No dia 01 de julho, o ecoteólogo Leonardo Boff, cujos trabalhos foram condenados pela Santa Sé na década de 1980 e o ex-presidiário Luis Inácio Lula da Silva, realizaram uma conversa ao vivo disponibilizada no Youtube em que o ex-presidente afirmou que o Partido dos Trabalhadores, que apoia institucionalmente causas como o feminismo e o aborto, não existiria se não fosse a Teologia da Libertação e o trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
O diálogo sofreu duras críticas por parte de católicos brasileiros por esta declaração mas também por outros fatos narrados no diálogo entre os dois.
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Primeiramente, Boff afirmou que quando ainda era sacerdote (vale recordar que ele deixou o estado clerical na década de 1990, afirmando ter-se autopromovido ao estado laical), celebrava missas com a presença de Lula da Silva, mas em algumas ocasiões era Lula quem “fazia as homilias”.
Boff diz ainda que o ex-presidente, sobre quem segue pesando uma condenação a 17 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, é um “líder religioso e político”.
Lula por sua parte, afirma categoricamente que “o PT não existiria se não fosse a Teologia da Libertação”.
“O PT não existiria do jeito que ele existe se não fossem as Comunidades Eclesiais de Base. Eu que viajei o Brasil inteiro para construir esse partido, eu sei o valor de um padre progressista”, comenta o ex-presidente e acrescenta: “As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) não entraram no PT, as CEBs fundaram as células do PT”
As Comunidades Eclesiais de Base surgiram por volta do final da década de 60, promovendo um tema da Conferência Geral do Episcopado Latinamericano em Medellín no ano de 1968. Tratava-se da opção preferencial pelos pobres. Destacava-se como uma forma de organização pastoral alternativa às paróquias e chegou a receber apoio de alguns bispos brasileiros. Entretanto com o seu crescente envolvimento com movimentos sociais e agentes políticos, as CEBs, sob a orientação de outro conhecido teólogo da libertação, o dominicano Frei Betto, se tornaram nichos de propagação do amplamente denunciado marxismo cultural na Igreja.
Lula citou a relação com Leonardo Boff e outros membros do episcopado brasileiro da década de 70 e 80 como importantes agentes da gênese do seu partido.
“Foi a relação com você, e com outros ‘companheiros da Igreja’, como padres…Foi a relação que tive com Dom Claudio Hummes, Dom Angélico, que tive com bispos do Acre, de Rondônia, Dom Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes e milhares de movimentos sociais que me fez ser quem eu sou”, declara Lula.
Dom Claudio Hummes foi bispo de Santo André, berço do movimento sindical do qual fez parte Lula da Silva e mais tarde Arcebispo de São Paulo e Prefeito para o Clero em Roma. Hoje, já aposentado dedica-se ao apostolado da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM) e a recém criada Conferência Eclesial Amazônica (CEA). É conhecido defensor de temas como a ordenação de homens casados e promove a criação de um rito amazônico para a liturgia.
Os outros bispos citados por Lula foram Dom Angélico Sândalo (que celebrou a liturgia multitudinaria no dia que o ex-presidente foi encarcerado após resistir ao mandato da Polícia Federal e deu uma especial bênção a Lula), Dom Paulo Evaristo Arns, que foi arcebispo de São Paulo e Dom Luciano Mendes, falecido Arcebispo de Mariana (MG). Junto com Dom Helder Câmara, que foi Arcebispo de Recife e Olinda, eles foram alguns dos maiores expoentes da Teologia da Libertação no Brasil.
“Eu sou na política um pouco filho do movimento sindical, dos movimentos sociais, um pouco filho da Teologia da Libertação”, arrematou o ex-presidente.
Esta não foi a primeira vez que Lula fez a conexão entre a Teologia da Libertação e a gênese do seu partido, que sempre se identificou com causas que a Igreja condena como o matrimônio homossexual, o feminismo e o direito ao aborto.
Em um vídeo gravado em um voo privado, quando ainda era presidente, Lula faz uma comparação entre ele e Lech Walessa, católico que foi presidente da Polônia. Lula dizia que Walessa era presidente da Polônia porque era “fruto da Igreja conservadora” enquanto Lula se dizia “fruto da teologia da libertação”.
Por sua parte, o conhecido núcleo de formação católica brasileiro, Centro Dom Bosco lançou um vídeo criticando ainda comentários de Boff ocorridos na conversa à reunião entre alguns líderes de canais católicos com o presidente Bolsonaro. Boff afirmou que estes pregam um cristianismo “meramente devocional” e os critica por não buscarem “a transformação social” nem falara do tema dos pobres e da justiça social. O vídeo do Centro Dom Bosco lamenta ainda uma piada de Lula sobre um padre conservador (fiel à doutrina católica) que nega conselhos de esperança a um cidadão pobre que perdeu o emprego, mencionando ironicamente a passagem evangélica das Bem-aventuranças.
“Nesta live alguns assuntos perturbadores sobre a influência do Partido dos Trabalhadores na Igreja foram abordados descaradamente. É possível perceber que a influência marxista desde antes da fundação do PT foi arquitetada com o apoio de padres apóstatas. Resta-nos perguntar: quando os católicos tradicionais serão tão bem recebidos pela hierarquia como esses foram?”, afirmam na descrição os membros do CDB.
Confira aqui o link do vídeo do Centro Dom Bosco:
https://www.youtube.com/watch?v=E1dE2foInX0
(Com ACI Digital)