Por João Abrantes
Pressuponho que em algum lugar ou de alguma forma essa expressão já foi ouvida por você “PÃO E CIRCO”. Ademais, essa máxima tem sua origem nas narrativas da política dos césares romanos, justamente no momento do ápice de seus governantes. As crônicas trazem a memória à situação social em Roma durante o período da República, que era extremamente tensa e devastada pela corrupção, desgoverno e o descrédito nos poderes constituídos, chegando ao incontrolável, e não é mera coincidência, mas um pouco parecido como que vivemos atualmente em nossa república.
Uma pequena parcela da população detinha muita riqueza, chamada de alto clero, em consequência das guerras de expansão territorial e exploração do trabalho escravo. Porém, a maioria da população romana vivia na pobreza, miséria, em péssimas condições de vida geradas pela malversação do erário público. Para conter distúrbios sociais, o estado romano criou a política do Pão e Circo, um pouco parecido com fórmula genérica “DESENVOLVIDA” aqui no Brasil e com suas intermináveis derivações, pois o “alimento esmolado ao povo dá aos governantes a postulação de agir como verdadeiros saqueadores”.
De modo constante ocorriam lutas envolvendo gladiadores nos estádios, sendo o Coliseu o mais conhecido de todos por sua arquitetura e imponência ao resto do mundo. Durante as lutas o povo era “gentilmente” alimentado, e isso nos retoma a passagem bíblica em que Jesus multiplicou os pães e alimentou multidões de famintos (Mc. 8:1-8). Enquanto se divertiam com o show de horrores e ao mesmo tempo se alimentavam de modo precário, contudo a multidão ficava “domada” inebriada pela glutonaria insaciável. Mesmo estando mal alimentado e podendo curtir um entretenimento raso, o povo se contentava e não haveria preocupações relacionadas à massa para que os poderosos viessem a ter incômodos.
Traduzindo isso para o contexto bíblico, é sabido por todos cristãos que vivemos dias difíceis e turbulentos no aspecto evangélico. Uma política religiosa detentora do pseudo “teoria da prosperidade, práticas judaizantes, modismo, heresias e movimentos similares”. Verazmente surgiram falsos mestres ou pop star gospel engodada pela ganância do poder, enriquecimentos ilícitos e praticas imorais, como bem diz o Apóstolo Paulo em sua carta aos irmãos da igreja em Éfeso, enviada do jovem pastor Timóteo “Sabe, entretanto, disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens amarão a si mesmos, serão ainda mais gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desrespeitosos aos pais, ingratos, ímpios”. (II Tm. 3:1-2)
É triste, mas é verdade afirmar que entre os cristãos, não parece haver uma unidade quanto ao verdadeiro Deus, quanto ao entendimento da sua natureza, quanto ao que nos foi revelado na Escritura e pelo o Espírito Santo; e a maioria se sente constrangida quando tem de dar explicação a uma passagem em que Deus pune, disciplina, condena. O objetivo é um só: “glorificar o homem, e usar o nome do Senhor como uma espécie de muleta na qual os seus infames propósitos de poder, glória e riquezas realizar-se-ão”. Não há nada de espiritual neles, apenas a carne gritando como louca, seduzindo a si mesma, na manifestação mais doentiamente possível da corrupção, rebeldia e irregeneração mental do homem caído e seduzido pelo espírito do anticristo.
Por longos anos e de forma reiteradas nos últimos dias, o que vemos são mesmo servos fiéis, mentes brilhantes, teólogos, pastores, missionários e outros trabalhadores dedicados à seara de Cristo, são apanhados na teia maligna de distinguir os atributos divinos em dois grupos: Os facilmente detectáveis, e com os quais se tornará menos difícil manter um discurso agradável aos ouvidos impuros (questões como o amor, a bondade e benignidade divinas são reciclados de maneira tão antagônicas à revelação escriturística que se tornam em distorções da sua natureza). E aqueles com os quais se deve manter distância, quando muito citá-los rapidamente a fim de não serem notados pelo ouvinte, e nem seja necessário dar explicações que denunciarão a inclinação viciosa da pregação (II Co. 11:13). Poder-se-ia chamar de negligência, omissão, se não fosse um estratagema maroto e cínico de se ocultar a verdade.
É por isso que se está a criar uma geração de crentes fracos, alimentados a PÃO E CIRCO, incapazes de responder ao mundo a razão da fé cristã. Lentamente vemos uma inversão de valores onde pessoas amam coisas e usam pessoas. Vivemos em uma geração incrédula, rebelde, pecadora, cheia de “modinhas”, cheias de si, vazias de Deus; longe de Deus. O errado hoje é tido por certo ou o famoso “normal”. Se esqueceram de Deus, daquilo que Ele ensina e requer de cada um de nós. A palavra de Deus diz: “Eles vão para a destruição no inferno porque o deus deles são os desejos do corpo. Eles têm orgulho daquilo que devia ser uma vergonha para eles e pensam somente nas coisas que são deste mundo.” (Filipenses 3:19 NTLH). Assim, se limitam a ecoar os ditames seculares da tolerância, da contemporização, quando a sociedade é completamente intolerante e intransigente quanto a Cristo e Sua palavra. Que se pregue o Evangelho da verdade, em sua totalidade, não aquilo que pode ser conveniente e falsamente interpretado como a completude da revelação, quando não passa de um fragmento descontextualizado em que uma mínima parte verdadeira é reunida a uma maioria mentirosa e, assim, utilizada para construir e validar um complexo falacioso. E livremo-nos definitivamente do evangelho capenga do deus falseado, para se viver a verdade santa e objetiva da Palavra do Deus Vivo, e que o alimento genuíno da palavra seja o cotejar em nossas almas a cada dia. (Rm. 12:1-2)
JOÃO ABRANTES, Pastor, pós-graduado em políticas públicas, bacharelando em direito, teólogo, professor, palestrante. Email: joaoabrantess@hotmail.com
https://jmnoticia.com.br/2019/01/08/fofoca-o-mal-do-seculo-por-joao-abrantes/