Nesta terça-feira (11), chega ao fim mais um Ramadã. Após um mês jejuando diariamente, muçulmanos de todo o mundo celebram a ocasião com grandes banquetes em que convidam vizinhos e amigos para compartilhar o ftur (desjejum). A pandemia da COVID-19 não permitiu a realização das festividades tradicionais como em anos anteriores. O encerramento do Ramadã é um dia de feriado nacional nos países islâmicos, correspondente ao Natal para os cristãos. Para muitos cristãos que vivem em contexto de maioria islâmica, o Ramadã representa um período em que enfrentam uma perseguição ainda mais intensa.
Leah*, que está em seus 30 anos, vive com o marido e seis filhos na zona rural no Nordeste do Quênia. A família é cristã há menos de dois anos e, na vizinhança, não há nenhuma outra família cristã. “Nós enfrentamos grande perseguição. Os vizinhos nos chamam de infiéis e se recusam a comer qualquer coisa que tenhamos tocado. Falam que quando morrermos ninguém vai nos enterrar”, Leah disse.
No ano passado, durante uma importante celebração muçulmana, Leah teve que lidar com o terrível sofrimento que só um pai pode sentir quando o filho sofre. A filha mais velha, Hubba*, que tinha acabado de entrar na adolescência, foi violentada sexualmente. Isso aconteceu quando vizinhos muçulmanos convidaram Leah e a família durante o festival muçulmano Eid al Adha, que ocorre após o final do Ramadã. O convite não foi feito pelos vizinhos porque queriam fazer amizade, mas por ser uma forma de receberem o favor de Alá.
Como Leah e o marido tinham outros compromissos, permitiram que Hubba fosse. Para o espanto deles, um rapaz usou a oportunidade para violentar Hubba. Quando a menina gritou, os vizinhos vieram ao resgate. O rapaz tentou escapar em um carro, mas pessoas o pegaram.
Em seguida, os anciãos da comunidade tentaram lidar com isso da “forma tradicional”, fazendo a vítima se casar com o responsável. “Os anciãos queriam que os dois se casassem porque a garota perdeu seu ‘tesouro’”, Leah explica. Além do horror da situação, Leah sabe que é comum a esposa ter que seguir a religião do marido. Por isso, estava mais do que determinada a se manter firme. “Eu não queria que aquilo acontecesse com a minha filha. Nós somos cristãos e tudo aconteceu por esse motivo. Eu não posso permitir que minha filha se case com um muçulmano”.
Um cristão que ouviu sobre o ocorrido fez uma denuncia à polícia local e notificou parceiros da Portas Abertas. Isso fez com que o agressor fosse levado sob custódia e permanecesse lá até o julgamento. A Portas Abertas ofereceu apoio legal.
Recuperando a alegria
Após o ataque, Hubba ficou muito depressiva. Parceiros da Portas Abertas aconselharam que Hubba fosse tirada daquele ambiente por um tempo. Ela ficou com um pastor e sua família por um período em que recebeu apoio para obter a cura física, emocional e espiritual, longe do julgamento dos vizinhos e outros curiosos. Dessa forma, ela fez grandes progressos na recuperação de sua alegria.
No começo, ela não se unia aos demais cristãos nos cultos da igreja doméstica, apenas ouvia tudo do quarto. Mas com o cuidado amoroso da esposa do pastor, ela percebeu que o ocorrido não foi culpa dela. A mulher deu a Hubba algumas roupas novas e a ajudou a cuidar do cabelo. Hubba começou a comer e se envolveu nas tarefas domésticas.
Apesar disso, a vida nessa parte do mundo é difícil. Por ser a filha mais velha, a presença de Hubba era necessária na propriedade e na fazenda. Por isso, ela teve que voltar. Contudo, Hubba visita a família do pastor sempre que possível. E os cristãos também tentam visitar a família dela regularmente. Isso tudo tem sido um grande testemunho. “As pessoas estão dizendo que os cristãos amam uns aos outros. Alguns vizinhos veem como os cristãos têm nos amado e apoiado”, disse Leah.
“Eu sou muito grata aos companheiros cristãos que permaneceram comigo durante esse período. Apesar de estarmos sozinhos aqui, quero que esses muçulmanos conheçam a Deus para que haja muitos cristãos para glorificarem ao Senhor conosco.”
Confiança em Deus
Leah permaneceu forte na fé mesmo em meio ao sofrimento. “Sabemos que Deus está conosco e não estamos com medo. Ele é o único que dá a vida e tira. Embora eles abusem de nós, sabemos que somos diferente deles. Nós perseveramos. Nossa confiança está em Deus. Não temos ninguém que possa nos ajudar como ele.”
Ela concluiu: “Eu agradeço por permanecerem comigo quando isso aconteceu. Até hoje vocês ainda me ajudam no tribunal. Eu não tenho nada para oferecer além de gratidão. Deus esteja com todos vocês. Deus os abençoe. Quando recebi a ajuda de vocês, esqueci toda a dor que estava em meu coração. Vocês não nos deixaram sozinhos. Simplesmente se aproximaram e nos ajudaram em meio a tudo isso”.
Mesmo em meio a tudo isso, Hubba sonha em se tornar uma professora. Nesse contexto, isso não será fácil, já que a família vive na zona rural. Apesar disso, a Portas Abertas busca uma solução que seja realista e viável a longo prazo.
Você pode ajudar
O período do Ramadã chegou ao fim, mas você ainda pode fazer a diferença na vida de cristãos que vivem em países de maioria islâmica. Sua oração pode alcançá-los instantaneamente. Não sabe bem pelo que orar? Então o Mapa de Oração disponível nesse link oferece 30 motivos para interceder por nossos irmãos e irmãs que enfrentam o peso da perseguição durante o Ramadã.
Além disso, você pode doar para campanhas da Portas Abertas que auxilia mais de 340 milhões de cristãos perseguidos em mais de 60 países em que seguir a Cristo pode custar a vida.