Da redação
A pastora e deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD-RJ) disse ontem, em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, confiar em todas as pessoas que estavam morando com ela em sua casa, em Niterói, mesmo local onde seu marido, o pastor Anderson do Carmo de Souza, foi morto a tiros no dia 16 do mês passado. Dois filhos da pastora — Flávio dos Santos Rodrigues, que vive com a mãe, e Lucas Cézar dos Santos de Souza, que não mora mais na casa da família —, estão presos por suspeita de participação no crime.
A entrevista foi feita na própria residência de Flordelis, no bairro de Pendotiba. Questionada se acreditava na inocência dos filhos, a deputada respondeu “que não acreditava em nada”. A pastora chamou Flávio, seu filho biológico, de “menino” e disse que ele havia voltado a morar com ela após uma briga com a esposa. “(Ele) voltou pra casa, me obedecia, me respeitava. Esse tempo todo, eles (Anderson e Flávio) estavam muito bem”, afirmou.
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Já Lucas, filho adotivo de Flordelis e Anderson, foi descrito por ela como um rapaz fechado. A pastora afirmou que havia um atrito na relação entre pai e filho. “A única coisa que o meu marido tinha era com o Lucas. Mas era uma coisa de pai, ele não aceitava o filho ter saído de casa”, explicou. “O Lucas era um menino muito fechado, muito revoltado. Acredito que pela infância que teve. O pai dele era bandido, ele foi criado por esse pai, e a mãe morreu de câncer.”
O celular de Anderson, peça crucial na investigação, até hoje não foi encontrado nem entregue por familiares à Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. Questionada se o aparelho foi dado a ela, Flordelis disse não se lembrar, pois estava sob o efeito de medicamentos: “Não me entregaram e, se me entregaram, não me lembro.”
No dia do crime, 35 filhos do casal estavam em casa. Mais de 30 já prestaram depoimento. “Eu amo muitos meus filhos, amo ser mãe. Mas se proteger meus filhos, não estou sendo mãe. Não estou ajudando meus filhos a serem pessoas melhores na vida”.
Confira trechos da entrevista:
Fantástico – No dia do crime vocês saíram pra jantar, é isso?
Flordelis – Saímos pra namorar, curtimos bastante, passamos uma noite assim, muito boa, incrível. Aí chegou aqui nós subimos a rua, ele rapidamente deu sinal de abrir para abrir o portão da garagem. Entramos . Ele não saiu junto comigo, eu saí primeiro do carro.Ele ficou e eu entrei, subi as escadas, cheguei no meu quarto.
Fantástico – Ele ficou lá pra quê?
Flordelis – Ele ficou. Eu achei até que ele fosse, assim, na minha concepção, eu entrei, subi as escadas, ele vai entrar, ele só pegou a mochila né e vai entrar. Abri a porta pra olhar a casa, pro lado da cozinha, estava tudo escuro e ele lá embaixo, nenhum barulho. Estava silêncio. Eu ouvi os tiros, me assustei. Foram pa pa pa pa, pa pa. Ouvi quatro tiros seguidos e mais dois. Meus filhos me seguraram pra mim não descer. Comecei a gritar pelo meu marido. Eu comecei a gritar “amor”. Ali eu sabia que tinha acontecido alguma coisa com ele.
Fantástico – A senhora falou que ouviu seis tiros. O laudo diz que foram pelo menos trinta perfurações. Por que essa diferença?
Flordelis – Não foi só eu. Meus filhos que estavam acordados falaram também a mesma quantidade de tiros ouvido, ouviram seis tiros.
Fantástico – Alguém entregou o celular dele pra senhora?
Flordelis – Não entregaram e, se me entregaram, não lembro.
Até agora, o celular do pastor Anderson não foi encontrado. Dois filhos do casal – Flávio e Lucas – estão presos. Imagens de câmeras de segurança mostram Lucas chegando na casa da família pouco antes do crime.
Fantástico – O que ele veio fazer nessa madrugada?
Flordelis – Também é um outro ponto de interrogação que eu tenho, não sei…
A arma que teria sido usada no crime foi encontrada pela polícia no quarto do Flávio.
Fantástico – E por que ele estaria com arma do crime?
Flordelis – A arma foi encontrada entendeu naquele ambiente mas até que prove o contrário ninguém pode afirmar nem que foi o Flávio nem que foi o Lucas.
O advogado de defesa de Flávio disse que não teve acesso ao inquérito. E pretende pedir a anulação do depoimento dele.
Fantástico – A senhora acredita na inocência do Flávio e do Lucas?
Flordelis – Não, não acredito em nada. O Flávio estava casado, houve uma briga com a esposa, um desentendimento, voltou pra casa, me obedecia, me respeitava.
Fantástico – Ele se dava bem com o pastor Anderson?
Flordelis – Esse tempo todo eles estavam muito bem.
Fantástico – Existia briga entre irmãos?
Flordelis – Não. Nós éramos normais como qualquer outra família. A única coisa que o meu marido tinha era com o Lucas, mas era coisa de pai, que ele não aceitava o meu filho ter saído de casa e tá vivendo, fazendo algumas coisas erradas.
Lucas já teve envolvimento com o tráfico de drogas.
Fantástico – Como era o Lucas?
Flordelis – O lucas era um menino muito muito fechado, muito revoltado. Acredito que pela infância que ele teve, o pai dele era bandido, a mãe morreu de câncer.
Fantástico – Ele não morava aqui?
Flordelis – Não
Fantástico – A senhora acha que a solução desse mistério está nessa casa?
Flordelis – Sinceramente, eu não sei. Eu sei que há um mistério
Fantástico – A senhora confia em todos que moram aqui?
Flordelis – Todos os meus filhos?
Fantástico – Todos pessoas.
Flordelis – Todas as pessoas que estavam morando comigo naquele momento sim. Os que estavam morando comigo sim.
Fantástico – O pastor Anderson estava traindo a senhora?
Flordelis – De jeito nenhum, de jeito nenhum. Isso eu falo com o maior orgulho da minha vida. Homem quando tá pulando cerca é visível gente, ele muda.
Fantástico – Quem queria ver o pastor morto?
Flordelis – Eis a pergunta. Não sei. Meu marido fazia a articulação política da minha vida quem fazia era ele, tudo na minha vida quem fazia era ele…
A irmã do pastor Anderson conversou com ele horas antes do crime.
Fantástico – Ele chegou a dizer que estava sofrendo ameaças, correndo perigo ?
Michele (irmã) – Não comentou nada. Só ria, brincava ..só falava que estava bem.
Fantástico – A senhora acredita em motivação política, motivação familiar?
Flordelis – Não tenho ideia.
Na noite do assassinato, trinta e cinco filhos do casal estavam na casa. Mais de vinte já prestaram depoimento. Enquanto a polícia investiga o crime, a pastora, cantora e deputada federal Flordelis decide falar sobre os filhos apenas como mãe.
“Eu amo muitos meus filhos, eu amo ser mãe, se perguntar aquilo que eu mais gosto de ser é ser mãe, mas, se eu proteger meus filhos, eu não tô sendo mãe. Eu não estou ajudando os meus filhos a serem uma pessoa melhor na vida”, explica a deputada.