Da Redação JM Notícia
Após ser cancelada na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, a peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” se tornou um sucesso nas cidades por onde passou e o motivo é um só: ver um travesti interpretando Jesus.
A obra, escrita pela dramaturga escocesa e transexual Jo Clifford, é representada pela travesti Renata Carvalho (que não é transexual) que revelou à revista Veja que “mergulhou em Jesus” para conseguir entrar no papel.
“Como toda atriz, mergulhei de cabeça no meu personagem. A vida de Jesus é um assunto que me agrada, sempre pesquisei o tema religião”, declarou.
Renata não tem religião, mas sim religiosidade. “Acredito numa força maior. Gosto de Santo Expedito, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, mas também de Oxum. Eu respeito todas as religiões.”
A ideia de representar um Jesus transexual tem ligação com sua própria história de vida. “A ideia é que Jesus tenha a identidade da atriz que o encarna no palco. E eu sou travesti. Os meios de comunicação, aliás, evitam a palavra travesti: preferem me chamar de trans. Mas não sou trans. Eles usam esse termo para higienizar. E é isto que nós, artistas travestis, queremos: um papel que nos represente.”
Mas essa representatividade teve um preço: Renata foi alvo de inúmeras críticas, pois para muitos colocar Jesus como um travesti ou transexual é uma blasfêmia e desrespeita a fé de mais de 80% dos brasileiros que se consideram cristãos.
No Facebook Renata recebeu inúmeras críticas e até mesmo ameaças. “Sou travesti e conheço bem o preconceito e a hipocrisia. É só ir à minha página no Facebook para ver que há pessoas que até me ameaçam de morte.”
Ela entende que são ataques vindos de pessoas religiosas. “Fico triste porque são ataques de ódio baseados em fundamentos religiosos que não têm sentido. Quem nos ataca não leu a Bíblia, porque Jesus estava do lado dos excluídos.”
Atriz lamenta cancelamento de peça
A peça cancelada em Jundiaí foi uma decisão da Justiça a pedido de uma advogada da cidade. O julgamento, porém, deixou Renata “arrasada”.
“Fiquei arrasada. A liberdade de expressão foi tirada de mim. Mas vamos levar a peça para outros lugares”, declarou ela. E de fato a peça foi para outras cidades como São José do Rio Preto (SP) e Porto Alegre (RS).
O monólogo traz falas da atriz sobre ensinamentos da Bíblia para valorizar mulheres, homossexuais, prostitutas e transgêneros.