Eleito com o voto decisivo dos evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro deve contar novamente com o apoio do segmento na campanha para reeleição, em 2022. É o que afirma, em entrevista ao Estadão, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente de honra da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB).
Na entrevista, pastor JWBC diz que votou em 2018 em Bolsonaro e que não se sente enganado, pois já sabia que o presidente era “meio avançado nas palavras”.
Confira trechos da entrevista:
Sobre Bolsonaro
“Ele é meio avançado nas palavras, mas é o jeito dele. Lula não é muito diferente, também tem a boca suja. Eu votei no Bolsonaro sabendo que ele era assim. Toda essa doidice, para mim, não é novidade. Mas é um cara bem intencionado. Não tem aquela cabeça administrativa, mas até aqui está se valendo das Forças Armadas. Vamos ver em que bicho que vai dar. Uma coisa me contenta: general pode não entender de determinar linha administrativa, mas não vai roubar, vai arranjar pessoas que entendem, vai colocar assessores. Eu vejo como muito promissor.”
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Remédio amargo contra o PT
“O presidente tem tomado medidas que são amargas para o grupo do lado de lá (petistas). O corte de verba em determinados ministérios não é tanto para economizar, mas para tirar o dinheiro da mão daquela turma. O PT ainda tem muito dinheiro. O corte e a substituição dessa gente causa reação desfavorável ao nome do Bolsonaro, pois o PT estava enraizado no Brasil. Além disso, ele não é muito simpático à imprensa, e a imprensa também não é simpática a ele. Ele não se elegeu com essa imprensa, não deve nada a essa gente. Ele usou outro meio para se eleger, as redes sociais, esse troço que faz um fuxico do cão.”
Popular com os evangélicos
“Entre nós, evangélicos… Eu não estou enganado com ele. Quando votei nele sabia em quem estava votando. A boca doida dele, eu sabia que era assim. Mas é homem honesto, tem boa vontade. Agora, a formação dele foi caserna, então tudo dele passa por ali, é o que ele conhece. Evangélico é povo também e o povo estava machucado com o desgoverno passado. Então esta reação é natural, queríamos que mudasse. Dos candidatos apresentados, Bolsonaro foi o que mais impressionou com o comportamento dele. E aquela facada ajudou muito. Quase mata, mas para ele teve um resultado muito bom. De qualquer maneira, eu não me decepciono.”
Bolsonaro reeleito?
Não é difícil. Se depender dos evangélicos, sim, com certeza. Mas política é fogo, precisa ter cuidado com o que fala. Na campanha ele falou que não queria ser reeleito. Assim como Paulo Maluf fez em São Paulo. Como se diz no Ceará, ele (Maluf) se lascou. Falou daquele prefeito (Celso Pitta) que ele elegeu, e disse que ele (Pitta) fosse mal ninguém votasse mais nele (Maluf). E o prefeito foi mal pra chuchu.
Huck amador
“A Presidência não é lugar para artista, nem para animador de programa. A administração de uma nação é um negócio muito sério. Povo é povo, não é brincadeira. Precisa ter muito bom senso. Eu acho que, para a Presidência da República, tem de ser alguém com certo conhecimento administrativo, político e social, além de ter um bom jogo de cintura.”
Outras pautas
O ex-presidente da CGADB ainda falou sobre outros temas na entrevista. Disse que se Bolsonaro continuar governando como tem feito até agora pode votar nele para reeleição. Ressaltou, porém, que ainda tem “muita água para passar por debaixo da ponte”.
JW também defendeu e elogiou o ministro Paulo Guedes várias vezes.
E por fim, considerou o pedido da Bancada Evangélica para o subsídio da conta de luz para igrejas como “absurdo”.
“Nós somos povo, temos de entender o sentido global. Não se pode privilegiar uma casta. Ou se faz para todos ou não se faz para ninguém. Por que dispensar energia elétrica para templos religiosos? De impostos, nós já somos isentos. Se está gastando muito com energia, se organize e procure administrar. São pedidos meio esdrúxulos. Foi correto o presidente não atender”, disse.