Mais um caso de propaganda para candidato a vereador em igreja de Campinas foi flagrado nesta quarta-feira (14), desta vez pela reportagem do Correio na Igreja Universal do Reino de Deus da Avenida João Jorge, Vila Industrial, a favor do bispo Fernando Mendes (PRB).
Nos minutos finais de um dos cultos do dia, quando a água para os fiéis beberem é abençoada, o pastor ressalta as qualidades do religioso e os orienta a pegar os panfletos que serão distribuídos em seguida no portão da igreja, e que repassem a mensagem.
“Você sabe o que o gabinete dele vai ser? Não? Pelo menos você sabe que ele nunca entrou. Pelo menos você sabe que ele é marido de uma mulher só e pai de dois filhos. Pelo menos você sabe que ele tem temor e professa luta. Então quando alguém disser para você: Ah, mas quem garante? Senhora, ninguém, ninguém tem estrela na testa”, diz o pastor, que ao final esclarece ainda como proceder. “Então você pega o panfletinho, pega dois, pega três e fala assim: eu vou levar. Chama lá, convida, fala, transmite o que a gente está passando pra você, que Deus vai colocar ele lá e vai cuidar da gente, vai cobrar da obra de Deus. Amém?”, fala. “Então vocês entenderam”, conclui o pastor após o “Amém” dos fiéis.
Segundo um dos frequentadores, que preferiu não se identificar por medo de represálias, a propaganda é feita de maneira sistemática, não só com palavras do pastor e panfletos na saída, como usando a Bíblia com números do capítulo e versículos fazendo referência ao número usado para a disputa eleitoral e a imagem do bispo nos telões ao final do culto, ações que não foram presenciadas pela reportagem na quarta. “Toda vez é desta forma.
O pastor que está pregando diz ‘votem no bispo, porque ele é meu candidato, é homem de Deus, temos que ter representantes da igreja lá’ e também ‘Orem por ele, orem pelo bispo, orem pelo meu candidato’. Pergunta ‘Qual o número dele?’ e os fiéis respondem”, relata o fiel. “Eu amo muito a minha igreja, amo muito Deus e vejo que o lugar dos pastores é no altar e não fazendo politicagem, sendo político”, observa.
O candidato confirmou apenas a existência de oração por ele. “Existe um histórico já dentro da igreja de que orem por nós, por mim, porque a jornada é longa, dura. Depois que saí da igreja sempre tem alguém que dá panfleto e de outros candidatos também aproveitando o fluxo”, afirma, frisando que não interfere nos cultos, apenas nos assuntos assistenciais. “No trabalho da campanha política, fico na cidade e não na igreja”, justifica, alegando desconhecimento do pedido feito pelos pastores. “Sempre lá tem jornalistas, eles reconhecem, e o pastor não se prende a nada. A gente procura sempre estar dentro da lei. O que é permitido é permitido. Se a igreja entende que pode falar o meu nome e orar por mim, eles fazem isso.”
Em nota, a direção da Igreja Universal do Reino de Deus informou que orienta todos os seus bispos e pastores a zelarem pelo rigoroso cumprimento da legislação, dizendo desconhecer a ocorrência dos fatos relatados. “A Igreja apurará se tal episódio realmente aconteceu como descrito”.
Proibição
A legislação eleitoral proíbe propaganda eleitoral em locais considerados acessíveis à população em geral, como templos, escolas, clubes, cinemas e centros comerciais, com previsão de multa entre R$ 2 mil e R$ 8 mil por infração. “Tudo o que induz pedido de voto é ilegal, tanto dentro do templo religioso, quanto no teatro, no clube, em lugares públicos e particulares de acesso ao público”, esclarece o juiz eleitoral Luiz Antônio Alves Torrano, que orienta a denúncia com vídeo e áudio. “Tem que comunicar os canais de denúncia de propaganda irregular no site, no aplicativo Pardal ou ainda levar ao cartório” , lembra. O link para a denúncia é www.tre-sp.jus.br/eleicoes/eleicoes-2016/denuncia-on-line-2016-nova.
Candidata
Vídeos gravados no sábado passado na Igreja Assembleia de Deus Ministério de Madureira mostram um pastor pedindo votos abertamente para a candidata a vereadora Leonice da Paz (PMDB), que inclusive discursa para os fiéis. O material foi encaminhado por eleitores para o Ministério Público, que apura o caso. A candidata, que já foi vereadora e condenada num processo de compra de votos em 2004, teria passado por três igrejas do Ministério de Madureira, nos bairros Vila Rica, Jardim Bandeira e Jardim Campos Elíseos, conforme os denunciantes.