Da redação JM
Entrevista com Pastor Mario de Oliveiraele fala sobre projetos sociais no Brasil. Confira
Pastor Mario de Oliveira, pode nos contar um pouco sobre sua trajetória na Igreja Quadrangular?
Mario de Oliveira: Desde muito cedo, eu me acostumei a assumir responsabilidades de um adulto. Para não deixar minha mãe sozinha na missão de criar cinco filhos, tive que trabalhar pesado junto com meu irmão, Antônio Genaro, a fim de lhe ajudar a compor a renda familiar. E, mesmo tendo passado por uma vida difícil, com tão poucos recursos, sempre segui em frente com ânimo e coragem.
Conforme os anos se passaram, muitas dificuldades surgiram. No entanto, pela graça divina, elas se acabaram. Isso porque eu me entreguei ao ministério do Senhor, pois eu me doei por completo ao serviço da obra. No entanto, essa escolha me rendeu uma grande batalha contra a discriminação religiosa da época.
No início, estranhei e discordei de minha mãe quando soube que ela estava frequentando uma igreja evangélica. Meus amigos começaram a zombar dizendo: “Mario, agora você é crente! Aleluia, irmão!”. Palavras estas intensificavam mais ainda a minha raiva. Por causa disso, resolvi ir para a igreja com o objetivo de perguntar ao pastor. Ao chegar, logo fui recebido com um amor e uma paz que só Jesus pode oferecer. E, daquele dia em diante, nunca mais tirei os pés da Igreja do Evangelho Quadrangular.
Alguns meses depois, eu já estava pregando em lares, cultos e praças. Tinha 19 anos quando ingressei no ministério como obreiro da Igreja. O amor pela casa de Deus aumentava cada vez mais. Além de evangelizar, pessoalmente, tão jovem, também abri dezesseis igrejas que estão distribuídas entre os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. As cidades contempladas foramBelo Horizonte,Para de Minas, Corinto,Ipatinga, Betim, Juiz de Fora,Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Itaqui, Uruguaiana, Assis e Lençóis Paulista
Em 1996, fui eleito Presidente Nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular e reuni, com sucesso, uma Comissão Especial para realizar a reforma estatutária, nos anos de 1998 e 1999. Por reconhecimento ao meu trabalho, fui reeleito em 2000, 2004, 2008, 2012 e 2016.
– Atualmente como é sua atuação na Igreja, uma vez que desenvolve também um importante trabalho político?
Mario de Oliveira: Renunciei ao mandato de Deputado Federal no ano de 2013, quando percebi que era necessário eu fazer uma escolha para dar continuidade ao trabalho de crescimento da igreja, o qual temos, desde então, tido ótimos resultados. Minha atuação na igreja como presidente é administrar com responsabilidade, atento às exigências governamentais, com o cuidado de zelar pela integridade da instituição. Temos uma equipe de profissionais, administradores, advogados, contadores, controllers e tributários, para compor a força-tarefa que visa manter em dia as obrigações legais e tributaristas da igreja, preservando, assim, sua imunidade fiscal.
– Quais os maiores desafios que o senhor considera ao assistencialismo? Como efetivamente os projetos sociais podem mudar a vida das pessoas?
Mario de Oliveira: O assistencialismo pode ser bom, mas essa ajuda momentânea talvez não seja o papel da igreja. Acredito que o auxílio acompanhado por uma assistência contínua seria o mais ideal. Mas louvo a Deus pelas ONGs que têm feito um trabalho muito bom no Brasil, principalmente com as camadas menos favorecidas da sociedade. Nós temos um trabalho de excelência junto à Secretaria Geral de Missões, na região da Cracolândia, em São Paulo. Temos atendido principalmente muitos adolescentes e jovens, pais de família que foram levados pelo vício das drogas. Nossa missão neste local é atender, assistir e, quando eles permitem, acompanhá-los até se livrarem do vício. Sempre com base na palavra de Deus, esses jovens são devolvidos às suas famílias prontos para viverem uma nova realidade.
-Alguma história interessante que deseja compartilhar?
Mario de Oliveira: Uma história que tem nos motivado bastante é a do nosso irmão Cláudio, que durante 20 anos somou momentos de altos e baixos, passagens por comunidades terapêuticas, noites nas calçadas e até mesmo encarcerado. Tudo devido ao uso abusivo de diversas substâncias, entre elas o “crack”.
