Por Bueno Júnior
Nestes tempos modernos, a cada dia somos surpreendidos por modismos que se manifestam no meio do povo cristão evangélico. Alguns com a proposta de entretenimento, outros com a proposta de contextualização do evangelho e outros, sem nenhum entendimento e sem proposta cristocêntrica, apenas criam programas com o propósito de encher os templos que, em sua maioria, estão cheios de pessoas vazias.
Daí surge uma pergunta: até onde a ousadia, a releitura, a contextualizado, a modernização não conflita com o genuíno evangelho? Quando faço estas perguntas não ouso propor respostas e nem fazer juízo de valores, apenas proponho uma reflexão sobre o tema, buscando em mim, um ponto de equilíbrio para não ser retrógrado, como também não me perder no propósito. Também me eximo da citação de pessoas ou programas para não correr o risco de ser injusto e muito menos, rotular quem quer que seja; portanto me atenho, apenas, na provocação da reflexão.
Olho para a vida de Moisés e vejo duas situações antagônicas, quanto as ações, mas carregadas de verdades, o que me leva a considerar que: “nem tudo que dá certo, está certo; e nem tudo que dá errado está errado”, senão vejamos:
Deus fala a Moisés que se apresentasse a Faraó e pedisse deste, a liberação para o povo ir ao deserto para adora-Lo. “… ao rei do Egito e lhe dirás: O Senhor, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao Senhor, nosso Deus. Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte”. (Ex 3.18-19). Deus fala a Moisés: você vai se apresentar ao rei, pedirá para deixar meu povo sair para Me adorar, mas eu já sei que ele não irá concordar! E como se não bastasse, isso se repete por sete vezes, com todo o contexto que você deve conhecer muito bem!
Como sabemos o resultado final da saga, não nos incomoda o fato de Moisés ir sete vezes a Faraó, pedir algo já tendo de Deus a resposta de que o rei não deixaria. Se eu, você, não soubéssemos a proposta final, iriamos? Como nossos colegas de ministério nos avaliaria por tantas tentativas frustradas? Como estaria nosso ânimo, nossa motivação, nosso foco, se contabilizássemos tantos desacertos? Como ficariam aqueles que medem o êxito do seu ministério pelo resultado? Mesmo sabendo que não estava dando certo, Moisés persiste fazendo o que Deus mandara, pois ele sabia que isto tudo tinha um propósito! Em cada praga, Deus desafiava as principais divindades egípcias, porém creio que, a princípio, isto não estava claro a Moisés e muito menos ao povo hebreu.
Em outra situação, este mesmo Moisés, recebe a ordem de Deus para ferir a rocha, este fere e sai água (Êxodo 17); em Números 20, não se sabe ao certo o que Deus se ira contra Moisés, pois o texto não deixa claro; apesar de alguns afirmarem que ele deveria apenas falar à rocha; outros que ele deveria ferir apenas uma vez e não duas, mas o certo é que a cobrança do Senhor é por ele não ter SANTIFICADO AO SENHOR. A questão aqui é: “Ele fez algo errado e deu certo”. Água saiu da rocha e dessendentou o povo; porém Moisés foi repreendido pelo Senhor e punido por tal atitude.
Aqui temos, na mesma personagem bíblica, dois casos típicos de fazer o que não dá certo, mesmo estando certo; e fazer o que dá certo, porém estando errado. O que se me apresenta como ponto de reflexão é que devemos estar alinhado com o propósito e não com o resultado. Por experiência própria, podemos focar tanto no resultado, que corremos o risco de comprometer o propósito para o qual existimos como igreja, para o qual exercemos nosso sacerdócio, para o qual fomos chamados.
Onde estamos buscando aprovação? No ego, no reconhecimento humano, na conquista dos interesses pessoais, nas pessoas próximas a nós, ou em Deus? O que pesa em nossas ações e decisões? Agradar a nós e aos homens ou agradar a Deus? Se pudermos agradar aos céus e a terra, ótimo; mas se tivermos que optar, o que pesará em nossas decisões?
Acredito que não fomos chamados para “dar certo”, para “dar resultado”, mas para fazer o que é certo e agradar o coração daquele que nos vocacionou. Temo que venhamos correr em vão e não cumpramos a carreira que nos foi proposta. Eclesiastes 2.10-11 encontramos a reflexão de Salomão sobre sua caminhada: “Não me neguei nada que os meus olhos desejaram; não me recusei a dar prazer algum ao meu coração. Na verdade, eu me alegrei em todo o meu trabalho; essa foi a recompensa de todo o meu esforço. Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há qualquer proveito no que se faz debaixo do sol.”
Em contraste, quando Apóstolo Paulo, vai avaliar sua caminhada pessoal e ministerial, o juízo não se alicerça nos resultados, apesar de os ter em abundância, mas no propósito, no chamado: “Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.” (2 Timóteo 4:6-8).
Isto tem me provocado; tem me levado ao lugar secreto, para buscar do trono a avaliação da minha vida e do meu chamado e confesso que não me sinto confortável com que o Pai tem mostrado! Que o Senhor tenha misericórdia de mim, que o Senhor tenha misericórdia de nós, que o Senhor tenha misericórdia de nossa geração! Que não tenhamos a nossa vida por preciosa, para nós mesmos, contanto que completemos a nossa carreira e o ministério que recebemos do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus.
Bueno Júnior