Da Redação JM
Após a vitória de Jair Bolsonaro, alguns temas que ficavam escondidos a gosto da grande mídia vieram à tona e o que se tem visto é que a onda conservadora tem lutado novamente para ter seu espaço respeitado na mídia. Esse efeito tem causado prejuízo ao grande grupo da Rede Globo. É o que informa um jornalista que analista a TV no Brasil.
Globo em queda
Os números conquistados pelos concorrentes da Globo na última quinta-feira (22), quando nove programas do canal perderam a liderança, podem, intrigantemente, sinalizar um movimento maior que apenas um avanço de atrações do SBT, mas a ausência de uma grade que gere identificação maior com o conservadorismo, tendência crescente em todo o mundo. Antigamente, o canal da família Marinho atingia mais de 80% na preferência dos telespectadores. E isso permaneceu durante anos. Porém, nesta semana, houve um blackout na audiência. A Globo enfrentou uma quinta-feira de terror e deu sinal que o modelo da atual grade precisa passar por profundas modificações artísticas, e me arrisco dizer, até ideológicas.
“Jornal Hoje”,”Vídeo Show”,”Malhação”,”Espelho da Vida”,”Os Melhores Anos das Nossas Vidas”,”Jornal da Globo”,”Conversa com Bial”, “Empire” e “Corujão” perderam a liderança na Grande São Paulo.
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Perder para Record TV e SBT no horário nobre é um espanto para a Globo. Pelo seu desempenho na audiência, é nítido que existem problemas artísticos e de execução nesses projetos que perderam a liderança. Mas paralelamente a isso, esse cenário pode ser reexo de um fenômeno que vem ocorrendo na sociedade em todo o mundo: a retomada do conservadorismo das classes média, média alta e baixa, que comandam o mercado de consumo. Um movimento que pode não estar encontrando seu reexo dentro da programação da Globo. No país, a eleição de Jair Bolsonaro refletiu nas urnas a força dessa nova onda conservadora e também de direita que surge. Os defensores e militantes das redes sociais do então candidato à presidência da República apontavam que o canal produzia uma grade que agredia a família tradicional e era esquerdizante.
Fórmula do sucesso
Claro que não basta apenas exibir um conteúdo conservador pra conquistar altos números na medição da Kantar Ibope, a qualidade e a correta produção do programa ainda são alguns dos fatores relevantes para o sucesso.
A prova disso é a novela bíblica, da Record TV, que neste momento poderia ser um sucesso estrondoso de audiência. Só não é, pelo motivo de não estar sendo bem produzida. Do outro lado, no SBT, a história singela de “Aventuras de Poliana” conquista médias bem superiores e vem tirando preciosos pontos da novata “O Sétimo Guardião.
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Esse movimento de entender o mercado de consumo aconteceu com a Globo entre 2015 e 2016. A emissora exibia “Babilônia”, que retratava o romance de duas mulheres da terceira idade, que em seguida, foi sucedida no horário pela violenta “A Regra do Jogo”. Os produtos tiveram rejeição e o público se debandou para a Record TV, onde encontrou uma linguagem de identificação na trama de “Os Dez Mandamentos”. A Globo percebeu essa mudança sociológica no telespectador e estreou às 21h a rural ‘Velho Chico”, e no horário das seis, escalou a ingênua “Êta Mundo Bom”, essa última uma das maiores audiência em sua faixa.
Se não mudar…
Para buscar soluções e enfrentar seu apagão na audiência, a emissora precisa fazer essa nova autoavaliação. Mas parece que está faltando conhecimento de quem está atrás da mesa na alta cúpula da emissora. Falta o Boni. A sensação de quem acompanha os bastidores da televisão é que estão produzindo novelas e shows com conteúdos que interessam apenas aos diretores e seus interesses e não os da donas de casa, que comandam o caminho da audiência na TV aberta. Não bastará à Globo fazer um novo ataque agressivo ao elenco das outras emissoras, como fez no início dos anos 2000, para estancar sua decadência como líder. Vai além. A onda conservadora precisa ser entendida não apenas como um fenômeno nas urnas, mas com uma tendência no comportamento de uma sociedade que consome cultura e também busca entretenimento na televisão. Se a Globo não entender isso, pode enfrentar uma fuga ainda maior na sua audiência. Quando este cenário for parâmetro técnico para a nova divisão de verba publicitária, o futuro pode ficar ainda mais nebuloso.