São Paulo assistiu nesta quarta-feira (4) a uma cena que misturou dor coletiva e devoção. O bispo Samuel Ferreira, líder da Assembleia de Deus do Brás, enterrou Keila, sua esposa por três décadas e parceira de ministério, no Cemitério da Consolação. Aos 52 anos, a bispa morreu no sábado (1º), deixando uma comunidade inteira de luto.
Às 10h, um caminhão dos Bombeiros – escolha simbólica para quem dedicou a vida a “apagar incêndios” sociais – transportou o caixão de Keila. Na cabine seguinte, Samuel, de rosto marcado pela insônia, viajava ao lado dos filhos Manoel e Marinna, a nora e o genro. A cena lembrava as inúmeras vezes em que a família percorrera aquelas ruas para eventos religiosos, mas agora o destino era o silêncio do mármore.
Despedida em dois atos: o velório e o silêncio
Na noite anterior, mais de 5 mil pessoas ocuparam a sede da igreja no Brás. Políticos, pastores de denominações rivais e mães de comunidades carentes – todas unidas pelo afeto à bispa que coordenava sopões e cultos com igual vigor. Mas foi no cemitério que a dor mostrou sua face mais crua: Samuel, de terno preto, permaneceu agarrado ao caixão por 20 minutos. As mãos que seguraram microfones em milhares de pregações agora tremiam ao acariciar o caixão de carvalho.
“Não é um adeus”: a promessa entre lágrimas
Diante do túmulo, o bispo surpreendeu. Com voz rouca, mas firme, liderou uma oração: “Senhor, recebe minha guerreira. Cumpriu a missão“. Os filhos, de cabeças baixas, repetiam “amém” entre soluços.
Trinta anos em um gesto
O casal construía desde 1995 uma das lideranças evangélicas mais ativas de SP. Enquanto Samuel pregava, Keila organizava a rede de assistência social da igreja. Na última Páscoa, distribuíram 8 toneladas de alimentos. “Ela era minha coluna. Sem aviso, Deus a levou, mas a obra continua”, disse o bispo a um pastor próximo, já fora dos holofotes.