– O Boko Haram – um grupo jihadista de extremistas radicais islâmicos baseado na Nigéria, mas ativo também em países vizinhos como Chade e Camarões –, parece decidido a levar o caos e a disseminar o terror aonde quer que estejam atuando. Apesar de declarações do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari – oficial aposentado de alta patente do exército nigeriano – ter declarado no final do ano passado que operações de contraterrorismo reduziram o Boko Haram a pouco mais que uma pequena célula terrorista com potencial destrutivo irrisório, o grupo jihadista não parece nem um pouco enfraquecido ou perto de uma possível dissolução.
Depois que atritos entre as principais lideranças do grupo dividiram-no em dois, o núcleo organizado que ficou sob o comando do temido terrorista Abubakar Shekau parece ter se tornado uma ramificação do Estado Islâmico na África, o que certamente potencializa o seu caráter destrutivo, e amplia sua área de atuação. Uma das grandes preocupações que atualmente intensificam-se com a militância do grupo jihadista é a expansão de suas atividades nos países vizinhos, e acima de tudo, o sequestro de crianças, recrutadas à força para tornarem-se membros da facção. Em determinados casos, diversas crianças de uma mesma família acabam sendo abduzidas, para desespero de seus pais e familiares.
Em virtude do fato de que o exército nigeriano têm intensificado suas ofensivas militares contra os jihadistas, estes, invariavelmente enfraquecidos, viram-se obrigados a recuar, e a realocarem-se em outras regiões. Entre os locais escolhidos pelos militantes extremistas para reagruparem-se, estão, de acordo com determinadas fontes, diversas ilhas do Lago Chade, local geograficamente estratégico e muito propício para o escopo de atuação do grupo extremista, justamente por situá-los no eixo dos quatro países que cercam o lago – Chade, Camarões, Níger e Nigéria – a área de atuação do Boko Haram.
Intervenções militares da parte dos Estados Unidos, embora tenham se mostrado de relativa relevância, à princípio, na verdade pouco fizeram para reverter as calamidades cada vez maiores, provocadas pelo agravamento da situação. Na melhor das hipóteses, podem ser consideradas inequivocamente inexpressivas, em função de sua flagrante falta de resultados práticos. O apoio da Casa Branca veio, aparentemente, depois uma série de sucessivos ataques suicidas do grupo de militantes, aparentemente sua marca registrada, e principal forma de atuação. Dois dos ataques mais violentos ocorreram no final do ano passado, no que parecem ter sido ataques simultâneos orquestrados, perpetrados na cidade de Baga Sola, no Chade. Um deles, em um mercado, e outro, em um campo de refugiados nas proximidades. Ambos os ataques deixaram um número total de quarenta e um mortos, incluindo os cinco terroristas responsáveis. Entre os militantes suicidas, foram identificados duas mulheres e duas crianças.
Durante uma das mais disputadas e ambiciosas operações realizadas pelo exército nigeriano, foi possível conquistar territórios controlados pelos militantes, que, acuados, viram-se obrigados a recuar para a Floresta de Sambisa, no nordeste da Nigéria. Visivelmente enfraquecidos com agressivas ofensivas da parte dos militares nigerianos, o Boko Haram sofreu progressivas perdas territoriais com o avanço das tropas, que libertou centenas de mulheres e crianças que estavam sendo mantidos cativos pelos militantes, em diversas ocasiões. Especialmente nos meses de maio e outubro do ano passado, estima-se que, entre mulheres e crianças, mais de mil reféns foram resgatados pelo exército nos quartéis generais do Boko Haram, na Floresta de Sambisa. O grupo militante abduzia mulheres e crianças especialmente com a intenção de força-los a atuarem como terroristas em operações suicidas.
Não obstante, o Boko Haram parece ser uma ameaça que está longe de ser suplantada ou suprimida. Se as informações que a imprensa internacional anda disseminando, à respeito da facção de Abubakar Shekau ter se tornado uma célula do Estado Islâmico no continente africano – o que vêm a ser uma possibilidade – a realidade que se projeta para quem vive nos países onde o Boko Haram vem atuando passa a ser cada vez mais sombria, e a capacidade do governo, com ou sem o auxílio de tropas aliadas, de responder de forma efetiva aos ataques e enfrentar de maneira eficiente a ameaça que o grupo terrorista representa, infelizmente não está mais forte hoje, do que estava quando o Boko Haram tornou-se ativo.