A pandemia do novo coronavírus transformou a vida dos brasileiros e alguns hábitos adotados neste período seguem até hoje, mesmo com a flexibilização. Um deles é a prática de esportes ou atividades físicas.
Um estudo do Google, realizado entre março e novembro de 2020, mostrou que as buscas por exercícios em casa cresceram duas vezes. Em 2018, 58% dos entrevistados declararam praticar esportes, enquanto que em 2020, este número subiu para 69%.
“Houve uma tendência mundial de preocupação com a saúde. A busca por materiais esportivos no e-commerce começou a crescer já no ano de 2020 e ela continua crescendo no ano de 2021” – afirma Frederico Heitmann, CEO da ACCT, empresa especializada em e-commerce que atende inclusive uma gigante do setor, a Decathlon, maior varejista de artigos esportivos do mundo.
Adaptação ao novo cenário
Enquanto as academias voltam a reabrir e alguns esportes em grupo, como o futebol, voltam a ser praticados com cautela, existem pessoas que não estão preocupadas com isso, pois se adaptaram com o treino em casa.
A analista de controladoria Tainara Silva é uma delas. “Encontrei um aplicativo on-line de treinos com vários objetivos, como ganho de massa magra, perda de peso, entre outros, com duração de 10, 15 minutos por dia. Eu continuo treinando on-line porque não tenho com quem deixar minha filha para ir à academia” – afirma Tainara.
Já a analista de treinamento, Nathália Cardinalli, se sente mais à vontade e segura em casa. “Eu não gosto de academia, pois não consigo me sentir confortável. Além disso, treinando em casa eu não preciso sair, ter gastos com locomoção, dividir aparelhos ou até mesmo um espaço com outras pessoas, pois apesar da reabertura das academias, o vírus ainda está aí” – afirma.
A insegurança na retomada das atividades ainda é um fator decisivo para as práticas caseiras. Especialmente para pessoas que têm comorbidades ou vivem com idosos e, por isso, preferem se movimentar sozinhos. Mesmo com o avanço da vacinação (31,45% estão totalmente imunizados), ainda existe o risco de um novo contágio prejudicar a saúde, sem contar que a variante Delta preocupa, por ser mais transmissível do que outras cepas do vírus da COVID-19.
O Governo de São Paulo confirmou, inclusive, a primeira morte pela variante no estado, uma senhora de 74 anos com comorbidades.
Atento a essas informações, o desenvolvedor Patrick Andrade, que sentiu falta de treinos mais pesados, se virou em casa em respeito aos avós e pretende treinar assim por um bom tempo. “Eu vou gostar bastante quando for seguro ir para a academia, mas ainda não dá, porque eu convivo com os meus avós e mesmos vacinados ainda existe o risco. Eu conheço muitas pessoas que mesmo vacinadas contraíram a doença”.- relata Patrick
Crescimento e expectativa do setor de artigos esportivos no e-commerce
Os relatos de pessoas como estas somam a de outros milhares de brasileiros e refletiu no crescimento do setor de mercado de produtos esportivos. Principalmente no e-commerce que teve aumento expressivo e tende a continuar em 2021, segundo um relatório da XP.
De acordo com estudo da Criteo, apesar de em 2020 o segmento de itens esportivos ser um dos que sofreu retração, hoje o cenário é outro.
O levantamento aponta que houve um crescimento de 127% nas vendas para este mercado e isso tem relação com a mudança de hábitos dos brasileiros.
O CEO da ACCT acredita que este foi um ponto interessante, observado durante as migrações e projetos da empresa. “Os artigos esportivos, diferentes de outros, apresentaram um crescimento no início da COVID-19 menor do que o crescimento do consumo de produtos eletrônicos e de alimentação, por exemplo. Contudo, na fase do início da vacinação, em que os estabelecimentos voltam a abrir – ainda que com todos os protocolos de segurança – este mercado começa a crescer”, destacou.
Indagado sobre as perspectivas para o setor, Heitmann, que atua em projetos de tecnologia há 11 anos, afirma que o dado da Criteo já demonstra uma tendência que é pós-pandemia. “Um novo estilo de bem-estar começa a se estruturar e aparentemente com destaque nas práticas esportivas que são individualistas.”- ponderou.
Tainara Silva faz parte deste número. Mesmo não gostando de comprar on-line, pois prefere escolher o produto em mãos, ela se rendeu à tentativa de fazer a compra e se surpreendeu. “A compra foi bem tranquila e os produtos chegaram muito rápido” – conta Tainara. Ela comprou itens básicos, como colchonete para fazer abdominais e pesos. Patrick Andrade, que costumava fazer treinos mais pesados, precisou de um produto mais robusto: “Comprei uma barra mista, que instalei na parede, um rolinho de abdominal e uma corda de pular. Eu tentei improvisar com equipamentos e coisas do tipo pra montar a minha academia em casa e desde então eu tô por aqui” – conta Andrade.
A procura no e-commerce por materiais esportivos não foi só por amadores. O educador físico Luis Bernardi em 2020, que fez sua transição da sala para atendimento particular, também se rendeu à compra on-line. “Eu precisei aumentar o estoque de pesos e equipamentos para trabalhar com meus alunos” – afirma Luís.
O profissional entende que a pandemia contribuiu para a mudança de opinião das pessoas sobre exercícios físicos. “Todos entenderam que a atividade física é essencial para o bem-estar do corpo e da mente e este movimento veio para ficar” – finaliza Luis.