Procure não ser tão convencional. Alguns conselhos: aposente a gravata, calce as chinelas, leia mais livros desnecessários. Largue os clichês. Questione. Não tenha medo de se expor. Tome o lado do excluído. Fuja tanto do otimismo quanto do pessimismo – simplórios vivem à espera de um mundo cor de rosa e amargos não sonham a não ser com a desgraça.
Procure desafiar as margens. Se estiver em ambientes onde impera a unanimidade, duvide. Destoe na manada. Lembre a você mesmo que os escrúpulos mais melindrosos escondem demagogos. Se for cristão, tenha coragem de citar Tiago 5.1-6 no estudo bíblico em que todos aceitam a exclusão social, sem se darem conta do pecado estrutural: Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a desgraça que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que vocês retiveram com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência”.
Não abandone seus gostos musicais só para ficar bem no ambiente. Se discutem jazz e você gosta de pagode, fale. Se a sutileza da bossa-nova lhe fascina, confesse. Elogie a poesia do Chico mesmo em ambientes politicamente carregados. Se você curte canto gregoriano e no bar ninguém tolera, não se omita.
Não perca a vida com o politicamente correto. Por outro lado pare de gabar-se do sedentarismo. Surpreenda. Durma cedo e acorde de madrugada. Vá nadar, pedalar, correr. Se depois tiver vontade, desfrute a sobremesa calórica da hora do almoço. Caso um bicho-grilo-naturalista-vegetariano-protetor do meio ambiente posar de guardião da vida, peça para ele explicar por que fuma.
Leia sobre o anarquismo cristão. Proponha a si mesmo uma espiritualidade madura, que prescinde de leis, intermediação sacerdotal ou instituição. Apenas tome cuidado para não se exilar da comunidade dos irmãos; pertençam ou não à sua confissão, gênero e etnia.
Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim é escritor e teólogo, presidente da Convenção Betesda Brasil. E-mail: ricardogondin2@gmail.com