Quando ele chegou em nossa Base de Missões em SP pela primeira vez estava vivendo na rua há dois anos, dormindo quase sempre nos mesmos lugares, alternando entre a Praça Roosevelt e a Rua Barão de Itapetininga, ambas no Centro de São Paulo.
Na primeira vez em que esteve presente em um atendimento, ele aceitou o desafio de lutar por uma melhora. Caminhou conosco em tempo integral por aproximadamente 5 meses, foi apoiado pelos programas do governo e, em alguns momentos, por outras missões cristãs que atuam no Centro de São Paulo.
Hoje, quase 3 anos depois, continuamos acompanhando o irmão Cláudio e temos nos alegrado com cada uma de suas conquistas. Uma das maiores delas foi na aquisição de um “Space Fox” zero km, adquirido por meio de financiamento em seu próprio nome, que ele utiliza em seu trabalho como taxista. Hoje ele mora em uma casa, na qual consegue pagar o seu próprio aluguel e após 18 anos sem ter contato com sua filha, voltou a se relacionar com ela e ajudar financeiramente o seu filho.
Como todo cristão, existem algumas áreas nas quais necessita continuar crescendo, mas temos visto seu avanço diário e nos alegrado com ele por mais de 24 meses sem nenhum uso de substâncias.
Que Deus seja louvado!
-Qual é a sua mensagem para as pessoas que gostariam de desenvolver projetos sociais, porém não encontram caminhos confiáveis para tal?
Mario de Oliveira: Eu gostaria de dizer que se você tem esse desejo, tem esse chamado, não desista! Sempre há instituições sérias às quais você pode se filiar. Já pegando carona, essa sempre foi a preocupação da Igreja Quadrangular. Todos os nossos projetos, que você pode conferir com a Secretaria de Missões, nasceram primeiramente no coração de Deus. Mas temos que ter o lado administrativo funcionando bem, sem nenhuma agulha fora do lugar.
-Quais os principais projetos sociais desenvolvidos pela Quadrangular atualmente?
Mario de Oliveira: São muitos projetos, mas vou citar talvez os principais: Projeto Lucas, Projeto Margarida, Casa da Provisão, Projeto Ribeirinhos, Povos Indígenas, Projeto SOS e muitos outros encabeçados pela SGM. Isso sem falar nos missionários espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Casa da Provisão
Mario de Oliveira: Desde 2000, a Casa da Provisão tem monitorado e atendido pessoas em situação de carência extrema, em especial, de crianças e adolescentes que se encontram socialmente vulneráveis. No total, já atende mais de 90 instituições, como casas de recuperação para dependentes químicos e as direcionadas a pessoas com diabetes, HIV ou câncer. Elas são amparadas mensalmente com cestas básicas, produtos de higiene pessoal, roupas, calçados e material escolar.
S.O.S
Mario de Oliveira: O Projeto S.O.S é administrado pela Casa da Provisão. Foi criado para atender às cidades mais carentes do estado de Minas Gerais. No entanto, seu trabalho se tornou tão notável e importante, que passou a suprir diversas cidades no Brasil e no mundo. Em parceria com a Cruz Vermelha, o projeto atua em locais atingidos por catástrofes naturais (como Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rondônia, Acre, Filipinas e Haiti) e leva ajuda material e palavras de esperança à população atingida.
O S.O.S. impulsiona a doação de alimentos, roupas, brinquedos e produtos de higiene pessoal e bíblias para serem distribuídos entre a população dos municípios mais necessitados. Todos os anos, missionários voluntários são enviados para evangelismo e atendimento. Após o impacto, muitas pessoas são batizadas e novas IEQs são abertas nessas comunidades.
Em 15 anos, o projeto já atendeu quase 150 cidades e entregou mais de um milhão de toneladas de alimentos, bíblias, roupas, medicamentos e itens de necessidade básica. Ao longo desse período, já foram evangelizados 89.770 adultos e 37.393 crianças.VEJA TAMBÉMPastor Pedro Lima, ex-secretário da CGADB, anuncia desligamento da Convenção Geral
Projeto Ribeirinhos
Mario de Oliveira: O Projeto Ribeirinhos apoia a população que vive às margens dos rios amazônicos, que têm como principal atividade econômica a pesca e pequenos roçados para consumo próprio. A SGM os ajuda na implantação de novas obras e na aquisição de barcos para que o evangelho possa chegar a toda comunidade.
