Kleber Lucas é chamado de ‘endemoniado’ após evento em terreiro
Pedro Zuazo
Nas redes sociais, ele deixou de ser chamado de “adorador” — expressão evangélica dispensada a cantores gospel — e passou a ser tratado por “endemoniado” por internautas. Com mais de 3,6 milhões de seguidores no Facebook e quase 500 mil no Instagram, o cantor diz que prefere não ler as mensagens negativas e defende uma discussão ampla sobre a intolerância. Kleber Lucas, que tem mais de duas décadas de carreira, 14 discos gravados e venceu o Grammy Latino em 2013 de melhor álbum de música cristã, afirma que já esperava essa repercussão.
Não é a primeira polêmica em que Kleber Lucas se envolve. Atualmente casado com Danielle Favatto, ex-mulher de Romário, o pastor já foi alvo de críticas por ter se divorciado duas vezes. Em março deste ano, o pastor, que é fundador da Igreja Batista Soul, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, foi criticado por por cantar a música “Epitáfio”, dos Titãs, durante um culto. No mês seguinte, por ocasião do aniversário de três anos do templo, causou furor no meio evangélico ao convidar o Padre Fabio de Melo para participar das festividades.
— Foi um caldeirão de hostilidade. As pessoas questionavam como um pastor evangélico podia levar um padre para falar na igreja dele. Foi maravilhoso. O acolhimento do padre foi tal que quebramos o protocolo que tínhamos programado. Em determinado momento ele sairia da programação, mas gostou tanto que acabou ficando até o final. Ele nos respeitou e foi respeitado por todos — diz Kleber Lucas.
Nascido em São Gonçalo, na Região Oceânica do estado, Kleber Lucas acostumou-se cedo a manifestações racistas. Mas a maior delas aconteceu em 1997, quando estava em Goiás, e partiu justamente no ambiente evangélico. Na ocasião, Kleber ouviu de um pastor: “você é um preto safado, seu lugar é na favela”.
— Não me ofendeu tanto porque, a essa altura, eu já sabia quem eu era e qual era o meu lugar. Então, pelo contrário, aquilo me fez tomar a decisão de seguir meu caminho, graças a Deus. Não fiquei aprisionado na fala de um poderoso religioso — diz Kleber Lucas, que prefere não revelar o autor da ofensa.
Apesar dos ataques de racismo e intolerância religiosa, o cantor também recebeu, nas redes sociais, muitas manifestações de apoio.
— Nem todo cristão faz intolerância. Independentemente do credo, nós podemos e devemos ter uma convivência pacífica. A religião se propõe, em primeiro lugar, a uma conexão com o sagrado, e em segundo, a uma conexão com seu próximo. Preciso respeitar a fé do meu irmão — diz Kleber.
Para manifestar apoio ao pastor e cantor, os organizadores do evento no terreiro agora se mobilizam para um ato em solidariedade a Kleber Lucas. Será na próxima segunda-feira, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Centro. Com informações Extra