Por João Abrantes
É cógnito por todos que a ausência do tato ou feeling com a realidade é um dos principais sintomas para o diagnóstico desta moléstia, traçado a partir do histórico do indivíduo cristão. Não há causas exatas ou perceptivas e nem ao menos um exame laboratorial específico, já que se trata de teor espiritual. O que se sabe é que a hipocrisia ou farsa é uma doença relativamente comum e que seus portadores podem vivenciar mudanças na sua forma de pensar, sentir e falar, principalmente em períodos eleitorais, e nesse contexto mergulharam na lama pútrida do processo trocando, vendendo e alugando o de mais sagrado no ser humano, sua honra e sua moral. Com isso, suas relações espirituais, morais e cristã, são afetadas publicamente sem a consciência e consequências da realidade vivenciada no momento.
Existe um ditado popular que diz: “As palavras movem e os exemplos arrastam”. É pelo exemplo que se consegue que as coisas sejam feitas. Essa é uma característica do falso moralismo, enxertada de receitas mentirosas e desonestas ensinadas por aquelas que deveria ser e dar exemplos, pois o exemplo vem das atitudes e não das palavras. Observe como Jesus Cristo ensinou muito mais pelos exemplos do que pelas suas próprias palavras. O exemplo do amor, o da paciência, da fé e da esperança, e atos praticados principalmente no processo do mandato postulado pela sociedade ou que antecede o período eleitoral. De repente alguns cognominados políticos têm até a intenção de mandar fazer as coisas, mas cadê os bons exemplos? Na verdade, pode-se constatar facilmente que se conhece o dono de uma empresa por meio do comportamento dos seus funcionários, pois o exemplo que ele fornece é o que será seguido.
Vivemos a realidade de mais uma eleição que sem dúvida alguma, interferirá diretamente e indiretamente na vida de todos nós. Essa é uma realidade inegável que não podemos cerrar nosso discernimento em um momento crucial para nós, nossos filhos e as gerações vindouras. Houve uma época em que os governantes eram impostos ao povo e sua forma de governo era baseada em modelos totalitários e opressores. Entretanto, a democracia deu ao povo a oportunidade de participar diretamente do pleito. Hoje, elegemos nossos pares, pois a Constituição assegura que todos são iguais perante a lei, não havendo distinção de cor, sexo ou religião. Dessa forma, os eleitores tornam-se corresponsáveis pela política, e pelas consequências boas ou ruins advindas de nossas decisões, pois cabe à população dizer sim ou não às propostas de cada candidato, sabendo que nossas escolhas podem definir o nosso futuro.
Na Bíblia Sagrada, a palavra de Deus há lições das mais diversas, e que poderão ser aplicada em qualquer contexto social, espiritual, político e etc. No livro de Juízes 9:8-15, aprendemos uma preciosa lição sobre POLÍTICA e o direito de escolher nossos governantes. Pois quando os bons se omitem, os maus assumem o poder. Esta parábola afirma que inúmeras árvores foram cogitadas para governar, sendo a oliveira, a figueira e a videira. Contudo, nenhuma delas quis assumir essa responsabilidade, se omitindo e delegando o direito a quem quiser. Diante do exposto, não havia outra saída senão convidar o espinheiro para exercer tal função. Essa parábola ilustra que a presença de um mau governo se deve em função da omissão daqueles que poderiam fazer um bom governo, omitir é pensar em si, no fisiologismo tirano e desumano que perdura em nossa pátria. Martin Luther King Jr., pastor batista que lutou contra o racismo norte-americano, bradou: “O que me impressiona não é o grito dos tiranos, mas o silêncio dos justos”.
O Brasil tem sido governado por espinheiros porque as oliveiras, as figueiras e as videiras estão se omitindo. Eis o motivo pelo qual a nação padece diante da gestão de pessoas inescrupulosas que estão interessadas unicamente no benefício próprio. Ética e moral são conceitos desconhecidos pela maioria de nossos parlamentares e gestores.
