Da Redação JM Notícia
Professores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio da Fundação Friederich Ebert, realizaram uma pesquisa qualitativa na Marcha para Jesus de São Paulo colhendo informações para traçar um perfil sobre as opiniões mais comuns do segmento evangélico.
As perguntas feitas levaram em consideração as “identidades políticas, guerras culturais e posicionamento frente a debates atuais sobre política” dos entrevistados.
Quanto a identificação política, a pesquisa notou que a maioria (66,5%) afirma não se reconhecer nem de direita (10,1%), esquerda (6%), centro-direita (3,3%), centro-esquerda (1,9%) ou de centro (1,2%).
Quase a maioria, 45,5% se declarou “muito conservador” e “muito antipetista”, e em outra resposta 76,9% afirmou que não se identificam com nenhum partido político.
O mesmo grupo declarou ainda que tem pouca confiança nos políticos evangélicos, inclusive com nomes importantes deste cenário como a ex-senadora Marina Silva, da Rede (57%), o pastor e deputado federal Marco Feliciano, do PSC (54,1%), e o prefeito do Rio Marcelo Crivella, do PRB (53,9%).
Ainda sobre desconfiança, 83,7% dos evangélicos não confiam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 61,4% não confiam no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e 57,4% não confiam no deputado Jair Bolsonaro.
Fiéis e lideranças pensam diferente, afirma pesquisadora
Uma das coordenadoras da pesquisa é a socióloga Esther Solano que declarou que as respostas da pesquisa é dissonante do posicionamento das lideranças evangélicas.
“O nível de confiança da base em algumas das lideranças evangélicas mais representativas é muito baixo. Sobre casos como o dos pastores Marco Feliciano e Marcelo Crivella, ouvimos que a pessoa confia nessas figuras ‘como pastor, não como político’. Isso demonstra um descolamento: são lideranças representantes dos evangélicos, mas não são reconhecidas por eles”, declarou.
Outro assunto que não há concordância entre as lideranças e os fiéis é sobre a Reforma da Previdência. Enquanto muitos pastores apoiam a proposta de Michel Temer, 86,6% dos entrevistados acreditam que “quem começou a trabalhar cedo deve poder se aposentar cedo sem limite mínimo de idade”.
A socióloga acredita que pesquisas como esta servem para ajudar a compreender os evangélicos, grupo que tem muita representatividade na política por ser quase 30% da população brasileira.
“Estudar os evangélicos é fundamental para compreender o Brasil –é um grupo que tem crescido muito em número e também em simbologia, à medida em que a igreja evangélica se configura como grande fator de sociabilidade, sobretudo, na periferia. Ela se transformou em uma instituição fundamental nas periferias brasileiras – e evidentemente, tem ganhado cada vez mais capital e poder político”.
Evangélicos se identificam com pautas conservadoras, mas prezam pelo respeito às minorias
Outros dados coletados nessa pesquisa mostram que os evangélicos apoiam pautas conservadoras como valores morais, maior punição aos criminosos e outros.
- “A escola deveria ensinar a respeitar os gays” (77,1%)
- “Os valores religiosos deveriam orientar as leis” (75%)
- “Menores de idade que cometem crimes devem ir para a cadeia” (83,7%)
- “Precisamos punir os criminosos com mais tempo de cadeia” (76%)
- “O bolsa família estimula as pessoas a não trabalhar” (74,2%)
O mesmo grupo discorda de temas como a liberação do aborto (73,1%), liberação da maconha (82,9%), uso de banheiro feminino por transvestis (67,4%) e do porte de armas (65,5%).