Por pastor Esdras Costa Benhto
No Antigo Testamento o substantivo beijo, do hebraico neshîqâ, procede de uma raiz primitiva (nashaq) cujo significado básico é pegar fogo, queimar, acender, com a ideia de fixar, amarrar. No hebraico, o verbo beijar significa literalmente tocar levemente. No grego do Novo Testamento, o vocábulo para beijo deriva-se de phileo, amor, amizade, afeição.
O dia do beijo é comemorado nesta segunda-feira, 13 de abril.
O beijo era um costume presente em diversas situações e com significados variados, a saber: No círculo familiar era uma forma de carinho e afeto entre os parentes (Gn 31.28; Rt 1.9). O beijo também era símbolo da adoração e devoção religiosas falsas (1Rs 19.18). Nos relacionamentos entre as pessoas era símbolo de respeito (Êx 4.27; 1 Sm 10.1), saudação (Gn 29.13; 2Sm 19.39), lealdade e dignidade (2 Sm 19.39), lamento (Gn 33.4; Rt 1.14), traição (Mt 26.49), mas também de amor entre os cônjuges (Ct 1.2; 8.1).
A Bíblia também o descreve como expressão da concupiscência e da sedução ao pecado (Pv 7.13). Ele representava também a maior expressão do amor romântico, de acordo com Provérbios 24.26, como também do amor fraterno entre os membros da igreja de Cristo (Rm 16.16). A Bíblia refere-se ao beijo nos lábios (Pr 24.26), nas mãos (Jó 31.27), nos pés (Lc 7.38,45),…
Na literatura poética de Cantares, o beijo romântico é melhor do que o vinho (Ct 1.2) e se faz acompanhar de odores e sabores (Ct 1.2,3; 2.3; 4.3; 5.13; 7.9).
Como afirmara Ben Johnson
“Deixa um beijo no cálice para mim,
E não solicitarei vinho”.
A combinação de mel e leite e o cheiro dos pós aromáticos tornavam o beijo dos amásios mais apreciável (Ct 3.6 ver 4.11). Para eles, o amor é uma combinação de aromas e sabores. É a própria personificação do “amor em delícias” (Ct 7.6).
Junto aos elogios à compleição física dos amásios estava a apreciação da beleza e sedução dos lábios: “os teus lábios são como um fio de escarlata, e tua boca é formosa” (Ct 4.3;1.2); cantava o amado. Ele não apenas elogia as sábias palavras dos lábios de sua amada, como faz a ARC, mas inclina-se à tentação carnuda dos lábios da parceira.
Declamava Ovídio
“Ele viu os lábios dela,
uma coisa tão doce”.
Os dentes sempre alvos, perfeitos (Ct 4.2; 6.6), destacavam a pureza e a apreciação pelos lábios dos amásios. É o amor na estação da primavera, com todo frescor e vitalidade da estação (Ct 2.11-13; 7.13). Eis, portanto, o beijo como símbolo da paixão, do amor, do eros. O beijo envolve algumas zonas erógenas do corpo, o que significa que ele é um canal ou fonte de prazer, que estimula a libido dos amásios. Provérbios 6.28 a esse respeito é categórico: “Andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés”?
Todavia, o beijo nos lábios de outrem poderia ter um propósito distinto. O beijo de Jacó ao encontrar-se com Raquel, segundo Gower, foi nos lábios (Gn 29.11), assim como o de Judas, o traidor, no Getsêmani (Lc 22.48). Ambos demonstravam afeição, cortesia, no entanto, distinguiam-se quanto ao propósito.
Embora o beijo estivesse presente na cultura do Antigo e Novo Testamentos, parece-me que publicamente a troca de carinho ou carícias entre namorados ou noivos de famílias piedosas não era facilmente tolerado. Digo publicamente, porque o homem sempre foi um transgressor das normas, costumes e tradições humanas.
Durante a ocupação de Canaã, principalmente da Conquista ao final do tempo dos juízes, temos poucas referências ao beijo. Acredito que os hebreus procuravam manter a discrição, para contrastar com a imoralidade e licenciosidade pagãs presente no Antigo Testamento, como afirmo em meu livro A Família no Antigo Testamento.
Publicado originalmente em Teologia e Graça