Por Mário Sérgio – A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), a Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (CONAMAD) e a Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB) são instituições congêneres que competem entre si na grande comunidade assembleiana.
A rivalidade entre as convenções não se dá somente na área dos poderes terrenos e eclesiásticos. Há também uma intensa disputa pela memória assembleiana e os símbolos que a representam. Nos últimos anos, essa rivalidade ficou mais explícita, principalmente entre as lideranças da CGADB e da recém-criada CADB.
A saída da CONAMAD da CGADB em 1989 também gerou turbulências. Mas, no campo da memória, o Ministério de Madureira é muito mais direcionado para o mito do pastor Paulo Leivas Macalão, seu fundador e líder por mais de cinco décadas.
Todavia, na década de 1990, Madureira quase sofreu um abalo, quando o pastor da AD em Bangu, Ades dos Santos, procurou desvincular-se da CONAMAD. A manobra, na época, recebeu o incentivo da CGADB, mas foi revertida graças à intervenção do Bispo Manoel Ferreira. Caso o desligamento do campo eclesiástico de Bangu se concretizasse, a CONAMAD perderia a igreja que lhe deu origem num golpe histórico pela perda da primeira congregação de Madureira.
Porém, o caso CGADB e CADB traz muito mais rivalidades no campo da memória. A CGADB é a convenção original fundada em 1930, na esteira do processo de institucionalização das ADs. Mas em Belém/PA está a Igreja-Mãe e o slogan da CADB valoriza (e muito) a história de pioneirismo da AD belenense: “De volta ao lar”.
Aliás, o discurso de a AD em Belém ser a Igreja-Mãe foi continuamente ignorado pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) desde o início da polarização política entre os pastores José Wellington e Samuel Câmara. Nos periódicos da editora, a AD em Belém praticamente não existia mais.
É significativo que com a saída definitiva das principais igrejas do norte da Convenção Geral em 2017, para formar a CADB, a primeira CGADB tenha sido realizada em Ananindeua, cidade da região metropolitana de Belém/PA. E para não ficar atrás em termos de pioneirismo, um painel da Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Pará (COMIEADEPA) destacava a primazia da instituição fundada em 1921, com a frase “berço do pentecoste no Brasil”.
Nesse processo, a busca por apoios simbólicos é fundamental. Na convenção em Ananindeua, a presença do pastor Firmino Gouveia, presidente emérito da Igreja-Mãe, foi marcante para dar maior legitimidade ao grupo da CGADB, pois é símbolo vivo de um período áureo da AD em Belém.
É bom frisar que as duas convenções mantêm acervos e museus. A CGADB faz uso da CPAD em prol de uma produção historiográfica que beneficie os atuais detentores do poder e sustente o programa Movimento Pentecostal. No caso da CADB, a Rede Boas Novas é o principal instrumento para divulgação da CADB.
Que os estudiosos fiquem alertas: a seletividade histórica e seus mitos (Vingren, Berg, Frida e os demais pioneiros) será muito bem instrumentalizada. Engana-se, porém, que essa retórica é nova. Como diz o livro de Eclesiastes “não há nada novo debaixo do sol”.
Fontes:
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
ARAÚJO, Isael de. Frida Vingren: uma biografia da mulher de Deus, esposa de Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. Curitiba: Editora Prismas, 2017.