“Foi muito rápido. Só deu tempo de falar ‘Jesus, me salva’. Eu vi onde a gente ia cair. Ele [o piloto] puxou o comando do avião, mas o avião não obedeceu”, relata o fotógrafo Clodoaldo Marques Gomes, de 46 anos. Ele sobreviveu à queda de um avião em Cruz Machado, no sul do Paraná, e sofreu apenas arranhões.
O acidente aconteceu no fim da manhã de segunda-feira (5). Era por volta de meio-dia quando a aeronave de pequeno porte caiu no cemitério e pegou fogo, no Centro. Duas pessoas estavam no voo.
O piloto Louis Fernando Chinkevicz, de 34 anos, morreu na hora. Já Clodoaldo teve apenas ferimentos leves e recebeu alta do hospital na terça-feira (6). Ele fazia fotos aéreas da cidade momentos antes do acidente aéreo.
Em casa, poucas horas de receber alta, o sobrevivente recebeu a reportagem do ParanáTV Guarapuava.
Emocionado, ele deu detalhes do acidente. “Não tem explicação. A gente acompanha acidente aéreo e eu, particularmente, nunca vi ninguém sair andando da forma que saí. É um milagre”, acredita.
Por volta das 10h de segunda-feira, a aeronave saiu do aeroporto de União da Vitória, também no sul do estado, para fazer imagens aéreas de Cruz Machado, a 50 quilômetros. Segundo relatos de testemunhas, perto do meio-dia, depois de quase duas horas de fotos, o avião começou a voar baixo e caiu na Capela Mortuária.
João Lourenço de Souza estava na varanda de casa quando percebeu que a aeronave fazia movimentos estranhos antes da queda. “Pensei: ‘Não está certa alguma coisa’. Quando vi, só tinha um poeirão. Peguei o carro e fui. Já tinha pegado fogo”, relata o pedreiro.
Já Clodoaldo conta que ele e o piloto chegaram a perceber um problema no avião pouco antes da queda. “Disse para ele: ‘Vamos fazer essa avenida e essa avenida dava no cemitério’. Quando ele foi fazer a avenida, eu disse: ‘Pode voltar’. Eu sabia que tinha o cemitério. E disse que podia voltar”, lembra.
Ainda conforme Clodoaldo, nesse momento, o piloto afirmou que tinha algo errado. “Ele disse que tinha alguma coisa errada. Quando falou ‘Tem alguma coisa errada’, vi que a aeronave já inclinou e entrou em declive. Só deu tempo de falar ‘Jesus, me salva’. Quando terminei, a gente bateu”, relata.
Após a queda, Clodoaldo tirou o corpo do piloto do avião, que pegou fogo em seguida. As chamas foram apagadas com a ajuda de moradores. “Depois que tirei o Fernando até uma altura, voltei e olhei pra aeronave. Não acreditava que estava vivo. Comecei a chorar”, conta.
Ainda não é possível afirmar o que causou o acidente. Investigadores da Força Aérea Brasileira (FAB) estiveram, na terça-feira, no local do acidente. Eles tiraram fotos dos destroços e analisaram a área. A perícia também observou a parte mecânica da aeronave.
A perícia observou ainda a parte mecânica da aeronave. Esse é o trabalho inicial do processo de investigação. Todo o material coletado deve ser analisado pela FAB.
No entanto, segundo uma análise preliminar dos investigadores, é possível afirmar que o avião não caiu. O piloto tinha o controle mínimo da aeronave e tentou fazer um pouso forçado, conforme os especialistas. A investigação não tem prazo pra terminar.
Enquanto espera pra saber o que causou a queda, Clodoado quer aproveitar todos os dias da melhor forma possível.
“Eu nasci em Cruz Machado de novo nesse 5 de dezembro. É um dia que vai ficar marcado na minha vida pra sempre, tive uma segunda chance. Vou, cada vez mais, colocar simplicidade na minha vida, mais amor ao próximo e cultivar isso”, garante.