Da Redação JM
Usos e costumes constituem tema recorrente entre o povo evangélico no país. Uns defendem, outros questionam. E assim um grande número de cristãos ainda não sabem discernir corretamente sobre seu significado.
O teólogo assembleiano Gutierres Siqueira explica que o tema “usos e costumes” é uma velha questão nos círculos pentecostais. “A tradição faz parte de todas as instituições e sociedades. Assim, é correto afirmar que todas as igrejas têm os seus costumes, impostos ou espontâneos, mas igualmente estabelecidos. Por muito tempo se confundiu costumes com doutrina, mas há diferenças significativas entre esses dois conceitos“, aponta ele.
Problemas
Como falado anteriormente, muitos, por não entenderem, acabam gerando problemas com o tema, mas o pastor Paulo Junior mostrou bem em uma pergunta feita a ele como se deve fazer a leitura de “usos e costumes” à luz da Bíblia.
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Paulo Junior respondeu a uma pergunta sobre usos e costumes durante programa de rádio. Ele comentou sobre o erro que muitas cristãs cometem ao colocar a confiança da santificação nos usos e costumes e esquecem que isso é obra exclusiva do Espírito Santo.
“Isso não é bíblico, isso não é santidade”, disparou ele.
O pastor disse que o padrão para uma mulher cristão é o equilíbrio. “A mulher não deve ser sensual” ressaltou.
https://youtu.be/HctnH4epc2g
Saiba mais sobre usos e costumes
O que é doutrina? No Novo Testamento a palavra mais usada para doutrina é didache e significa ensino, instrução, tratado ou doutrina. Segundo o teólogo Claudionor Corrêa de Andrade, doutrina é a “exposição sistemática e lógica das verdades extraídas da Bíblia, visando o aperfeiçoamento espiritual do crente” [3]. Doutrina, portanto, é o resultado de um ensino teológico, adotado por uma denominação ou religião.O pastor Antonio Gilberto apresentou em seu livro Manual da Escola Dominical [4], algumas diferenças entre usos e costumes, e neste artigo será apresentada outras diferenças, além da lista exposta pelo teólogo pentecostal.
a) A doutrina é de origem divina, o costume é de origem humana. A doutrina é divina pois está baseada na inspirada Palavra de Deus. Para uma ideia ser doutrina bíblica é preciso que ela esteja exposta por todo o texto sagrado. Nunca uma verdadeira doutrina é baseada em textos isolados.
O costume é imposto por convenções humanas de maneira espontânea ou obrigatória, sendo assim, o costume é humano. Há muitos que tentam achar textos bíblicos para justificar a perpetuação de sua tradição, mas normalmente praticam a eisegese [5], ou seja, dizem o que bem querem e tentam justificar na Bíblia. O teólogo Esdras Costa Bentho, escrevendo sobre a eisegese, disse:
O intérprete está cônscio de que a interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou então está inconsciente quanto aos objetivos do autor ou do propósito da obra. Entretanto, voluntária ou involuntariamente, manipula o texto a fim de que sua loquacidade possa ser aceita como princípio escriturístico. [6]
Quando resistimos a mudanças- sejam elas na igreja ou na sociedade devemos perguntar-nos se são na realidade, as Escrituras que estamos defendendo (como é nosso costume insistir ardorosamente) ou, se ao contrário, é alguma tradição apreciada pelos anciãos eclesiásticos ou de nossa heranças cultural. Isto não quer dizer que todas as tradições, simplesmente por serem tradicionais, devam a qualquer custo ser lançadas fora. Iconoclasmo sem crítica é tão estúpido quanto conservantismo sem crítica, e é algumas vezes mais perigoso. O que estou enfatizando é que nenhuma tradição pode ser investida com uma espécie de imunidade diplomática à examinação. Nenhum privilégio especial pode ser-lhe reivindicado.
A doutrina é universal no sentido que é para todos os povos em todas as culturas. Proclamar Jesus como Salvador faz sentido no Brasil em 2015, como para os indianos que foram evangelizados pelo apóstolo Tomé, o primeiro missionário daquela nação, ainda no primeiro século da Era Cristã.O costume é local. Os homens na Escócia usam um tipo masculino de saia. No Siri Lanka é, também, costume para homens a vestimenta com saias. Enquanto a saia, na maior parte do Ocidente, é uma roupa exclusivamente feminina. No Brasil é comum comer peixe cozido ou frito, mas no Japão se come peixe-cru.
d) A doutrina santifica, o costume não santifica.
A doutrina bíblica santifica o crente mediante a Palavra de Deus. Jesus disse: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). O ensino da Palavra de Deus, ou seja, das doutrinas bíblicas, é um dos meios que Deus usa para levar o crente a uma vida reta, assim como escreveu o salmista: “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra”(Sl 119.9). John Henry Jowett disse: “Você não pode abandonar os grandes temas doutrinários e ainda assim produzir grandes santos”. O pastor A. W. Tozer escreveu: “O propósito que está por trás de toda doutrina é garantir a ação moral”. Por isso, é bom lembrar que a doutrina bíblica produz, naturalmente, bons costumes.
O costume não pode santificar. Quem acredita na santificação por meio dos costumes, normalmente, é um escravo do legalismo. O pastor Antonio Gilberto escreveu a respeito dos erros em relação a santificação e citou o engano de associar exterioridade com santidade: “Usos, práticas e costumes. Esses últimos, quando bons, devem ser o efeito da santificação, e não a causa dela”[8]. E bem relevante o que escreveu o pastor Ciro Zibordi no prefácio do livro Verdades Pentecostais:
Conservar não significa possuir uma falsa santidade, fazendo dos usos e costumes uma causa, e não um efeito. Como pode ser ao longo dessa obra, a observância da sã doutrina leva-nos a ter santidade interna e externa, o que implica vida santa a partir do espírito (1Ts 5.23) e manutenção dos bons costumes. Estes, pois, não devem gerar doutrinas, como vem acontecendo em algumas igrejas não legitimamente avivadas, para prejuízo de seus membros. [9]
Ao insistirmos nos absolutos, não queremos afirmar que não haja também conceitos relativos. Essa diversidade se manifesta, por exemplo, nas comidas típicas de cada país, nos estilos da arquitetura, no estilo da vestimenta e até mesmo em relação à hora de dormir, que depende do fuso horário. Mas tais circunstâncias relativas acabam apontando para princípios biológicos absolutos; todos precisam alimentar-se, todos precisam dormir. [11]
Notas e Referências Bibliográficas:
1- HOLANDA, Aurélio Buarque de. Mini-Aurélio Século XXI Escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000. p. 190.
2- KURY, Adriano da Gama. Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa. 1 ed. São Paulo: FTD, 2001. p.265.
3- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 12 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 128.
4- Publicado pela CPAD(Casa Publicadora das Assembléias de Deus).
5- Prática de forjar o texto a fim de que justifique o pensamento próprio. Não confunda com exegese.
6- BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada. 3 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p. 69.
7- Publicado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus).
8- GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 142.
9- ZIBORDI, Ciro Sanches. Idem, pp 3,4.
10- GONÇALVES, José. Voto de Nazireado, prática judaizante que despreza a doutrina da graça. Resposta Fiel, Rio de Janeiro, Ano 4, n. 12, p. 26, Jun-Jul-Ago/2004.
11- COUTO, Geremias do. E agora, como viveremos? Lições Bíblicas, Rio de Janeiro, p. 39, 4. trimestre de 2005.