Ao sair da delegacia, em entrevista à TV Globo, disse que tinha ido prestar esclarecimentos “sobre uma menina que veio fazer uma falsa comunicação de fatos”. “Isso me parece que é uma perseguição política. As esquerdas estão aí, querendo derrubar todo mundo, mas nós estamos firmes, com Jesus venceremos”, disse Bauer.
Talma Bauer nega que tenha sido preso. “Não estive preso, não tem crime nenhum, estava aí espontaneamente”.
Nesta sexta, o delegado Luiz Roberto Hellmeister disse que iria pedir sua prisão temporária por sequestro, coação e ameaça (assista abaixo ao vídeo com entrevista do delegado). O policial disse que Bauer nega todas as acusações.
O caso está sendo investigado pelo delegado do 3° Distrito Policial, em Campos Elísios. As denúncias da jovem vieram à tona na terça-feira (2) após serem publicadas pela coluna Esplanada, do UOL. Nesta quarta-feira (3), circularam na internet áudios em que a jovem, identificada como Patrícia Lélis, de 22 anos, diz que foi abusada sexualmente pelo deputado Marco Feliciano.
No áudio que teria sido gravado pela jovem, que é estudante de direito em Brasília, tem 22 anos e milita no PSC, ela conversa com um homem que seria o chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, e relata o assédio sexual que teria sofrido nas mãos do parlamentar.
Na gravação, Patrícia diz ser vítima de violência cometida pelo deputado: “Com todas as letras, ele deu em cima de mim mesmo de uma forma assim descarada. Me levou a fazer coisas à força, que eu tenho prova disso. Dentro da casa dele, falou que ‘tava tendo reunião na UNE. Pra eu ir pra lá. Cheguei lá, e não tava tendo. Ele não me deixou sair, fez coisas à força. Eu tenho a mensagem para ele: ‘Feliciano, a minha boca ficou roxa’. Ele ri e diz: ‘Passa um batom por cima’. Eu tenho todas essas provas.” O suposto chefe de gabinete sugere “botar uma pedra em cima” das denúncias contra Feliciano.
Depois, a jovem gravou dois vídeos, publicados na internet, em que desmente ter feito qualquer tipo de acusação contra Feliciano. “A todos esses jornalistas que me ameaçaram dizendo que eu tinha que contar a verdade, tô aqui falando a verdade. A verdade é que vocês estão mentindo, tá em época de eleição… O pastor Marco Feliciano é uma pessoa íntegra com a qual eu tenho um contato muito bom, sempre muito bom respeitoso, muito amigável. Então, não propaguem mentiras”, diz Patrícia Lélis em um dos vídeos publicados.
Detenção
A detenção ocorreu após a jovem e sua mãe prestarem depoimento em uma delegacia. Em seguida, policiais civis localizaram o chefe de gabinete e o levaram para prestar esclarecimentos.
Segundo o delegado Luiz Roberto Hellmeister, a prisão foi pedida por conta do risco relatado pela jovem. Bauer a teria ameaçado com um revolver para que gravasse os vídeos. “Foi instaurado inquérito aqui. Vou pedir a temporária porque, peremptoriamente, ela afirma que ele pretendia até ceifar a vida dela, matá-la. Mesmo tendo dúvidas, eu não posso correr o risco de uma desgraça maior ocorrer.”
Ele ainda disse que foram dois vídeos gravados e o terceiro seria feito nesta sexta. “A ameaça foi ostentando uma arma de fogo na cintura, dizendo que, se ela não gravasse os vídeos, poderia ocorrer um mal maior com ela, que seria a morte.”
Sobre o depoimento de Bauer, o delegado afirma que ele negou todas as acusações. “Ele não admite que trouxe dinheiro, não admite que ameaçou ela de morte, que houve um acordo de cavalheiros, mesmo porque tem toda uma conotação política.”
A assessoria de comunicação do partido não confirma a prisão, mas afirma que, “independente do que está ocorrendo, a diretoria do partido determinou a formação de uma comissão composta pelo vice-presidente nacional do partido, ex-senador Marcondes Gadelha, uma representante do PSCmulher e um membro do PSC jovem, para investigar o caso e dar um parecer à executiva nacional o mais rápido possível”.
O G1 tentou falar com Feliciano, mas não havia obtido contato até a última atualização desta reportagem. A reportagem também não conseguiu localizar a jovem. O G1 tentou ainda falar com Talma Bauer, chefe de gabinete de Feliciano, citado no caso.
MP
Nesta semana, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que é procuradora especial da Mulher no Senado, protocolou ofício junto ao Ministério Público do Distrito Federal solicitando que o deputado fosse investigado pela suposta tentativa de estupro.
“A denúncia é mais um caso de assédio sexual, praticado por figura tida como zelador de direitos e garantias individuais, e mais uma demonstração do cenário machista que compõe nosso parlamento e sociedade. O grave relato da estudante que foi pressionada a sair de Brasília evitando um escândalo precisa ser investigado e a culpa atribuída ao autor do fato”, escreveu a senadora no ofício.
Comissão interna
A cúpula do Partido Social Cristão determinou a criação de uma comissão interna para apurar a suposta acusação de assédio sexual e agressão feita por uma jovem ativista da sigla contra o deputado federal Pastor Marco Feliciano, segundo informou a assessoria de imprensa da legenda na quinta.
A decisão partiu do presidente nacional do Partido Social Cristão (PSC), pastor Everaldo Dias Pereira.
A comissão será formada pelo 1º-vice-presidente do PSC, Marcondes Gadelha, pela presidente do PSC Mulher, Denise Assumpção, e um integrante do PSC Jovem e ainda não tem prazo definido para apresentar o resultado da sindicância.