Final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. A França acaba de derrotar a Croácia por 4 a 2, no estádio Luzhniki, em Moscou, e conquista o seu segundo título mundial na história. Na cabine de transmissão da TV Globo, o narrador Galvão Bueno exalta o Mundial das grandes viradas, dos imigrantes, e passa o microfone para Casagrande. Emocionado com o momento, o comentarista e ex-jogador revela que aquela era a primeira Copa em que havia permanecido sóbrio.
“Galvão, essa é a Copa mais importante da minha vida! Tive uma proposta de chegar aqui pela primeira vez numa Copa do Mundo sóbrio, permanecer sóbrio e voltar pra minha casa sóbrio”, disparou Casagrande. “Então, eu tô muito feliz”, sussurrou, antes de cair no choro.
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Essa passagem marca o início do livro “Travessias”, o terceiro de uma trilogia sobre a sua vida escrita com o amigo e jornalista Gilvan Ribeiro, que aborda os caminhos que percorreu até se livrar das drogas, a ressocialização depois de anos no vício, as histórias de amor, os dramas e surtos psicóticos e, além de tudo, o apetite pela vida que o levaram a experiências extremas que o deixaram no limite da sanidade e da sobrevivência.
“Não tinha preparado nada. Não imaginava nada. O que aconteceu foi, assim, acabou a Copa, recebeu o troféu e começaram a comemorar, indo para lá, para cá, dar a volta olímpica, a torcida vibrando. Aquilo me emocionou e veio na minha cabeça o que eu tinha falado para a série do Fantástico (programa da TV Globo) que eu ia para a Copa sóbrio, ia ficar sóbrio e ia voltar sóbrio. Que era um objetivo meu. Ali eu percebi que tinha conseguido o meu objetivo. Por isso foi de coração mesmo, foi emocionante, porque eu falei mesmo naquele momento, naquela hora, esse pensamento”, revelou Casagrande em entrevista ao Estadão.
“Travessias” vem depois de Casagrande expulsar seus demônios e contar a sua história de amizade com Sócrates, companheiro de Corinthians na década de 80. No livro considerado mais íntimo dos três lançados, o ex-jogador mostra como nunca antes o seu lado mais humano. Como em um trecho onde expõe o medo e as visões que teve em um dos momentos mais delicados da vida e afirma que viu o demônio dentro da própria casa.
“Comecei a ter visões de demônios na minha casa. Eu via uma sombra no banheiro. Aí, eu ia pra sala, tinha a cara do demônio no sofá. Isso acordado, sem droga nenhuma. Eles começavam a aparecer às seis da tarde em ponto, antes de eu beber. Sentia algo me pegando, me arranhando as costas. (…) Um dia, um demônio passou andando na minha frente; com cara de gente, cabelo amarelo, de calça jeans e tudo. Eu tava muito assustado. Corri pra internet e coloquei a Bíblia falada pelo Cid Moreira. Deu uma apaziguada no ambiente”, conta um trecho do livro.
(Com Isto É)