Por Márcio Martins Araújo
Sabe-se que no Brasil os sistemas de atendimento e prestação de serviços na saúde pública estão longe de dar conta da grande demanda que se tem em nossa população. Aos que não possuem convênios privados, por exemplo, quem nunca aguardou meses e meses para conseguir agendar um exame médico? As filas são grandes, a espera é cada vez maior. E infelizmente nem sempre os resultados funcionam em caráter de prevenção por conta dessa morosidade.
Pesquisa feita em 2018 pela Sociedade Brasileira de Mastologia mostra que a realização da mamografia, procedimento muito eficaz para detectar o câncer de mama, consegue atender aproximadamente apenas 24% das mulheres que já estão em idade para realizar este exame preventivo, que é a partir dos 40 anos.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), este baixo índice se deve principalmente à dificuldade de agendamento e execução dos exames, sem contar a pouca estrutura dos hospitais, equipamentos sem a manutenção devida e a falta de operadores técnicos para a aplicação correta do procedimento médico.
Outro preocupante dado da saúde está relacionado às doenças cardiovasculares. As mais comuns são hipertensão, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, fibrilação arterial, acidente vascular cerebral (AVC) e endocardite. São quadros preocupantes que não só afetam a qualidade de vida das pessoas apenas na questão física, mas também nos aspectos sociais e financeiros.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta que até o fim de setembro de 2019 mais de 289 mil pessoas morreram por conta da endocardite e do AVC no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Visando atender comunidades com pouco acesso aos exames de mamografia e eletrocardiograma, que serve para medir a atividade elétrica do coração, A Igreja do Evangelho Quadrangular criou o Projeto Margarida. Esta é uma iniciativa que surgiu a partir do direcionamento de Deus à Pra.
Bianca de Oliveira, coordenadora nacional do Grupo Missionário de Mulheres (GMM), de que as mulheres deveriam ter cada vez mais ações sociais voltadas para as suas necessidades, considerando todo o valor e carinho que elas têm de receber.
Tudo começou em outubro de 2014 com um ônibus equipado com o mamógrafo e o eletrocardiograma, a primeira unidade móvel da Quadrangular de atendimento especializado à mulher. “A Quadrangular é uma igreja que rompe as paredes e vai às ruas. É uma igreja ativa que vai até as pessoas, levando cuidado médico e também conscientização”, afirma a Pra. Bianca.
Este projeto recebeu esse nome como justa homenagem à missionária Margarida Genaro, uma mulher que cumpriu o ide do Senhor em meio a muitas dificuldades. “Sua história é de muita superação. Ela era uma mulher que não sabia ler e escrever. Foi abandonada pelo marido aos 25 anos com cinco filhos para criar. Sofreu muito até se encontrar com o Senhor Jesus por meio do GMM, onde foi acolhida e preparada para a grande obra do Reino de Deus. Cumpriu a vontade do Senhor e me incentivou muito em meu ministério pastoral. Foi uma inspiração para muitos”, diz Mario de Oliveira.
O Projeto Margarida tem por objetivo levar atendimento médico às mulheres de todos os cantos do país. O ônibus equipado para fazer os atendimentos médicos já passou por mais de 80 municípios em 14 estados. Além disso, foi inaugurada em 2017, na cidade de Belo Horizonte, a Casa Margarida.
Trata-se de um ponto fixo que atendeu aproximadamente 5.000 mulheres. Neste espaço foram feitas mais de 3.500 mamografias e mais de 1.500 atendimentos psicológicos também. “A Casa Margarida é a realização de um sonho, não só de uma, mas de várias pessoas que se dedicaram muito a este projeto. Foi algo inspirado na Dona Margarida e que está se concretizando onde era sua casa. É muito especial para a Quadrangular e uma grande conquista para o Grupo Missionário de Mulheres”, diz Pra. Bianca.
“Minha mãe morou aqui durante 43 anos. Quando vi toda a transformação que fizeram em 9 meses, principalmente onde era o quarto dela, fiquei muito emocionado”, conta Mario de Oliveira.
Em fevereiro de 2019 foi inaugurada a segunda unidade móvel de atendimento à mulher, também equipada com aparelhos para os exames de mamografia e eletrocardiograma. Esta segunda unidade já fez 1.675 mamografias e 723 eletrocardiogramas até setembro de 2019. Os números da primeira unidade são ainda mais impressionantes. Foram mais de 8.440 mamografias e 9.260 eletrocardiogramas. Até agosto de 2019, as duas unidades móveis e a Casa Margarida já atenderam quase 24 mil mulheres em várias cidades do interior do Brasil. “É importante ressaltar que este é um trabalho que não visa somente o atendimento médico preventivo.
O intuito é levar uma ajuda emocional e espiritual também”, diz Mario de Oliveira. “Atendemos mulheres com mais de 60 anos que nunca fizeram exames como estes. As cidades do interior estão em condições muito distintas da que conhecemos nos grandes centros. E isso faz com que a população se sinta esquecida e desprezada.”
