Mais uma vez, o termo “ideologia de gênero” pode ser alvo de polêmica na Educação. O projeto de inclusão de ideologia de gênero foi rejeitada no ano passado pela Câmara dos Deputados, em vários estados e pelas Câmaras Municipais, no entanto, o MEC insiste em doutrinar as crianças do país.
O vereador Gian Carlos Said, mais conhecido como Dr. Gian (PSDB), pretende encaminhar para a presidência da Câmara Municipal de Goiânia ainda esta semana um requerimento de suspensão da distribuição de alguns livros didáticos que, de acordo com o vereador, abordam o tema “ideologia de gênero”.
Segundo o vereador — que é representante da igreja evangélica Fonte da Vida –, são cerca de 20 livros destinados a alunos de 6 a 10 anos da rede municipal de ensino de Goiânia, todos fornecidos pelo Ministério da Educação, que abordam a questão.
Juntamente com o vereador tucano, o professor da rede municipal de Goiânia Orley José da Silva afirma que o conteúdo do material didático vai contra o Plano Municipal de Educação (PME) acordado em 2015.
O diretor pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, Marcos Pedro da Silva defende que os livros adotados são aqueles indicados pelo Ministério da Educação (MEC).
“Nós da Secretaria Municipal de Educação não utilizamos nem discutimos o termo “ideologia de gênero”, o que discutimos em sala de aula são as relações humanas, a cidadania, a inclusão, e o respeito às diversidades para crianças jovens e adultos”, completou.
O conteúdo de uma das páginas mostra, por exemplo, os diferentes tipos de família: “Existem famílias formadas pelos avós e netos. Outras famílias são formadas pelo pai e pelos filhos. Também há famílias formadas pela mãe e pelos filhos. Existem famílias formadas por mãe, pai e seus filhos. Algumas famílias são compostas por duas mães ou por dois pais”, traz o texto didático.
O diretor pedagógico, Marcos Pedro da Silva, explica que o papel da escola é dialogar com a sociedade e informar e preparar o aluno para viver em sociedade. “A escola é laica e não segue e nem pode seguir o que prega esta ou aquela religião. Existe a família tradicional, mas dentro da própria escola temos crianças cujos responsáveis não se encaixam nesse padrão, então não podemos discriminar”.
O vereador Dr. Gian é membro da igreja Fonte da Vida e contou com o apoio da bancada evangélica para se eleger. Foi apoiado também pelo deputado federal e bispo da Fonte da Vida, Fábio Sousa (PSDB).
Outro conteúdo questionado pelo requerimento trata da puberdade e cuidados com a saúde, tratando inclusive da prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), o que, segundo o vereador, seria um conteúdo impróprio para crianças.
De acordo com o diretor da secretaria de educação, a orientação e o acompanhamento pedagógico para a utilização correta do material didático é parte do trabalho do órgão municipal.
“Sabemos que cada conteúdo deve ser abordado a partir da capacidade de entendimento de cada faixa etária”, explica. “Por isso, a rede municipal tem apenas pedagogos no quadro de funicionários. São profissionais treinados dentro e fora de sala de aula. Não existe assunto que não possa ser discutido, mas sim a maneira correta de fazê-lo. Um mesmo assunto pode ser abordado com maior ou menor profundidade, de acordo com a maturidade dos estudantes”.
Além disso, o diretor pedagógico defende que, neste exemplo específico, o material sobre DST e puberdade é uma questão de saúde pública que precisa ser abordado em sala de aula, desde que da maneira correta.
Escolha dos livros
Os livros utilizados pela rede municipal de ensino são escolhidos por cada escola através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC).
Os diretores, juntamente com o corpo docente de cada unidade, escolhem o material com base no Guia do Livro Didático, que tem as resenhas das coleções aprovadas pelo MEC. Segundo o site do PNLD, “o guia é encaminhado às escolas que escolhem, entre os títulos disponíveis, aqueles que melhor atendem ao seu projeto político pedagógico”.
O diretor Marcos Pedro da Silva explica que, portanto, o processo de escolha do material é inteiramente entre a escola e o ministério. “Estamos na segunda semana de aula e os materiais devem chegar para os alunos em poucos dias. Mas é importante dizer que qualquer material utilizado na rede de ensino municipal está de acordo com as orientações nacionais para educação”.
Para aprovação do requerimento, o vereador Dr. Gian precisa de 18 assinaturas de outros vereadores da Casa, para que então possa ser encaminhado um ofício à secretaria de educação que impediria a distribuição dos livros. Com informações Jornal Opção