Nas últimas duas semanas, o pastor colombiano Jasar*, de 46 anos, esteve no Brasil para dar testemunhos sobre a perseguição religiosa na América Latina. A história dele é bem semelhante à de Paulo, que de perseguidor se tornou um cristão perseguido. Quando ainda era um guerrilheiro, na Colômbia, teve muitos sonhos e revelações, e Deus insistia em falar com ele de diversas formas. Com 22 anos, ele decidiu se entregar à Cristo e abandonou a antiga vida. Atualmente, ele é um parceiro da Portas Abertas, e exerce um ministério de treinamento e capacitação de líderes na região onde ele mesmo já perseguiu muitos cristãos.
“Assim como Paulo, eu fui um homem muito mau, mas Deus me transformou. Minha infância foi muito difícil, eu servia aos guerrilheiros. Cresci e me tornei um homem materialista, a filosofia tomava conta do meu coração e eu afirmava ser um ateu. Como todo guerrilheiro, detestei os cristãos e acreditava que eles eram todos espiões, além disso, eu também achava que eles não serviam para nada, não nos davam informações, não deixavam que levássemos seus filhos, não nos obedeciam e ainda serviam a Deus. É por tudo isso que os cristãos são vistos como inimigos dos guerrilheiros, por isso eles são perseguidos e mortos”, revela o pastor.
Ele conta que as principais estratégias para exterminar com o cristianismo são estas: “proibir as pregações, para que não haja novas conversões, perseguir e matar”. O ex-guerrilheiro conta que com 17 anos já liderava mais de 3 mil homens, 300 deles sob o seu comando direto e 32 que o acompanhavam sempre no pelotão. “Todos éramos iguais, acreditávamos que o ser humano nascia, crescia e morria, por isso não havia espaço para a espiritualidade. Quando saíamos nas ruas era para perseguir e matar. Numa dessas saídas, um cristão me ameaçou com a Bíblia, que era a arma dele. Mesmo com metralhadoras em sua cabeça, ele teve coragem de dizer ‘se você me matar, saiba que Jesus Cristo vai continuar vivendo’. Foi uma discussão entre um homem material e um homem espiritual”, lembra ele.
Jasar respondeu ao cristão: “Deixe de ser mentiroso, Deus não existe. Mas o homem continuou a ‘atirar’ em mim com aquela ‘arma’. Ele disse ‘se você me matar, terá que pregar em meu lugar, porque Deus tem um grande plano para sua vida, do qual você não poderá escapar’. E aquela foi a minha primeira experiência com Deus. Eu mandei o homem ir embora e os guerrilheiros não entenderam nada. Eu disse a eles que não matei porque me faltou vontade, mas a verdade é que eu tinha sentido a glória do Senhor”, diz. Depois disso, Jasar passou a ser perseguido pela voz do cristão em sua mente, o tempo todo, e então seus planos nunca mais deram certo e ele ficou tão perturbado que acabou sendo preso, torturado e ameaçado pelos soldados.
“Minha vida prosseguiu, as coisas foram mudando, mas eu ainda sentia ódio dos cristãos. Demorei para reconhecer que a guerrilha só existe no governo do mundo e ela busca o poder por meio de armas. Muitos líderes guerrilheiros fazem pacto com o demônio, para ter o corpo ‘fechado’ e ser protegido da morte. Numa noite, eu estava decidido a fazer um desses pactos, com Deus ou com o diabo. Antes de dormir, invoquei um deles. O diabo não apareceu. Então chamei o Deus dos cristãos, dizendo ‘se você existe mesmo, então apareça aqui e vamos fazer um pacto, mas ele também não apareceu. Naquela mesma noite, eu sonhei com Jesus, ele vinha numa nuvem, eu vi seus olhos como chamas de fogo e seu rosto lindo. Foi quando me converti de verdade. É duro lutar com Deus, pois ele sempre vence”, diz.
O pastor confessa que sua vida não tem sido fácil, mas que com Deus tudo é possível. A perseguição continua na Colômbia, o 46º país na Classificação da Perseguição Religiosa 2016, onde a liberdade é garantida só no papel, mas na prática, ser cristão é praticamente uma ameaça para o poder dos líderes locais e para as tradições ancestrais indígenas. A Portas Abertas está presente por lá, dando apoio aos cristãos que precisam. “Vocês valem muito para o Senhor, e a presença de vocês em nosso país tem nos ajudado muito. Pela graça de Deus, hoje eu sou um homem livre e Deus tem me usado nos lugares onde eu mais causei danos aos meus irmãos na fé e ele mesmo tem me protegido. Eu agradeço a cada um de vocês e louvo a Deus pela oportunidade de pregar o evangelho, o que para mim tem sido uma missão e uma honra”, finaliza ele.
Para a Portas Abertas, o que se destacou na visita do Jasar foi, acima de tudo, a própria vida dele, a dependência e obediência total a Deus, a profunda intimidade, autoridade e unção espiritual sobre ele que vem do alto. Além disso, a alegria que ele possui apesar de tudo que o rodeia; morte, perseguição, sofrimento, necessidades pessoais, ele ainda assim consegue emanar de dentro para fora uma alegria única, o que é muito impactante e chega a constranger quando pensamos na vida que ele leva e na vida que levamos.
*Nome fictício para preservar identidade