Por Gutierres Fernandes Siqueira*
O homem é imagem de Deus. Esse princípio bíblico expresso no primeiro livro das Escrituras é o fundamento último da dignidade humana. Não há ser humano nesta terra, independente da cor, gênero, etnia, cultura ou posição social que seja menor em importância diante de Deus e de uma sociedade mergulhada nas Sagradas Letras. Do Pentateuco aos Evangelhos, a Bíblia ensina o respeito pelo direito alheio. A Lei não era propriedade de Moisés, a Lei estava acima de qualquer liderança impositiva. A Lei vinha direto do próprio Deus, ou seja, mesmo Moisés estava abaixo dela. A Lei não era fruto do arbítrio humano e por isso, só por isso, poderia garantir a dignidade do órfão, da viúva e do estrangeiro. No Evangelho, igualmente, Jesus dignificou a mulher, o estrangeiro e pobre. Jesus, ele mesmo, não veio como um homem poderoso e rico, mas como uma criança da pobre Galileia cujos pais precisaram se refugiar no Egito com medo da tirania de Herodes.
É um dever cristão defender os direitos humanos, sem priorizar um em detrimento de outro. Cabe defender a liberdade e a igualdade. Cabe combater o totalitarismo coletivista e o individualismo exacerbado. Cabe defender a assistência aos pobres, mas ao mesmo tempo combater o assistencialismo enquanto bandeira de líderes populistas e espertos, que ganham eleições explorando o pobre como dependente de uma migalha. Cabe combater o predatismo de alguns empresários que colocam o lucro acima da dignidade da pessoa humana, assim como o predatismo estatal com seus pesados impostos. O Evangelho não é um “ismo”, ou uma ideologia; é, isso sim, o juiz de todas as ideologias.
Os direitos humanos não são apenas para humanos direitos. Quem assim pensa esquece que Deus, Ele próprio, protegeu Caim, o assassino, da fúria do justiçamento vingativo. Aliás, nada mais longe do Evangelho do que a turba de uma multidão que confunde vingança e justiçamento com justiça. Jesus, Ele próprio, foi vítima de almas exaltadas pelo desejo de sangue e pelos julgamentos sumários. Em tempos de linchamento virtual e até real, é necessário lembrar que a turba assassina matou Jesus, Estêvão e inúmeros mártires cristãos no Coliseu Romano nos séculos seguintes.
Perante Deus, como disse Paulo aos gálatas, não há homem ou mulher, escravo ou livre, judeu ou grego. Sim, em Cristo, somos um.
*Título original – Ética Cristã e Direitos Humanos