O escritor Adalberto Menezes, idealizador do projeto EBD Importante, que conta com quase 20 mil seguidores, publicou uma análise em resposta à interpretação do pastor Altair Germano sobre a variante textual de Mateus 20:16. Menezes é estudioso da teologia e autor do livro A importância da Escola Bíblica Dominical, que será lançado em breve.
A controvérsia gira em torno do trecho final do versículo, “porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. Em publicações recentes nas redes sociais, o pastor Altair Germano, um dos principais ensinadores das Assembleias de Deus no Brasil, concluiu que essa passagem não consta nos manuscritos originais do Novo Testamento, conforme evidências do Texto Crítico, base para versões como a Nova Almeida Atualizada (NAA). Germano argumenta que a frase provavelmente foi adicionada por copistas e defende que a variação textual não compromete a doutrina da inspiração e inerrância bíblica.
Em contrapartida, Adalberto Menezes refutou a análise do teólogo pentecostal, defendendo que o trecho é inspirado e parte do texto autógrafo. Ele destacou que cerca de 98,5% dos manuscritos gregos disponíveis, pertencentes à tradição do Texto Majoritário e do Texto Recebido, incluem o final de Mateus 20:16, enquanto apenas 1,5% seguem a omissão apontada pelo Texto Crítico, apoiado nos manuscritos do Codex Sinaiticus e Codex Vaticanus.
Menezes reforça que a metodologia do Texto Crítico é questionável para conservadores, pois se baseia em um número limitado de manuscritos egípcios, ignorando o amplo testemunho das cópias majoritárias. Ele critica a visão de que as variações textuais não afetam a inspiração das Escrituras, argumentando que omissões comprometem doutrinas centrais, como a preservação providencial da Palavra de Deus.
Em seu artigo, o escritor encerrou reafirmando a importância de tratar a crítica textual com responsabilidade, respeitando as evidências da tradição majoritária e a crença conservadora na inspiração plenária e verbal da Bíblia. Para ele, declarar que o texto não é inspirado equivale a “rasgar as Escrituras”.
“Não faz sentido Deus ter inspirado as palavras, sem tê-las preservadas todas nas cópias sobreviventes. E por mais que encontremos variantes, com a ajuda da crítica textual e da escola mais próxima da nossa posição conservadora é possível sim mapearmos a redação original, com base na maioria das evidências. Devemos tomar cuidado ao se fazer crítica textual e eliminar versos sem averiguar o que diz a maioria das evidências. Não existe um cânon dentro de um cânon. A teoria da inspiração parcial prega isso. Dizer que o final de Mateus 20.16 não faz parte do original é literalmente RASGAR AS ESCRITURAS. Reafirmamos com base nas evidências manuscritas, que este texto É INSPIRADO E FAZ PARTE DO AUTÓGRAFO. O texto crítico não é uma boa alternativa para teólogos conservadores, a não ser que se queira retirar versos com a premissa errada de que variantes não afetam a inspiração e a preservação.
Conclusão: O texto faz parte do original.
Passar bem, Paz do Senhor.
-Adalberto Menezes“
Leia na íntegra -Pastor Altair Germano
As Origens e Diferenças Textuais do Novo Testamento das Versões Almeida Revista e Corrigida (ARC) e Nova Almeida Atualizada (NAA) – Parte 4
Mateus 20.16 (ARC)
Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.
Mateus 20.16 (NAA)
Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.
Como se percebe, a versão Nova Almeida Atualizada (NAA) não menciona no final de Mateus 20.16 as palavras “porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (gr. πολλοὶ γάρ εἰσιν κλητοί ὀλίγοι δὲ ἐκλεκτοί).
Tais palavras, segundo os eruditos, devem ter sido adicionadas ao final desse versículo, provavelmente, por copistas que se lembraram de outra parábola que termina com as mesmas palavras (Mt 22.14). É considerado pouco provável, que essas últimas palavras de Mateus 20.16 sejam parte do original e foram omitidas acidentalmente por um copista que foi enganado pelo final idêntico das palavras ἔσχατοι e ἐκλεκτοί.[1]
Dessa forma, o Texto Majoritário/ Textus Receptus, de onde parte a tradução da ARC, trazem o final “porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”,[2] enquanto o Texto Crítico, de onde parte a tradução da NAA, omite, seguindo os manuscritos unciais sinaiticus (א) e vaticanus (B).[3]
A evidência dos manuscritos que apoia o texto sem esse acréscimo e a constatação de que, se essas palavras muito significativas tivessem originalmente estado no texto grego, leva a concluir que ninguém teria ousado excluí-las.[4]
O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento (CPAD), afirma que a passagem termina com “muitos primeiros serão derradeiros, e muitos derradeiros serão primeiros”.[5]
No Comentário Beacon (CPAD), nenhum comentário sobre a segunda parte de Mateus 20.16, conforme o texto da ARC, é feito.[6]
No Comentário Devocional da Bíblia (CPAD), acontece o mesmo.[7]
As referidas palavras também não são comentadas no Comentário Bíblico MacArthur,[8] no Comentário Bíblico Vida Nova,[9] no Comentário de Mateus de D. A. Carson,[10] e no Comentário Esperança.[11]
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[1] OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento. Tradução de Vilson Scholz. Barueri, SP: SBB, p. 33.
[2] GOMES, Paulo Sérgio. Novo Testamento interlinear analítico: texto majoritário com aparato crítico. 2.ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 82.
[3] O Novo Testamento Grego. Quinta edição revisada. Barueri, SP. SBB, 2018, p. 62.
[4] ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. O texto do Novo Testamento: introdução às edições científicas do Novo Testamento Grego bem como à teoria e prática da moderna crítica textual. Tradução de Vilson Scholz. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p. 317,318.
[5] SHELTON, James B. Mateus. In: ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário bíblico pentecostal: Novo Testamento. Tradução de Luís Aron de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 112,113.
[6] EARLE, Ralph. Mateus. In: EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood; CHILDERS, Charles L. Comentário bíblico Beacon: obra original. V. 6. Tradução de Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 141.
[7] RICHARDS, Lawrence O. Comentário devocional da Bíblia. Tradução de Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 582.
[8] MACARTHUR, John. Comentário bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo a versículo. Tradução de Eduardo Mano [et al]. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019, p. 1128.
[9] FRANCE, R. T. Mateus. In: CARSON, D. A. [et al]. Comentário bíblico Vida Nova. Tradução de Carlos E. S. Lopes [et al]. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 1398.
[10] CARSON, D. A. O comentário de Mateus. Tradução de Lena Aranha e Regina Aranha. São Paulo: Shedd Publicações, 2010, p. 500.
[11] RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus: comentário esperança. Tradução de Werner Fuchs. Curitiba, PR: Editora Esperança, 1998, p. 334-337.