Fiscalização de barragens precisa ser revista, conclui Ataídes após debate na CMA

Se não houver uma revisão urgente nas ações de fiscalização de todas as barragens de rejeitos minerais do país, é grande o risco de novas tragédias socioambientais como a de Mariana, em Minas Gerais. Essa foi a principal conclusão da audiência pública presidida na quarta-feira, 9, pelo senador Ataídes Oliveira (PSDB/TO) na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle (CMA) do Senado Federal. Houve consenso, também, quanto à necessidade de se revisar a atual legislação, que deixa a cargo dos próprios empreendedores as ações de segurança e gestão de risco das barragens.

A audiência, que teve a participação do diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Telton Elber Corrêa, e do superintendente da Agência Nacional de Águas (ANA), Carlos Motta Nunes, foi solicitada pelo senador Ataídes. Ele argumentou que o desastre de Mariana ,  “acendeu o alerta de urgência máxima para a questão da segurança das nossas barragens” e que “zelar por segurança e por preservação ambiental é obrigação básica de qualquer governo minimamente responsável”.

Multas irrisórias

Ataídes observou que o valor das multas ambientais no Brasil é irrisório diante do valor cobrado em outros países e que menos de 2% das multas aplicadas pelo Ibama entre 2009 e 2013 foram de fato quitadas. “Mesmo se a multa chegasse à casa dos 20 ou 30 bilhões de reais, e fosse integralmente quitada, será que isso pagaria as vidas perdidas na tragédia de Mariana? A destruição de um vilarejo inteiro, a morte do rio Doce, a perda da biodiversidade? De jeito nenhum. Não existe dinheiro que compense tanta destruição”, ponderou.

O senador tocantinense cobrou explicações dos dois órgãos governamentais sobre a fragilidade da fiscalização nas 662 barragens de rejeitos de mineração e sobre a precariedade das informações prestadas pelas mineradoras. O Relatório sobre Segurança das Barragens divulgado pela ANA deixou claro que em mais da metade dos casos não se conhece nem o volume exato de rejeitos armazenados pelas barragens. As informações sobre o grau de risco das barragens também são incompletas e imprecisas.

Outro problema constatado na audiência foi a desestruturação do órgão fiscalizador desse tipo de barragem, o DNPM, que não tem recursos técnicos, orçamentários e humanos para conduzir as ações de fiscalização.

Nova legislação

O mais grave, no entanto, segundo os representantes do DNPM e da ANA, é o fato da Política Nacional de Segurança de Barragens delegar aos próprios empreendedores a responsabilidade pelas ações de segurança, pelas vistorias periódicas e pela gestão de risco. “Nossa fiscalização é de fato meramente administrativa e se baseia em informações autodeclaradas pelas próprias mineradoras”, criticou Telton Correa.

O senador Ataídes classificou essa situação de “absurda” e se comprometeu a trabalhar pela mudança da legislação, para que a segurança das barragens seja garantida e fiscalizada em todas as fases – do projeto, da construção e manutenção das barragens.