As memórias do petroleiro aposentado estão espalhadas por esta aldeia da Síria onde ele cresceu. A capela na qual se casou. A igreja que ajudou a construir, que enchia de fiéis nos dias santos. A comunidade de famílias cristãs assírias que viviam lado a lado havia gerações. Agora a aldeia é habitada por fantasmas.
A igreja é um monte de escombros, o campanário e a cruz foram derrubados. As ruas de terra estão coberta de vegetação, só cachorros sem dono as percorrem. A maioria das casas está vazia, seus proprietários agora estão na Alemanha, na Austrália, nos Estados Unidos ou em outros países.
“Todas as habitações viviam cheias de gente”, disse o petroleiro, Ishaq Nisaan, 79. “Agora na minha rua, só sobramos eu e o meu vizinho”.
O mesmo destino sofreram outras aldeias, onde os cristãos assírios, uma das muitas minorias religiosas da Síria, desde sempre cultivavam a terra e criavam animais ao longo do Rio Khabur, no nordeste do país.
O Estado Islâmico atacou a região em 2015, sequestrando mais de 220 moradores. Os jihadistas foram expulsos meses mais tarde pelas forças curdas e por combatentes locais, e soltaram a maioria dos presos depois de receberem resgates exorbitantes.
Mas antes de partir, os terroristas islâmicos demoliram muitas das igrejas da região, e quase todos os cativos libertados, juntamente com suas famílias e vizinhos, foram embora desde então.
“A vida aqui é muito boa, mas não há gente”, disse Ramina Noya, 23, uma funcionária da prefeitura local. Ela ficou, mas a maioria dos seus parentes está nos Estados Unidos.
Sete anos de guerra provocaram o deslocamento de metade da população da Síria e mandaram milhões de refugiados para o exterior. Enquanto o governo do presidente Bashar al-Assad retomar o território dos rebeldes, algumas pessoas poderão retornar.
Mas outras comunidades, como Tel Tal, ficaram tão traumatizadas que talvez nunca consigam se recuperar, deixando vazios permanentes no tecido social da Síria.
O número de cristãos em todo o Oriente Médio vem declinando há dezenas de anos porque a perseguição e a pobreza provocaram uma grande migração. O EI considerava os cristãos infieis e os obrigava a pagar impostos especiais, acelerando a tendência na Síria e no Iraque. Nesta região da Síria, o êxodo foi rápido.
Cerca de dez mil cristãos assírios viviam em mais de 30 aldeias antes do início da guerra, em 2011, e havia mais de vinte igrejas. Agora, restam cerca de 900 pessoas e apenas uma igreja realiza as funções religiosas regularmente, disse Shlimon Barcham, um funcionário do templo.
Com informações Estadão