O trabalho da Igreja tira-os de uma vida sem perspectiva para inseri-los em uma nova realidade, com força de trabalho, desenvolvimento e a presença de Cristo em cada lar, dando um horizonte às famílias ribeirinhas.
Projeto Margarida
Mario de Oliveira: O Projeto Margarida é uma ação da Coordenadoria Nacional de Mulheres, em parceria com a SGM, que tem como objetivo levar atendimento médico às mulheres carentes de todo o Brasil. O projeto utiliza ônibus com aparelhos de mamografia e eletrocardiograma para realizar, gratuitamente, exames de prevenção contra o câncer de mama e infarto.
Desde que foi criado, os ônibus já percorreram diversos estados do país e mais de 5.000 mulheres foram atendidas. Além dos exames, elas contam com aferição de pressão, medição de glicose, corte de cabelo, manicures, atendimento jurídico e psicológico, esclarecem dúvidas sobre saúde e recebem, principalmente, a mensagem e o amor de Jesus Cristo.
Projeto Lucas
Mario de Oliveira: O Projeto Lucas visa levar Jesus por meio de ações sociais, atendendo às regiões carentes de todo o Brasil e também no exterior. Por meio do projeto, profissionais voluntários da área da saúde atendem em ônibus equipados com consultório médico e odontológico, prestando cuidados clínicos, gratuitamente, à população. Entre os diversos serviços, estão: aferição de pressão, teste de glicemia e distribuição de medicamentos, além de atendimento odontológico para crianças, adultos e idosos.
Só em 2015, quase 50 mil pessoas foram atendidas pelos 16 ônibus da frota (unidades móveis de saúde), que percorreram 26 cidades, no Brasil e Paraguai.
Povos Indígenas
Mario de Oliveira: Para alcançar os povos indígenas, a SGM envia missionários às comunidades com o propósito de aprender a língua, cultura e costumes, e desenvolver um trabalho de evangelização. O trabalho missionário visa construir igrejas, levantar lideranças indígenas que possam pastorear os próprios indígenas por meio de relacionamento, testemunho, discipulado e tradução da Bíblia. O objetivo vem sendo alcançado: 6 indígenas foram integrados ao ministério Quadrangular como pastores e muitos outros estão sendo preparados para este ano.
Hoje, há projetos com as etnias Kaxinawá, Parakanã, Macuxi e Pataxó. É desenvolvido o trabalho de alfabetização e reforço em escolas, preparo de materiais didáticos e tradução da Palavra de Deus na língua nativa. O novo desafio é um abrir um Centro de Treinamento para formação de obreiros e pastores indígenas.
Para concluir, o senhor acredita que podemos mudar o rumo da vida de alguém que é atendido por um projeto social da igreja?
Mario de Oliveira: Sim, com certeza! Entendemos que isso é ser igreja. Desde a sua fundação aqui no Brasil, a Igreja Quadrangular sempre se preocupou com os projetos sociais. A Quadrangular é engajada com a sociedade, com os bairros, com a vizinhança. Jesus tinha essa preocupação. Ele ministrava a Palavra, mas também se preocupava com aqueles que tinham fome e sede. E quando a igreja invade os bairros, as casas, levando prevenção, saúde, há um envolvimento da igreja com o cidadão. Temos que entender que ser igreja não é somente abrir as portas e ministrar 2 horas de louvor e palavra. É levar o pão, abraçar, aconselhar, se importar verdadeiramente com o outro. Assim, a comunidade faz parte da igreja e vice e versa. Com um acompanhamento sério e em amor, cada cidadão sente-se amado e, naturalmente, há uma mudança em sua trajetória e em sua vida.
Caso queira, por favor, fique à vontade para colocar aqui suas considerações finais
Eu quero agradecer por essa oportunidade deste bate papo e tenho certeza de que essa entrevista vai contribuir muito para que outras pessoas conheçam um pouco mais da nossa querida Igreja Quadrangular. Uma igreja que nasceu no coração de Deus para o nosso coração!