A polícia de São Paulo anexou, junto ao inquérito que investiga se Patrícia Lélis foi mantida em cárcere privado pelo chefe de gabinete do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), um laudo apontando que a jornalista “a todo momento falta com a verdade”. O documento foi elaborado por duas psicólogas do Instituto Médico Legal em Brasília, em 2015, a pedido da delegacia que apurou outra denúncia de estupro que Patrícia teria sofrido aos 17 anos.
Patrícia, que acusa Feliciano de tentativa de estupro, foi indiciada nesta quinta-feira pela Polícia Civil de São Paulo por denunciação caluniosa e extorsão.
Nesse laudo, a que O GLOBO teve acesso com exclusividade, as duas psicólogas apontam que, “em relação a sua personalidade, Patrícia salienta uma atitude ora sedutora ora manipuladora e ora centralizadora de atenção, cujas características se ajustam a uma pessoa com tendência Histriônica”.
As profissionais chamam atenção, porém, para a necessidade de se fazer uma avaliação mais profunda para se decretar o Transtorno de Personalidade Histriônica, quando há um padrão de emocionalidade excessiva e necessidade de chamar atenção para si mesmo.
Durante essa investigação de estupro, também foi ouvida a psicóloga que atendia Patrícia e um ex-namorado dela. Os depoimentos também foram anexados nesse novo inquérito, aberto pela polícia de São Paulo.
À polícia de Brasília, a psicóloga Luzia de Sousa disse que Patrícia “detém transtorno de estresse pós-traumático, além de apresentar traços de mitomania, doença esta focada na compulsividade em mentir”.
Já Víctor Rossetti, seu ex-namorado, lembrou que ela “contava histórias fantasiosas” e que, “para dar credibilidade ao que inventava, se passava por outras pessoas”.
Por falta de provas nesse caso, o MP arquivou o inquérito em dezembro último.
Em nota, a defesa de Patrícia diz que que ela “não passou por nenhum tipo de perícia” e que “não existe nenhum laudo técnico nesse sentido” no inquérito policial elaborado em São Paulo. A advogada Rebeca Aguiar afirma ainda que o indiciamento nos crimes de denunciação caluniosa e extorsão foi precipitado, “já que nem todas as testemunhas sobre os fatos foram ouvidas e nem as nossas provas apresentadas”.
A acusação de cárcere privado contra Bauer está sendo investigada no 3º DP (Santa Ifigênia), pelo delegado Luís Roberto Hellmeister. Ele afirmou ao GLOBO ter a intenção de pedir prisão preventiva de Patrícia nos próximos dias. A acusação de estupro contra Feliciano está sendo investigada em Brasília.
— Vou pedir a prisão preventiva dela no relatório final, dada a periculosidade de Patrícia. Falta apenas juntar alguns laudos de vídeos e conversas por aplicativos, para sabermos se houve manipulação. Também quero saber se a lesão que ela apresentou ter adquirido com a agressão atribuída a Marco Feliciano pode durar três meses —explicou Hellmeister, que aponta já ter ouvido 14 testemunhas.
— Já tenho provas suficiente de que ela está mentindo, com ou sem laudo — conclui o delegado.
As penas previstas para esses crimes, somadas, podem variar de seis a 20 anos de prisão.
Ex-namorado fala de “história sem nexo” contra Bauer
O último namorado de Patrícia, Rodrigo de Oliveira, prestou depoimento nesta quinta-feira, em São Paulo, para falar sobre as acusações de cárcere privado contra Bauer. Os dois estiveram juntos nos dias em que a jornalista afirma ter sido ameaçada por ele. Rodrigo corroborou com declarações anteriores quanto ao comportamento de Lélis.
Segundo o escritor, que mora em Santos e conheceu Patrícia pelas redes sociais, o casal se encontrou no dia 30 de julho no hotel San Raphael, em São Paulo, onde permaneceu junto até o dia 3 de agosto. Nesta data, Rodrigo voltou para casa.
No depoimento, ele relata que Patrícia estava na cidade para fechar contrato com emissora de TV, onde seria comentarista. Ela chegou a apresentar um homem, identificado como Marcelo Machado, como seu empresário.
Em nenhum momento, relata Rodrigo, os dois cruzaram com Bauer. Patrícia não teria tocado em seu nome, mas lhe contara de um abuso que sofreu por Feliciano na Câmara dos Deputados.
“Em nenhum momento ela reclamou que estava sendo ameaçada ou que estaria em cárcere privado ou mesmo sequestrada”, disse ele, no depoimento.
Ainda na delegacia, Rodrigo fala que, já de volta a Santos, recebeu ligação de Patrícia dizendo estar sendo ameaçada de morte por Bauer caso não se retratasse publicamente das acusações contra Feliciano. Foi neste momento, conta ao delegado, que ele viu que “a história não estava tendo nexo”, e que tinha “muita ponta solta”. Deste dia em diante, lembra Rodrigo, os dois não mais se falaram.
Também nesta quinta, Hellmeister recebeu Patricia e sua advogada, a terceira que entra no caso. Segundo ele, a jornalista se manteve calada.
Com informações O Globo