Da redação
Após um calvário de dez anos, a mãe de família paquistanesa Asia Bibi finalmente conseguiu chegar ao Canadá nesta terça-feira, 7 de maio, onde foi recebida pelos filhos e pelo marido. O estado de saúde dela é delicado e exige tratamento médico.
Uma saga de dor e fé
Asia Bibi é cristã, casada e mãe de 5 filhos. Ela foi presa e condenada à forca porque, em 2009, tomou água de um poço e foi acusada por vizinhas muçulmanas de “contaminar a água” por ser cristã. Diante da ofensa pessoal e à sua fé, Asia Bibi reagiu questionando:
“Eu acredito na minha religião e em Jesus Cristo, que morreu na cruz pelos pecados da humanidade. O que seu profeta Maomé fez para salvar a humanidade?”
Acusada por isso de blasfêmia contra o islã, ela viveu um aberrante calvário que despertou a indignação mundial. Entidades cristãs internacionais, em particular a católica Ajuda à Igreja que Sofre, comandaram uma intensa mobilização para salvar da morte a mulher tão arbitrariamente acusada e condenada.
A lei antiblasfêmia do Paquistão
Baseada na sharia, que é o rígido arcabouço legislativo islâmico, a lei paquistanesa da blasfêmia prevê punições rigorosas a qualquer pessoa que insulte Alá, o islã, o alcorão, Maomé e outras personalidades da fé muçulmana. As sentenças podem incluir de chibatadas até a pena de morte. Essa lei costuma ser manipulada para atender a interesses pessoais, o que inclui vinganças de todo tipo, inclusive de muçulmanos contra outros muçulmanos. É frequente que a minoria cristã no Paquistão seja alvo de acusações de blasfêmia contra as quais é quase impossível defender-se. Os abusos são facilitados porque até testemunhos sem provas são aceitos pelos tribunais.
Um processo no inferno
Asia Bibi foi jogada na prisão em 14 de junho de 2009. Um ano depois, foi condenada à morte pela acusação de blasfêmia. Desde 2013, após duas transferências de presídio, ela passou a fenecer em uma das três celas sem janelas do corredor da morte de Multan, no Punjab.
Em 2014, o Supremo Tribunal do Paquistão adiou o julgamento de um recurso porque 150 especialistas na “lei islâmica”, os muftis, simplesmente ameaçaram de morte qualquer um que viesse a ajudar os “blasfemos” do país. A partir daí, o caso parou no tempo. Em 30 de agosto de 2017, Asia Bibi completou 3.000 dias de encarceramento. Somente em abril de 2018 é que o presidente do Tribunal Supremo do Paquistão, Mian Saqib Nisar, anunciou que retomaria o julgamento que poderia definir a libertação de Asia Bibi. Ainda foi necessário esperar até 30 de outubro para que esse dia chegasse.
Amplo apoio cristão e humanitário
Milhões de cristãos de todo o planeta se mobilizaram ao longo destes anos para salvar Asia Bibi e dezenas de outras pessoas aprisionadas e condenadas simplesmente por causa da própria fé em diferentes países.