Dados do Censo do IBGE, mostram que existem grupos que se dividem quando o assunto é “a não religião”. Temos os sem-religião que são ateus (3.98%); os sem-religião que são agnósticos (0.87%), e os que apenas não possuem uma religião (95.15%), e nem por isso são adeptos do ateísmo ou gnosticismo. Isso nos leva a observar que as pessoas que possuem fé, assim como também afeto pela religião, podem fazer parte deste grupo apenas chamado de sem-religião, uma vez que se compreende que não é necessário ter uma liturgia cúltica desenhada dentro de uma religião para se ter fé.
O teólogo explica que essa parcela de 95,15% das pessoas que se declaram sem-religião é composta por indivíduos que cultivam uma espiritualidade afastada das instituições religiosas. Esse fenômeno no Brasil ficou conhecido como “os desigrejados”. A ideia dessa percepção de espiritualidade é construída em paralelo da religião, uma vez que dentro dessa consciência, a espiritualidade é autônoma, individualizada e desinstitucionalizada.
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“A fé como um fenômeno natural trabalha o indivíduo nas suas crenças e valores, para que ele seja um ser humano melhor, dotado e ética e moralidade. Porém, a fé como um fenômeno sobrenatural trabalha a coletividade do ser humano multifacetado, e por isso ela é conhecida apenas na comunhão relacional. Ou seja, é no convívio com outras pessoas que a nossa fé vai amadurecendo e deixando de ser apenas um extinto de conveniência e sobrevivência. Eu sinceramente acredito que nossa maior falta como seres humanos seja de uma fé madura”, comenta o teólogo Rodrigo Moraes.
Mesmo a fé sendo um fenômeno coletivo, os motivos para possuir ou não uma religião são indiscutivelmente individuais. O respeito deve estar sempre presente em todas as relações que buscamos estabelecer em nossa busca por sentido. Caso contrário, estamos falando de intolerância religiosa, algo que precisa acabar urgentemente em nossa sociedade.
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“Ao contrário do que pensa o senso comum, as pessoas que perdem o interesse pela religião, não são apenas pessoas com o nível escolaridade e cultura elevados, mas uma boa parcela da população tem migrado sua rotina religiosa para uma consciência de espiritualidade individualizada, e deixando de ver as instituições religiosas como um caminho necessário para busca do divino. E essa inclinação foi muito acelerada durante a pandemia do corona vírus, uma vez que a frequência das celebrações nos templos religiosos foram diminuídas ou em alguns casos, canceladas totalmente. O lado ruim dessa história é que a longos passos permanecemos cultivando uma fé pessoal, que em nada contribui com o nosso próximo, e, portanto, é apenas extintiva e conveniente, quando deveria ser inclusiva, ativa e solidária”, conclui o teólogo Rodrigo Moraes.
Rodrigo Moraes é escritor, bacharel em Teologia e pós-graduado em Teologia e Ministério. Atua como Reitor do Seminário Teológico Mosaico e como presidente do Instituto Reino do Bem e possui mais de dez livros publicados, sendo o último, sucesso de vendas, intitulado: Música, Arte e Adoração