Da Redação JM Notícia
Na última sexta-feira (21) aconteceu em São Paulo o debate “Evangélicos, Igrejas Evangélicas e Política” mostrando resultados de uma pesquisa sobre políticas elaborada durante a Marcha Para Jesus deste ano.
Promovido pela Fundação Perseu Abramo (FPA), a Fundação Friedrich Ebert Stiftung (FES) e o Instituto Pólis, o encontro fez parte do ciclo de conversas Novos Fenômenos da Realidade Política.
Segundo os dados da pesquisa, a visão dos evangélicos sobre política é diferente do posicionamento da bancada religiosa, não apenas no ponto de vista moral, mas também econômico.
Um exemplo dessa diferença foi apontada pela pesquisadora Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): enquanto a bancada evangélica no Congresso Nacional defende ideias neoliberais e é a favor do Estado Mínimo, a maioria dos adeptos é contra as reformas defendidas pelo governo de Michel Temer.
“A nossa hipótese de partida é de que existia um descolamento do campo evangélico religioso do campo evangélico político”, declarou a pesquisadora.
Dos 527 entrevistados, 66% disseram não ter preferência de linha política, seja de esquerda, centro ou direita. Já 81,6% afirmaram não possuir preferência partidária.
Uma das perguntas do estudo questionava o quanto conservador a pessoa se identificava. 45% disseram ser “muito conservadores” e 34% disseram ser “pouco conservadores”.
Em nível de confiança em partidos políticos, 7% disse confiar no PSDB, e 6% no PT. Já o PSC teve 1,2% e o PRB 0,4%. “Ou seja, praticamente zero”, destacou a pesquisadora lembrando que esses dois partidos possuem muitos parlamentares evangélicos.
Os resultados obtidos nessa pesquisa mostraram que os evangélicos são bastante progressistas, principalmente em questões sobre o ensino “de respeito aos gays nas escolas” que teve apoio de 77% dos entrevistados.
Outros pontos considerados progressistas:
- 70% dos entrevistados entendem que ‘cantar uma mulher na rua é ofensivo’;
- 64% concordaram que ‘não se deve condenar uma mulher que transe com muitas pessoas’; 90% discordam que o ‘lugar da mulher é em casa, cuidando da família’;
- 33% não concordam com a afirmação de que ‘pessoas do mesmo sexo não constituem família’;
- 35% entenderem que ‘dois homens devem poder se beijar na rua sem serem importunados’.
“Principalmente nas pautas em relação ao direito das mulheres, com exceção do aborto, eles se mostraram mais progressistas do que se poderia imaginar”, declara o progresso Marcio Moretto, da Universidade de São Paulo (USP).
Quem representa os evangélicos?
A antropóloga Regina Novaes, pesquisadora do CNPq, acredita que há interesses de quem afirma ser representante político dos evangélicos sem realmente pensar da mesma forma que o grupo pensa.
“Há interesses daqueles que falam em nome dos evangélicos e vimos como há diferenças entre eles. Há interesses também, numa conjuntura como a atual, de juntar conservadorismos que não atuam da mesma forma. Conservadorismo ‘político’ é uma coisa; de ‘costumes’ ou ‘econômico’ é outra”.
A pesquisadora critica também que alguns pastores midiáticos acabam impedindo a visibilidade de evangélicos mais progressistas que estão lutando por projetos diferentes dos apresentados pela bancada evangélica do Congresso.