A recente confusão durante a Assembleia Geral da Assembleia de Deus CIADSETA-PA, em Sapucaia-PA, expôs uma crise crescente em convenções e ministérios evangélicos no Brasil: a luta pelo poder religioso. O episódio, repercutido pelo JM Notícia, envolveu o pastor Possidônio Martins Reis, presidente da CIADSETA-PA, e o pastor Valdemir Oliveira dos Santos, 62 anos, que preside a igreja local.
O confronto ocorreu quando o pastor Possidônio, acompanhado por cerca de 15 homens, tentou forçar a posse de um novo líder para a congregação, gerando tumulto e cenas lamentáveis. Segundo testemunhas, Possidônio tomou o microfone das mãos de Valdemir Oliveira à força e deu-lhe um empurrão, intensificando a tensão durante a votação que decidiria o vínculo da igreja local: permanecer na CIADSETA-PA ou aderir à recém-criada CONFRADESPA.
Assembleia
Apesar do clima de conflito, a Assembleia Geral Ordinária foi concluída. Por unanimidade, os membros presentes aprovaram a adesão à CONFRADESPA, sob a liderança do pastor Marinaldo Soares. “A turbulência passou e seguimos com o propósito de fazer o IDE de Jesus na cidade”, afirmou Valdemir Oliveira em entrevista ao JM Notícia no dia seguinte, destacando o apoio recebido de outros ministérios locais, como a Assembleia de Deus Missão.
Reflexão sobre a Crise de Valores
O caso chamou a atenção de líderes evangélicos em todo o país. O Apóstolo Sebastião Tertuliano Filho, presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos de Palmas (OMEP), publicou um artigo intitulado “O Poder Religioso e a Crise de Valores no Ministério”. Neste, Tertuliano alertou para os perigos da luta pelo poder nas convenções evangélicas e enfatizou a necessidade de um retorno à simplicidade e ao serviço cristão.
“A liderança eclesiástica não pode transformar o ministério em uma arena de disputas políticas. O foco deve ser o cuidado de almas, não números ou influência”, escreveu o apóstolo, citando Mateus 20:26 e 1 Pedro 5:2 para reforçar que o verdadeiro líder é aquele que serve com humildade, não busca lucro desonesto e prioriza a unidade do Corpo de Cristo.
Mercantilização da fé
Tertuliano também denunciou o que chamou de “mercantilização da fé”, referindo-se ao uso das anuidades ministeriais como negócios lucrativos. Para ele, isso deturpa a essência do ministério pastoral, que deve ser voltado à edificação espiritual e não ao ganho financeiro.
Impacto negativo
O apóstolo destacou que atitudes como as vistas em Sapucaia-PA mancham o testemunho da Igreja perante a sociedade e desviam o foco do propósito principal: levar as boas novas de salvação. “O poder no Reino de Deus está na transformação de vidas pelo Evangelho, não no controle humano ou institucional”, afirmou.
Apelo
Como solução, Sebastião Tertuliano Filho convocou os líderes evangélicos a retornarem à essência do Evangelho, priorizando o serviço, a comunhão e o foco em Cristo. “Que Deus nos ajude a lembrar que somos chamados para servir, não para dominar; para unir, não para dividir; e para edificar o Reino, não nossos próprios interesses”, concluiu o apóstolo.