A retomada do estudo sobre heresias no primeiro trimestre de 2025 na Escola Bíblica Dominical (EBD) reacendeu debates sobre a doutrina da Trindade e o combate ao unicismo. Como consequência, a ‘lista negra’ divulgada pela Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Brasil (CGADB) em 2023 voltou a circular amplamente nas redes sociais e em discussões teológicas.
A lista, publicada em 2023, traz um alerta contra igrejas unicistas, incluindo o Tabernáculo da Fé, o conjunto Voz da Verdade, as Testemunhas de Yehoshua e a Igreja Local. O documento foi resultado da 46ª Assembleia Geral Ordinária (AGO) da CGADB, realizada em Novo Hamburgo (RS) entre os dias 28 de abril e 1º de maio daquele ano. Durante o evento, foi aprovado um manifesto contra o unicismo, elaborado pelo Conselho de Doutrina e pela Comissão de Apologética da convenção.
O manifesto reafirma a doutrina da Trindade como uma verdade essencial e inegociável da fé cristã e alerta contra o crescimento de movimentos unicistas, que negam a distinção entre as Pessoas da Trindade. Segundo o documento, grupos unicistas ensinam que Deus é apenas uma única Pessoa que se manifesta de diferentes formas ao longo da história, rejeitando a visão tradicional da Trindade defendida pelo cristianismo ortodoxo.
Os líderes do conjunto Voz da Verdade, uma das principais referências unicistas no Brasil, consideram a doutrina da Trindade como “forjada pelo homem” e sem fundamento bíblico. Essa posição tem gerado polêmicas dentro das Assembleias de Deus e de outras igrejas trinitarianas, resultando em posições mais firmes contra a influência de grupos unicistas no meio evangélico.
A Doutrina da Trindade
O manifesto da CGADB ressalta que a doutrina da Trindade está fundamentada nas Escrituras e era reconhecida pelos cristãos desde o período apostólico, mesmo antes do termo “Trindade” ser formalizado. No Antigo Testamento, há indícios da pluralidade na unidade de Deus, como na expressão “Elohim” usada em Gênesis 1.1. O Novo Testamento reforça essa doutrina ao apresentar o Pai, o Filho e o Espírito Santo como Pessoas distintas que compartilham a mesma natureza divina (Mateus 28.19, 2 Coríntios 13.13, Efésios 4.4-6).
A CGADB argumenta que a negação da Trindade leva a uma deturpação da soteriologia cristã, comprometendo a compreensão da obra redentora de Cristo e a atuação do Espírito Santo na vida dos crentes.
O unicismo e sua origem
A doutrina unicista, segundo o manifesto, tem suas raízes no modalismo e no sabelianismo, heresias condenadas pela Igreja Primitiva. O movimento unicista moderno surgiu em 1913, em um evento pentecostal na Califórnia, onde alguns pregadores passaram a defender que o batismo deveria ser realizado apenas em nome de Jesus, rejeitando a fórmula trinitária de Mateus 28.19.
Desde então, o unicismo tem sido promovido por diversas denominações, incluindo a Igreja Voz da Verdade, o Tabernáculo da Fé, a Igreja Local e as Testemunhas de Yehoshua. Essas igrejas ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apenas diferentes manifestações de um único Deus, em oposição à tradição trinitária.
A influência do unicismo através da música
Um ponto de preocupação levantado pela CGADB é a infiltração da doutrina unicista no meio evangélico por meio da música. O conjunto Voz da Verdade, por exemplo, tem grande influência no cenário gospel brasileiro e suas canções são amplamente tocadas em diversas igrejas, incluindo algumas Assembleias de Deus.
O manifesto da CGADB alerta que a música tem o poder de influenciar emocionalmente os fiéis, tornando-se um meio eficaz para a propagação de doutrinas consideradas heréticas. Dessa forma, a convenção exorta os membros das Assembleias de Deus a terem discernimento espiritual e a evitarem canções e materiais de grupos que negam a Trindade.
Repercussão e medidas da CGADB
Com a viralização da “lista negra”, pastores e líderes assembleianos têm reforçado a necessidade de maior ensino doutrinário sobre a Trindade e a defesa da fé ortodoxa. A CGADB também orienta que seus membros não apoiem ou divulguem materiais de origem unicista, enfatizando a importância de uma base teológica sólida para evitar influências heréticas.
A discussão sobre o unicismo e a Trindade promete continuar entre teólogos e líderes religiosos, especialmente com o avanço das redes sociais e a facilidade de disseminação de conteúdo teológico. Enquanto isso, a CGADB segue firme na defesa da doutrina trinitária como um dos pilares fundamentais da fé cristã.