O Projeto Margarida tem impacto positivo não só em quem recebe essa ajuda, mas também em quem se prontificou a trabalhar nessa obra. “Os depoimentos que recebemos dos que estão atuando na linha de frente é de que há um choque muito grande por conta da precariedade em que as pessoas vivem. É um confronto de realidade. E este trabalho muda a vida das pessoas atendidas e das que atendem também”, conta Mario de Oliveira.
“A espera no SUS é muito grande. E isso é muito triste. A mamografia é de extrema importância no combate ao câncer de mama, pois o que é detectado de início pode ser tratado e até curado”, diz Ana Cristina, técnica de mamografia e uma das atendentes da unidade móvel. Segundo Edna da Silva, que também atende na unidade móvel, há uma incidência maior dessas enfermidades nas mulheres do interior justamente por conta do pouco acesso ao atendimento hospitalar. “Participo do Projeto Margarida na cidade de São Paulo e em várias cidades do interior de outros estados. Nessas cidades, as mulheres correm muito mais riscos porque o acompanhamento médico é ainda mais escasso. A gente fica impactada com isso, pois já nos deparamos com casos que poderiam ter sido evitados se a ajuda médica fosse mais acessível e se os exames fossem feitos antes. Então oramos também, conversamos e tentamos dar qualquer outro tipo de apoio. Este é um projeto muito importante.”
Maria das Dores foi uma das pessoas atendidas pelo Margarida na cidade de São Paulo. E mesmo sendo moradora da maior cidade do país, ela ainda diz que as condições dos atendimentos médicos são muito ruins. “Eles vivem prometendo melhorar, mas é tudo muito complicado. Eles falam que vai ter médico, mas não tem. Você fica esperando um mês, dois meses para ser atendido. Tratamento não tem. Ficam só na promessa, mas na verdade não tem nada. Eu tive alguns nódulos nos seios e fui obrigada a esperar mais de 6 meses pela mamografia. Precisei de biópsia também. Tudo foi com muito sacrifício porque tive de pagar. Ainda bem que no fim não era nada grave, ou eu poderia ter morrido. Isso aconteceu há seis anos e até hoje espero pelo tratamento. Por isso eu acredito que a ajuda só vem de Deus. E este trabalho da Quadrangular é maravilhoso. Nem todo mundo tem condição. Todo tipo de mulher vem aqui. Não tem cor, não tem raça, não tem religião.
No projeto somos atendidas porque precisamos e isso é muito importante.” Taís do Nascimento, que também foi atendida pelo Margarida, diz que não conhecia este projeto, mas acabou sendo surpreendida quando viu o ônibus colorido passando próximo ao seu trabalho. “O ônibus rosa me chamou a atenção. Me aproximei e perguntei ao segurança do que se tratava. Acabei entrando e fiz o exame. Aproveitei e foi tudo muito rápido.” Mario de Oliveira afirma que as intenções da Igreja Quadrangular é expandir cada vez mais o projeto. O propósito posto por Deus em seu coração é o de ter pelo menos uma unidade móvel por estado no Brasil. “Infelizmente é um trabalho muito caro e também um pouco demorado por conta da complexidade dos equipamentos e também para a obtenção das licenças e dos atendentes que precisam ser profissionais do ramo.
O projeto é muito sério, não pode ser feito de qualquer maneira”. Além disso, é preciso contar com uma equipe que esteja dedicada não só ao atendimento técnico, mas também que seja capaz de aconselhar, orientar, dar apoio emocional e psicológico. “Foi muito importante o que a Taís nos disse. No Projeto Margarida recebemos todas as mulheres. Por isso, é necessário ter também o preparo para aproveitarmos a oportunidade e anunciarmos Cristo por meio desta obra”, diz Mario de Oliveira.
Desde 2008, o Brasil começou a ver iniciativas mais frequentes de campanhas de conscientização da prevenção do câncer de mama. O Outubro Rosa é um movimento que começou nos Estados Unidos na década de 1990 e que agora se espalhou pelo mundo com o objetivo de reforçar a importância do cuidado à mulher e de alertar a sociedade que o diagnóstico precoce tem 95% de chances de cura.
No entanto, Mario de Oliveira acredita que isso ainda é pouco. “As mulheres precisam ser alcançadas. Nessas campanhas informam que a quantidade de mamógrafos no Brasil não é ruim, o problema está na distribuição deles no território brasileiro. E esta é a grande relevância do Projeto Margarida, pois levamos o mamógrafo onde não tem justamente porque temos as unidades móveis”.
Sendo assim, Mario de Oliveira reafirma que “o Projeto Margarida tem mostrado que não é só outubro o mês das mulheres, pois a elas dedicamos o ano inteiro”.