O mercado de games é um dos que mais cresce no mundo: no ano passado, só no Brasil, o faturamento do setor atingiu 1,5 bilhão de dólares. O acelerado desenvolvimento se deu graças a popularização das tecnologias e da propagação da cultura pop/Geek.
Com premiações milionárias e reconhecimento mundial, as equipes que competem oficialmente apostam em roupas para praticar esportes, joysticks desenvolvidos exclusivamente para cada integrante, equipamentos e acessórios de última geração. Tudo para mergulhar de vez nesse universo, cooperando para o crescimento e definição dos games como categoria profissional.
O progresso dos games, com computadores e equipamentos mais desenvolvidos, foi ponto fundamental para a evolução técnica da área. Um passo incrivelmente inovador foi dado com a ascensão de jogos online, por exemplo. Essa modalidade oferece aos gamers a chance de interação com pessoas do mundo inteiro mesmo sem ter que sair de casa.
A comunicação operacional, isto é, a necessidade de trocar informações e tarefas durante a prática dos jogos em rede é outro processo merecedor de reconhecimento, uma vez que foi outro processo de desenvolvimento dos games. Porém, é nele que se reflete um imenso e profundo problema social: o machismo.
Mulheres no mundo gamer
Segundo estudo realizado pela Pesquisa Game Brasil, 58,9% dos jogadores brasileiros são mulheres. Ou seja, o público feminino é a maioria no Brasil, mas grande parte das atletas profissionais e das mulheres que jogam amadoramente relatam sofrer algum tipo de assédio em chat ou conversa de áudio.
Onde os ataques são rotina
Esses ataques e assédios costumam acontecer em partidas multiplayer, nas quais os jogadores devem se ajudar para completar as etapas, havendo, portanto, uma divisão de tarefas. E o simples fato de uma mulher ser peça fundamental para o andamento da atividade, já é motivo para hostilidades.
Quando os gamers identificam as mulheres, passam a solicitar-lhes funções secundárias, ou seja, elas começam a desempenhar serviços não tão relevantes assim na partida. Especialistas da área afirmam que esse tipo de prática pode ser entendida como cyberbullying, isto é, um bullying que acontece no ambiente virtual.
Além de serem direcionadas a tarefas mais simples, como no caso dos jogos multiplayer, elas também são constantemente desafiadas a provar que conhecem técnicas e a história do universo game. Também enfrentam assédio e o famoso mansplaining – quando o homem interrompe muito ou simplesmente não deixa a mulher falar.
O machismo, portanto, é um dos maiores desafios das mulheres nesse universo. Ou seja, não há tantos problemas de infraestrutura, nem de desenvolvimento técnico. Elas conseguem ter acesso a bons equipamentos, redes de internet rápidas e treinar, assim como os homens, mas o grande problema é o preconceito que enfrentam.
Impunidade incentiva o comportamento preconceituoso
Reflexo da estrutura social, os universos onlines ainda não contam com normas e regras fixas de penalidade para situações ofensivas. Assim, os assédios e abusos são recorrentes, sobretudo com as mulheres e minorias como as LGBT.
A visão de que a internet é uma “terra de ninguém”, na qual usuários podem trocar o nome de perfil e conta de acesso quantas vezes quiser, impossibilita o rastreamento e consequente punição. Essa característica do anonimato confere ainda mais poder àqueles que usam a tecnologia como arma de inibição das mulheres.
Machismo é um problema social
E é válido lembrar que o machismo no universo dos games é reflexo da própria sociedade. Apesar dos avanços quanto aos direitos das mulheres nas últimas décadas, o Brasil ainda é considerado um país de cultura patriarcal e machista.
A tradicional educação que ensina que meninos serão homens fortes, dominantes e vencedores e que as meninas serão mulheres delicadas e donas de casa ecoa nesse espaço. Por isso, a inserção feminina fica comprometida.
O grande desafio é, portanto, lutar contra essa visão de que as mulheres são mais fracas ou que não podem jogar tão bem quanto os homens. Na verdade, a missão é mudar o pensamento da sociedade e fazê-la refletir e ajudar na plena inserção da mulher em todas e quaisquer atividades que ela queira desenvolver.