoas.
Detalhe: esse texto é diretamente anunciado a todos os discípulos que estavam à mesa e não a indivíduos específicos que ele tinha chamado para uma missão específica.
As igrejas missionais entendem que elas são a própria missão e foram imersas em uma determinada situação para poder mudar a realidade daquele contexto através da pregação do Evangelho. Esse entendimento faz parte de cada membro de uma igreja missional que entende o que é ser um missionário em sua cultura local. Geralmente, as igrejas com esse conceito possuem pastores que são missiólogos, onde os mesmos possuem a plena capacidade e intenção de treinar cada cristão para serem missionários eficiente. Não somente missionários em lugares distantes para pessoas distantes, todavia, missionários em lugares difíceis que estão geralmente próximos aquela determinada igreja local.
Um bom exemplo que podemos citar desse tipo de labor das igrejas missionais é o trabalho de hospitalidade, envolvimento e evangelismo criativo com as pessoas da comunidade; trabalhos com crianças, pessoas menos favorecidas, integração para necessidades especiais, ações sociais, palestras, etc.
Igrejas missionais são transformacionais, em outras palavras, buscam impactar a realidade onde estão inseridas e buscam obediência à Palavra de Deus.
Como resultado desse tipo de cosmovisão e trabalho, as congregações crescem, a comunidade sente o desejo de participar e usufruir das boas consequências que ela traz. Se envolvendo nos cultos e ações realizadas pela sua igreja de fé, os perdidos são salvos pelo Espírito Santo, a fé é vivenciada publicamente e o nome do Deus verdadeiro é glorificado.
Igreja missionária ou missional?
Muitas pessoas ao ouvirem o termo Missional pela primeira vez acreditam que essa expressão seja apenas uma forma moderna de se referir às igrejas missionárias, mas não é bem assim. Há uma grande diferença no que diz respeito a uma igreja missionária se comparada com uma igreja missional.
As que são intituladas “missionárias”, que são aquelas que enviam missionários transculturais e culturais, possuem no seu arcabouço de fé um conceito bem restrito acerca da Missão de Deus. Segundo as mesmas, missão é algo feito por pessoas que foram escolhidas de forma individual para levarem a Palavra de Deus, fazer discípulos e plantar igrejas em lugares distantes.
Sendo assim, procuram estudar um local ou região, que geralmente possa também ter uma cultura distinta, e fazem a implementação de uma nova fundação com seus recursos necessários. E para que seja mantida, um de seus missionários estará sendo enviado para cumprir o seu Ide em outro país.
As igrejas missionais por sua vez, embora também enviem missionários transculturais, elas entendem que a sua própria essência é a missão. São igrejas que aprenderam que sua identidade e natureza são definidas pela história da Bíblia, onde seu principal papel é ser uma testemunha cósmica do reino de Deus que virá com a volta de Cristo. Ela existe para ser uma amostra do que há de vir pelo bem de todos. Além disso, tudo aquilo que elas fazem deve apontar para Cristo em prol da salvação completa do mundo.
Elas existem para que homens e mulheres possam ver e ouvir a salvação forjada por Cristo e tenham a oportunidade de responder que o conhecem em sua total convicção. Os membros desse modelo de igreja são pessoas que não se acomodam no seu chamado de pregar o Evangelho e ser “Sal e Luz” para o mundo (Mateus 5:13-14 ARC), pelo contrário, são testemunhas fiéis do poder do Espírito Santo em suas vidas (At 2) e por isso sentem o desejo de levar as Boas Novas a todas as criaturas.
A principal diferença entre esses dois modelos está basicamente no entendimento da missão. Igrejas tradicionais entendem que elas fazem missão, enquanto as igrejas que adotam o perfil missional entendem que elas são a missão. Para igrejas tradicionais, missão é algo feito por poucos, mas para as missionais, é Deus que está em missão, logo, todos precisam se envolver como um dever e todos são missionários em suas realidades culturais. E em termos mais práticos, os feitos de uma igreja missional serão maiores do que os de uma igreja com a visão missiológica tradicional.
Esses resultados são o envolvimento da igreja local com evangelismo e missões, um desejo maior de cada membro de se envolver com o trabalho da igreja local, investindo recursos e tempo, o desprendimento maior de se pregar o Evangelho fora das quatros paredes das igrejas, as pessoas não evangélicas olharão para igreja missional e não verão como um quartel fechado e restrito e sentirão o desejo de participar das atividades e visitar os cultos, e a igreja será bem quista por toda sociedade ao seu redor.
O imperativo missional das igrejas Pentecostais
Toda igreja genuinamente pentecostal é missional. Afirmo isso devido a história do movimento Pentecostal moderno. Tudo começa na Rua Azusa, na cidade de Los Angeles, Estados Unidos, quando Deus resolve levantar um homem simples, negro e filho de ex-escravos americanos, de nome William Seymour.
Esse homem foi usado poderosamente com uma pregação cristocêntrica e pneumática para uma geração que estava rodeada de igrejas que não acreditavam na contemporaneidade dos dons do Espírito.
Esse avivamento, assim como o do País de Gales, é um dos maiores avivamentos da história da igreja, não somente porque durou 3 anos, mas pelos seus efeitos na comunidade evangélica mundial. Um dos grandes impactos que esse mover de Deus causou foi no que diz respeito ao ímpeto missionário de pessoas que, depois de Azusa, resolveram levar a Palavra de Deus por todo mundo, e, por causa disso, muitas novas igrejas foram plantadas em diversos lugares dos Estados Unidos e do mundo.
Por isso que foi afirmado no início: toda igreja genuinamente pentecostal é missional. Ou seja, todo cristão pentecostal depois que aceita a Cristo entende que é um “missionário” e que precisa levar a mensagem do Cristo crucificado aos outros.
No Brasil, esse imperativo missional é observado desde a fundação das Assembleias de Deus, que foram plantadas pelos dois missionários suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg. Desde de sua fundação, essa igreja sempre pregou a mensagem apostólica do Atos 2, que é uma mensagem Bíblia que tem como ênfase os dons.
Muitas pessoas ao conhecerem esses feitos se converteram e sentiram em seguida o desejo de levar essa mensagem adiante como boas testemunhas (At 1.8) da obra de Cristo em suas vidas. Por isso, assim como no dia de Pentecoste, depois de terem recebido o batismo no Espírito Santo, com a evidência das línguas, muitas pessoas voltaram para seus estados, cidades e bairros, e impactaram o povo com a chama pentecostal.
De acordo com a missiologia pentecostal, todos são missionários que devem cumprir o ide de Jesus a onde estão e por onde vão. Essa ideia nada mais é do que um imperativo missional que é a essência do coração de cada cristão pentecostal e de sua igreja local.
Vários desses que sentem esse chamado para levar as boas novas são pessoas que, muitas das vezes, não possuem uma formação universitária ou teológica, mas são pessoas cheias da chama ardente, que não conseguem ficar calados e saem mundo afora falando do Senhor Jesus Cristo. Afinal de contas, um dos lemas do pentecostalismo é que “Jesus salva” e essa salvação deve ser propagada a todos e por todos.