Durante o Ramadã (mês sagrado do islamismo), fiz uma viagem muito especial ao Oriente Médio. Como atuo com mobilização de igrejas durante essa época do ano, tinha tudo a ver conhecer essa realidade do mundo muçulmano. Eu já conhecia o país que visitei, porém conhecer um país islâmico quando a população está vivendo o clima espiritual do Ramadã é completamente diferente.
Pude ver pessoalmente as coisas das quais ouvia falar, como o aumento da violência, sobretudo quando está chegando a hora da quebra do jejum. No Ramadã deste ano no Oriente Médio, em junho e julho, o sol se punha por volta de 19h45 (hora local). E depois das 17h, o fluxo de pessoas na cidade aumenta, pois elas estão voltando para casa, e taxistas só aceitam algum passageiro se este estiver indo para próximo de casa. O transporte coletivo é deficiente, então as pessoas se mostram um pouco apavoradas e aumenta o risco de brigas. Foi o que aconteceu quando eu o grupo com quem eu estava seguíamos para almoçar na casa de uma família ex-muçulmana. Subindo a rua, fomos obrigados a parar, pois dois homens se engalfinharam na frente do nosso carro a ponto de rolarem pelo chão. E tudo provocado pela falta de alimento e a crise espiritual que aquelas pessoas vivem.
No fim do dia, as pessoas estavam esgotadas. Imagine ficar o dia inteiro sem comer, beber água e nem engolir a saliva! A opressão é muito forte.
No almoço em outro dia, uma terça-feira, não tinha um restaurante aberto, apenas um McDonald’s com uma cortina na frente, e como os funcionários eram cristãos, foi tudo mais fácil, porém chamou a atenção o fato de não ter ninguém comendo.
Outro dia, voltando uma cidade, já eram 14h30 e não aguentávamos de fome, e fomos obrigados a parar em um drive-thru. O interessante é que o lanche veio, e eu fui o primeiro a comer. Estávamos em uma van, e o senhor que nos atendeu ficou muito chateado.
Depois, outro integrante do grupo comeu, e no carro que estava atrás do nosso, dois homens soltaram todo tipo de impropérios a nosso respeito e fizeram gestos. O veículo deles tomou outra direção, e pudemos perceber o que nossos missionários nessas regiões passam e como é educar filhos nessa realidade.
Ao cair da noite, quando o jejum é quebrado, participamos de todo o ritual, e as pessoas se mostravam muito disciplinadas, obedientes à espera de um Deus que possa ouvir seus gritos e anseios. E aí descobrimos qual o nosso papel.
No texto bíblico a partir de Marcos 6.34, podemos extrair algumas verdades e aplicá-las em nossa vida. O povo estava ali desesperado, sem orientação. Entendemos que Jesus resolve todo o desespero do homem, vendo que não podemos enxergar, como o corpo físico clamando por alimento e a alma necessitada.
A segunda verdade nesse texto é a urgência da obra, pois Jesus diz que a multidão se comportava como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar. Precisamos entender que essa necessidade é para ontem. Conversei com missionários nessa viagem e eles me disseram: “As pequenas oportunidades são as grandes chances que Deus nos dá para a gente revelar de alguma forma o amor do Senhor por eles”.
A terceira coisa que mais me toca nesse texto é a transferência de responsabilidade. Quando os discípulos falam para Jesus despedir o povo, pois este precisa ir para buscar algo para comer, eles estão dizendo que não são os responsáveis por isso. Porém eles recebem uma palavra de Jesus que os traz de novo para a história e faz vir a minha consciência a minha responsabilidade: “Dai-lhes vós de comer”.
Multidões precisam tomar conhecimento da glória de Deus, pois é ela que vai mudar tudo o que vimos e vemos. A missão é anunciar o Evangelho, fazer cumprir o chamado de Jesus, pois Ele estará conosco todos os dias até acabar tudo (Mateus 28.19-20). Só a glória de Deus pode preencher o vazio do ser humano.
Kelson Franco-missionário mobilizador (Missões Mundiais)