Há uma máxima popular que é verdadeira: o povo é o reflexo de sua liderança. Muitos cristãos estão à margem dos acontecimentos, alienados ao processo eleitoral. A Igreja evangélica brasileira, que deveria ser uma voz profética, como disse o (profeta Joel 2:1) “tocai a trombeta em sião”, para bradar contra a impiedade de nossos governantes espinheiros, tem se prostituído com esse sistema corrupto e imoral que assola o país, associando a esses indivíduos e não discernindo o joio do trigo. Muitos púlpitos são transformados em verdadeiros palanques eleitorais, onde candidatos profanos sobem ao altar de Deus para manipular um rebanho que se tornou massa de manobra. Igrejas tem se tornado palanques e pastores cabos eleitorais sem medir as consequências pelos escândalos subsequentes.
O povo de Deus não deve apenas orar, mas, sobretudo, ser uma Igreja consciente e agir! Agir no sentido de orientar seus rebanhos em quem devamos votar e porque votar em candidatos que apresentem tal perfil. Se há um dom que carecemos na atualidade é o dom do discernimento. Precisamos que homens e mulheres vocacionados por Deus se levantem para lutar pelos valores morais e princípios cristãos que a nação tem perdido ao longo desses anos. Nós podemos ser as árvores frondosas de que o país precisa. Não podemos omitir-nos nem achar que todos os que exercem a política são espinhos! Se os espinhos estão lá é porque as árvores se furtaram do seu verdadeiro papel, de governar sobre a nação.
Eis o motivo pelo qual muitos não querem servir nem se transformar em benção na vida dos outros. Perceba que oliveira disse: “Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?” (v. 9). Da mesma forma, a figueira se esquivou: “Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores?” (v. 11). Semelhantemente, a videira apresentou sua justificativa: “Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens e iria pairar sobre vós” (v. 13). Como se pode observar, o serviço exige abnegação e sacrifício, qualidades que nem todos estão dispostos a buscar. As pessoas não estão interessadas em sair da sua zona de conforto para se envolver nos problemas dos outros. Então, houve uma inversão abrupta da função pública e poucos estão a perceber, pois aqueles que deveriam se valer do cargo para servir os outros, utilizam o posto e suas prerrogativas para benefício próprio, em detrimento da opressão de seus súditos.
De acordo com a parábola, o rei deveria pairar sobre as demais árvores, dando proteção e sombra a elas. A função do rei seria servir as demais árvores. Contudo, ao ser empossado rei, o espinheiro disse: “Vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não, saia do espinheiro fogo que consuma os cedros do Líbano” (v. 15). Ou seja, aquele que deveria ser um instrumento de benção, governar para todos e de forma isenta, torna-se uma maldição, oprimindo e amedrontando quem se opor. O espinheiro subjugou as demais árvores e passou a oprimi-las. Essa história é um retrato contemporâneo da política no Brasil. Basta ver e ouvir as propostas na propaganda eleitoral para vislumbrar que aquilo que se propõe é bem diferente da prática. Inclusive candidatos que se autodenominam evangélicos são flagrados em escândalos que envergonham o Evangelho de Cristo. Embasado neste perfil, nós povo evangélico podemos e devemos segundo um olhar bíblico tomar algumas atitudes em relação às eleições.
Primeira Atitude: Ore! O apóstolo Paulo fez a seguinte exortação ao seu filho na fé, Timóteo: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda a piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.” (I Tm 2:1-3).
Segunda Atitude: Vote com consciência! Você conhece as propostas de seus candidatos? Muitos cristãos estão votando em candidatos que defendem abertamente principio contrário a palavra de Deus e suas normas, são favoráveis ao aborto, apoiam leis ridículas e anticristãs e tantas outras que ferem diretamente o principio e a constituição da fé cristã, a Bíblia Sagrada. Como servo de Deus, seu primeiro compromisso é com a Palavra de Deus e não com partidos ou políticos. Portanto, votar em candidatos que são espinheiros para implantar a institucionalização da iniquidade é uma contradição. Como disse o sábio Salomão. “Não havendo sábia direção, cai o povo…” (Pv. 11:14). Somos sal da terra e luz do mundo, o que não podemos é ser pisado pelos homens e perder o nosso sabor. A Igreja precisar repensar o seu papel na política e eleger pessoas comprometidas com a moral, a ética e os bons princípios que regem uma nação justa e livre.
JOÃO ABRANTES, Professor, graduando em direito, pós-graduado em políticas públicas, palestrante, pastor, funcionário público, Email: joaoabrantess@hotmail.com