Doar medula óssea é um procedimento simples que pode salvar vidas, porém a chance de encontrar um doador compatível, entre não aparentados, ainda é pequena, 1 em cada 100 mil.
Foi neste cenário desafiador, que a tocantinense Ângela Neta Sousa Ribeiro Pereira recebeu, em junho de 2019, uma ligação do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) informando que ela era compatível com um paciente.
Ângela é secretária, mora em Palmas há 15 anos e é Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus Campo Nação Madureira de Palmas. A igreja que ela frequenta é constante em realizar campanhas incentivando os fiéis a procurarem o Heocentro para doações.
Apesar da surpresa, depois de receber todas as orientações sobre o procedimento de doação da medula, Ângela conta que não teve resistência, aceitou desde o começo e com o coração sempre aberto.
“Uma sensação muito maravilhosa saber que eu poderia ser um instrumento de Deus para ajudar alguém”, relatou.
No dia 12 de novembro, Ângela foi para São José do Rio Preto onde fez exames, e em 3 de dezembro realizou o procedimento para a tão esperada doação, na mesma cidade. O Redome arcou com todos os custos: deslocamento, estadia e alimentação.
“Foi muito tranquilo, senti uma paz sem explicação, creio que todo tempo Deus estava do meu lado. Fui bem recebida, toda equipe médica me deu toda a assistência necessária, o Redome sempre me deu todo apoio que eu precisei. O médico falou que eu poderia ter algumas reações simples, mas não senti nada graças a Deus”, contou a secretária que fez o método de doação chamado coleta por aférese.
Nas doações de medula, é obrigatório resguardar a identidade tanto do doador quanto do receptor, entretanto, após 18 meses o receptor pode solicitar um encontro.
“A única coisa que sei é que ele é Brasileiro. Gostaria sim de conhece-lo. Vou esperar para ver se ele me procura”.
A Missionária conta que fez o cadastro no Redome há 12 anos quando foi ao Hemocentro para uma doação de sangue de rotina. Ela faz um clamor para a sociedade.
“Que todos possam ter essa atitude de ajudar a salvar vidas, é muito simples só procurar um Hemocentro mais próximo de sua residência e se cadastrar. O procedimento da coleta não faz mal nenhum ao doador. Alguém pode estar precisando de você em algum lugar do mundo”, alertou a doadora.
O vereador de Palmas, Filipe Martins (PSC) é autor da Lei que institui o Dia Municipal do Doador Voluntário de Sangue, com o objetivo de atrair novos doadores e abastecer o estoque dos Hemocentros da Capital e parabenizou Ângela pelo gesto nobre. Martins disse que a história da Diaconsa servirá de inspiração para novos cadastros no registro de doadores de medula.
“São milhares de pessoas precisando e vimos o quanto o procedimento é simples. Que o belo exemplo da nossa irmã Ângela seja seguido por todos”, disse o parlamentar.
O que é medula óssea?
A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecido popularmente por “tutano”. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. Pelas hemácias, o oxigênio é transportado dos pulmões para as células de todo nosso organismo e o gás carbônico é levado destas para os pulmões, a fim de ser expirado. Os leucócitos são os agentes mais importantes do sistema de defesa do nosso organismo, nos defendem das infecções. As plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.
Como se tornar um doador
O primeiro passo é procurar o hemocentro do seu estado e agende uma consulta de esclarecimento ou palestra sobre doação de medula óssea. O voluntário à doação irá assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e preencher uma ficha com informações pessoais. Será retirada uma pequena quantidade de sangue (10ml) do candidato a doador. É necessário apresentar o documento de identidade. O sangue será analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório para identificar suas características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade.
Os dados pessoais e o tipo de HLA serão incluídos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). Quando houver um paciente com possível compatibilidade, você será consultado para decidir quanto à doação. Por este motivo, é necessário manter os dados sempre atualizados. Para seguir com o processo de doação serão necessários outros exames para confirmar a compatibilidade e uma avaliação clínica de saúde.
Somente após todas estas etapas concluídas o doador poderá ser considerado apto e realizar a doação.
Como é o transplante para o doador?
Antes da doação, o doador faz um rigoroso exame clínico incluindo exames complementares para confirmar o seu bom estado de saúde. Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia, e tem duração de aproximadamente duas horas. São realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia e é aspirada a medula. Retira-se um volume de medula do doador de, no máximo, 15%. Esta retirada não causa qualquer comprometimento à saúde.
Há um outro método de doação chamado coleta por aférese. Nesse caso, o doador faz uso de uma medicação por cinco dias com o objetivo de aumentar o número de células-tronco circulantes no seu sangue. Após esse período, a pessoa faz a doação por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue da veia do doador, separa as células-tronco e devolve os elementos do sangue que não são necessários para o paciente. Não há necessidade de internação nem de anestesia, sendo todos os procedimentos feitos pela veia.
A decisão sobre o tipo de doação é exclusivamente dos médicos.