Coreógrafo da Gaviões da Fiel se defende após polêmica com diabo “vencendo” Jesus

Da redação JM

Comissão de frente da escola de samba Gaviões da Fiel, durante desfile no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP) – 03/03/2019 (Levi Bianco/Brazil Photo Press/Folhapress)

Já na madrugada do domingo 3, a Gaviões da Fiel entrava para os trending topics (a lista de assuntos mais comentados) do Twitter por causa de seu desfile no Carnaval de São Paulo. O país criticou a escola de samba por uma representação em sua comissão de frente que mostrava Jesus sendo ‘vencido’ pelo diabo. Na segunda-feira 4, a Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados repudiou o desfile, afirmando que ele havia desrespeitado a figura de Jesus e “escarnecido” da fé cristã. Coreógrafo responsável pela coordenação da comissão de frente da Gaviões, Edgar Júnior afirma que a ideia era justamente o contrário: mostrar que, apesar dos testes diários, a fé é o caminho a ser seguido.

“O personagem do diabo está ali para testar a fé do Santo Antão”, conta. “O enredo mostra que o diabo perde a batalha para os anjos do bem diversas vezes. Depois disso, ele coordena com as forças do mal e batalha com Jesus, que realmente sofre. Mas, no final, os anjos protegem Jesus e ele aparece forte, abençoa a plateia, os anjos do bem e do mal e até o diabo, porque ele é uma pessoa de luz. Acaba a guerra e ele fala com Santo Antão como a dizer: ‘Não perca a sua fé, sempre vão testá-la, mas estou aqui contigo’. O bem vence no final.”

Edgar afirma que a ideia da representação de Jesus e do diabo era mesmo chocar o público e provocar uma reflexão sobre a fé. “O recado era que todo dia estamos crucificando Jesus aos poucos: quando o marido trai a esposa, alguém pega um troco errado e coloca no bolso, tem um político roubando dinheiro do povo. Isso não é o ensinamento de Jesus”, diz. “A nossa intenção era mostrar que a gente lida com o mal a todo momento. Para fazer as pessoas repensarem um pouco e darem mais atenção às palavras de Deus, que Jesus deixou para a gente.”

Ofensas e fake news

Edgar afirma que componentes da Gaviões da Fiel passaram a ser ofendidos e ameaçados nas redes sociais por causa da repercussão negativa. Houve, ainda, um outro desdobramento: a propagação de uma notícia falsa que diz que o ator que interpretou o diabo no desfile no Anhembi sofreu um acidente de carro e acabou morrendo. “Ninguém zomba de Deus”, diz a publicação compartilhada nas redes sociais que traz a lorota. O coreógrafo afirma que o rapaz vem sofrendo ameaças e que até apagou as redes sociais por causa das críticas, mas que está bem e que a história do acidente não passa de mentira.

Edgar conta que sabia que a imagem da batalha entre Jesus e Satanás era forte, mas não imaginava que fosse se tornar tão polêmica. “O projeto foi mostrado a todos os setores da escola, que aprovaram a ideia. O presidente (Rodrigo Gonzalez Tapia) também sabia e aprovou. Ele com certeza vetaria caso achasse que a representação poderia ofender alguém”, afirma. Tapia é cristão e, na terça-feira 5, momentos antes de começar a apuração do Carnaval de São Paulo, pediu que os presentes da sede da escola fizessem uma oração.